sexta-feira, abril 22, 2011

Os bancos são nossos.

"Aconteça o que acontecer, as poupanças dos portugueses estão seguras". Pois estão. Mas esta frase de 2008 pode voltar a ter de ser dita em 2011. Esta e outra: a banca portuguesa está sólida, o que não está é líquida. Isso resolve-se sem "stress", mas é preciso capital. Nem que seja do Estado. Do Estado dos outros.

Parte do grande empréstimo que está a ser negociado para Portugal está já reservado para os bancos. Não é forçoso que tenha de ser usado, mas é necessário que esteja disponível para o que for preciso. Até porque há testes de stress esta Primavera e falhar não é opção.

Repitamos: não há problema com os seus depósitos. Estamos como em 2008, só há que ter medo de ter medo, ou seja, de processos irracionais de levantamentos colectivos. Mas os bancos portugueses podem vir a precisar de mais capital e estão sem acesso a liquidez, o que exige medidas agressivas. E, no limite, entradas do Estado no capital, temporárias e parciais. Ninguém o deseja.

Andamos desde 2007 a ouvir que os nossos bancos são brilhantes, que foram geridos excepcionalmente bem, que não há uma crise bancária e que os problemas do BPP e do BPN não foram problemas de banca, mas de banco dos réus. É verdade, não houve activos tóxicos em Portugal nem "bolha" imobiliária e isso separa-nos das agruras dos bancos irlandeses, gregos, espanhóis ou ingleses. Mas, à margem destas virtudes, houve vícios: o das estruturas de capital tíbias; e o do excesso de endividamento. Os bancos portugueses deram crédito a mais, contraindo crédito de mais.

Os banco portugueses estão demasiado alavancados, foram os veículos do excesso de endividamento externo do País. Desde há dois anos estão em processo de desendividamento, o que significa deixar de dar crédito, o que prejudica a economia e lhes retira negócio.

Os próximos anos vão ser muito difíceis para os bancos portugueses. Podemos assistir ao impensável: a que tenham prejuízo em Portugal, felizmente compensado nas actividades exteriores. Além disso, a descida dos "ratings" encarece o acesso a fundos e retira-lhes clientes.

E a fuga de capitais do País é em si mesma uma saída de dinheiro do sistema financeiro. Há, aliás, bancos estrangeiros a fazer terrorismo comercial, propondo contas no estrangeiro a clientes portugueses, com base no argumento do medo.

É por todas estas razões que o aumento de capital do BCP aprovado esta semana é uma vela acesa debaixo de água. Se a "troika" aumenta os rácios de capital e desce a relação entre créditos sobre depósitos, será preciso mais. Daí que se fale da necessidade eventual de o BCP vender a Polónia. Daí que o BES ande a vender carteiras de crédito, possa ter de vender o Brasil, precise mesmo de penhorar as participações numa PT ou EDP. Daí que o BPI tenha travado a concessão de crédito às quatro rodas. Daí que a Caixa faça figas para que o Estado assuma como dívida pública os cinco mil milhões de euros emprestados ao BPN, devolvendo a liquidez à Caixa.

Quando nas eleições americanas um eleitor perguntou a Obama por que ajudava a banca, ele respondeu-lhe: por causa do empréstimo da sua empresa. Pode--se odiar a banca mas não se pode viver sem ela. E, como se vê agora, ela não pode viver sem nós
."

Pedro Santos Guerreiro

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