segunda-feira, março 29, 2010

O PEC, os avisos do BCE e a propaganda estúpida

"Nout Wellink, membro da comissão executiva do BCE, aconselhou ontem Portugal a tomar medidas adicionais para tornar o Pacto de Estabilidade e Crescimento "realmente credível". Na prática, Wellink diz é que aquilo que está escrito no PEC não chega para os mercados nos levarem a sério. Porque lhe faltam soluções estruturais para sanear as nossas finanças públicas. O problema é que cá no burgo ninguém ligou nenhuma às suas palavras: o ministro da Presidência passou o dia a fazer alertas para a necessidade de apoio do PSD à resolução sobre o PEC; Teixeira dos Santos fez o mesmo. Esqueceram-se de que os mercados não olham apenas para as questões formais (mero apoio a uma resolução), mas para a substância: os dois partidos do arco da governação partilham mesmo as soluções previstas no PEC? Ora, como qualquer bicho careta (mesmo que não perceba nada de economia) percebe que não, imagine-se os mercados...

Como se tudo isto não bastasse, o Governo deixou ontem sair a informação de que a Administração Fiscal fez a primeira devolução de IRS. Catorze dias depois da entrega da declaração de rendimento ao Fisco. E logo de quatro mil euros...! Ou seja, para acção de propaganda não está mal: deixa lá ver se acalmamos a malta numa altura em que a Imprensa só fala em redução de benefícios fiscais.

Em qualquer país a sério, coisas como esta seriam interpretadas como uma irresponsabilidade ou uma brincadeira de mau gosto. Por cá ninguém se insurgiu. O que, em si, não deixa de ser um belíssimo retrato do País: com papas e bolos
..."

Camilo Lourenço

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