Contra o preconceito
"Ai, o eurocentrismo. É comum o desconhecimento do "outro" levar-nos a presunções erradas e, nos casos graves, ao puro preconceito. Veja-se o exemplo da Al- -Qaeda, que apressadamente julgamos representar uma cultura que enaltece o assassínio e despreza as mulheres. Se nos libertássemos de ideias feitas, veríamos que, afinal, a Al-Qaeda enaltece o assassínio e preza as mulheres a ponto de lhes dedicar uma publicação mensal. É verdade que a revista, intitulada Al-Shamikha, "A Mulher Majestosa" em português, só surgiu agora. Mas é igualmente verdade que tenta recuperar o tempo perdido. Desde logo, rompe com o mito da islâmica sem vaidade e dá conselhos de beleza, que vão da aplicação de máscaras de mel no rosto ao uso do véu para proteger a pele do sol. De qualquer modo, a Al-Shamikha recomenda às senhoras que, mesmo com a cara untada e coberta, fiquem dentro de casa em prol da "boa aparência". O resto é o habitual nos magazines femininos: entrevistas com figuras notáveis (viúvas de bombistas homicidas), pedagogia infantil (ensina-se a educar um filho para morrer pela jihad) e aconselhamento conjugal (sugere-se um marido terrorista). O editorial do primeiro número resume tudo: "Através do martírio, os fiéis ganham segurança e felicidade." E, graças a avanços civilizacionais como "A Mulher Majestosa", os infiéis ganham vontade de descobrir o "outro", na certeza de que, embora por motivos distintos, o "outro" também nos quer descobrir a nós." Alberto Gonçalves
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