quinta-feira, novembro 11, 2010

Linha da frente.

"Vamos ser realistas, se a zona euro depender da competência do Governo português, a zona euro está liquidada.

A única possibilidade reside no ‘outsourcing' das finanças públicas para uma instituição internacional à boa maneira de um protectorado económico. Não sendo o único nem o pior, Portugal está na linha de uma espiral descendente que ameaça a União Europeia. Aliás, a visita do Presidente da China representa a incursão do Império do Meio no Velho Mundo endividado e em ‘flirt' com a falência. O interesse económico da China confunde-se com um novo colonialismo agressivo e revanchista. A nova China parece a velha Europa - arrogante, burguesa e capitalista. O interesse da China em Portugal dá razão ao primeiro-ministro quando este afirma que não é Portugal que está em crise, mas que é a Europa que está em crise. Para disfarçar o desaire político nacional, Sócrates justifica-se com o declínio do Ocidente. Estranho pensamento este em que um país que não resolve os seus problemas pode tão bem com os males do mundo.

Mas vamos ser de novo realistas, perante a avalanche dos mercados e os alarmes na cotação dos juros da dívida pública, o primeiro-ministro não vacila. Uma conclusão da crise financeira diz-nos que Sócrates tem nervos de aço ou então é portador de um optimismo patológico. O sentido da resolução da crise vai dissolver todas as dúvidas. Entretanto, o Governo não precisa de qualquer remodelação porque Sócrates nunca se engana e raramente tem dúvidas. Eis dois atributos de um homem infalível e providencial. E no psicodrama do deficit, o FMI é a doença psiquiátrica do país.

Na linha de fogo da política à portuguesa, a realidade conta uma história bem diferente. O PSD de Passos Coelho pratica uma política extrovertida e ao sabor da brisa leve de um comício. Com a ideia de criminalizar as derrapagens financeiras, Passos Coelho promete o cárcere a toda a classe política dos últimos trinta anos. Extravagâncias que passam por originais ideias políticas. Nas Presidenciais, Cavaco Silva adopta a simplicidade do Twitter e multiplica-se em visitas de Presidente e comentários de candidato. Nem sempre é fácil distinguir quem é quem neste jogo de espelhos. Em plena campanha, Manuel Alegre apoia a greve geral, defende o Governo e queixa-se de um PS que o abandona à selva das feiras de Portugal. Só a demagogia míope de Louçã lucra com a cadavérica candidatura de Alegre, o poeta da aldeia. Mas todos os candidatos confundem Presidenciais com tiro ao figurino Cavaco e afundam-se na irrelevância e no ridículo.

Pode a Europa depender de um país deste calibre? Claro que nunca, claro que não. A impotência política e a depressão económica estão a paralisar as perspectivas de Portugal. Para ter peso e importância na Europa, Portugal tem de enriquecer com alguma exuberância. Depois da riqueza virá a grande diplomacia e a virtude política. Até lá, estamos nisto
."

Carlos Marques de Almeida

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