quarta-feira, abril 20, 2011

Os “políticos”

"É conhecida a habilidade de Marinho e Pinto para asneirar. Desta vez, sempre em busca do seu minuto mediático, deu-lhe para apelar a uma “greve à democracia” como forma de “punição pela mediocridade e incompetência dos políticos portugueses”.

Reparem bem: o mesmo bastonário que defendeu apaixonadamente o primeiro-ministro José Sócrates nos últimos anos vem agora dizer que a culpa do buraco onde nos meteram é de uma entidade abstracta chamada "políticos".

A tese não é original. A novidade é que saltou da conversa de café para a lógica de certos comentadores, que em vez de reconhecer os erros, preferem falar nos "políticos", como se todos tivessem assento no conselho de ministros, como se todos fossem responsáveis, desde o presidente de junta à oposição.

Vamos lá pôr nomes às coisas. Sabemos quem nos governou nos últimos anos. Há nomes e rostos. José Sócrates, Teixeira dos Santos, Silva Pereira, Santos Silva, Mário Lino, Manuel Pinho, entre outros. Foram estes "políticos" e não outros que tiveram o poder executivo durante oitenta meses, grande parte com maioria absoluta. Foram estes "políticos" que negaram a realidade, garantindo que estava tudo bem, sem conseguir inverter a espiral de endividamento.

Perante esta amnésia colectiva vale a pena recordar os factos: 620 mil desempregados, uma pobreza galopante, uma economia em recessão em contra-ciclo com a Europa, défices gigantescos em 2009 (10%) e 2010 (8,6%), a pior dívida pública dos últimos 160 anos, uma classe média endividada, mais impostos, emigração em massa, mais crime, mais divórcios, funcionários públicos desmotivados, a terceira pior taxa de abandono escolar da OCDE.

É esta a nossa realidade. Uma realidade que nos quiseram ocultar durante anos, confundido o governo do país com uma gigantesca agência de marketing, até acordarmos sem dinheiro para salários e com o FMI a bater à porta.

Por tudo isto, as próximas eleições são muito mais do que um Benfica-Sporting entre partidos. Se aqueles que nos levaram ao buraco não forem penalizados é a sanidade do sistema que está em causa. Uma democracia onde quem governa não é responsabilizado pelos resultados é uma democracia doente, talvez mais do que pensávamos. Será o pagode generalizado, um novo ‘case-study' da ciência política.

Dir-me-ão que a alternativa tem defeitos e falhas. Falam-me das listas, dos interesses, do aparelho. Reconheço que sim. Mas é essencial inverter o caminho que nos conduziu à bancarrota. Um caminho de ilusão, onde se prometeram mais empregos, choques tecnológicos, novas oportunidades, magalhães, cheques-bebé e uma falsa modernidade feita de causas fracturantes que quebraram ainda mais o nosso tecido social.

A responsabilidade, tal como a vergonha, tem nomes e rostos. Quem nos conduziu a esta situação humilhante, quem nos amarrou a uma dívida astronómica, deve prestar contas. Para isso servem as eleições. A culpa não pode morrer solteira. Isso sim seria fazer greve à democracia
."

Paulopes Marcelo

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