terça-feira, maio 25, 2010

... ou que se cale para sempre

"Não sei o que alegrou mais os defensores do casamento homossexual, se a promulgação do dito ou se o ar contrariado com que o Presidente da República o fez.

Obrigado a tomar posição sobre uma lei que o horroriza, o presidente tentou, como de costume, a via "utilitária" e mostrou, como de costume, a veia desajeitada. Impedir o casamento não era hipótese, visto que o parlamento repetiria os votos e, no processo, submeteria o prof. Cavaco a uma humilhação escusada. Aprovar o casamento com discrição e sem palpites não satisfaria a sua consciência nem, principalmente, a sua base eleitoral, teoricamente avessa a modernices.

A alternativa foi aquele tom compungido, à mistura com o interessante argumento de que não se pode desviar a atenção da crise (em tempos prósperos, o prof. Cavaco não permitiria que os gays fossem, para recorrer ao jargão em voga, felizes).

Tipicamente comprometido, o prof. Cavaco voltou a meter o bolo-rei à boca e a não o engolir, um espectáculo que, ao contrário do pretendido, desanima os potenciais apoiantes e convida os restantes à galhofa.

É verdade que, à semelhança do que aconteceu com o divórcio e o aborto e do que acontecerá com a adopção e a eutanásia, fingiu-se por aí celebrar o dia em que Portugal se tornou mais decente, mais civilizado, mais digno e mais o que quiserem. Mas a esquerda das "causas" sabe que o casamento homossexual excitará meia dúzia de casais à procura de notoriedade e os media à procura da novidade. Terminada esta, o fenómeno será provavelmente residual e certamente obscuro. Já as hesitantes estratégias pessoais do prof. Cavaco suscitam um gozo na esquerda que promete durar anos e legitimar vistosas, ainda que um nadinha perversas, celebrações
."

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!