Pior é impossível
"(Onde o autor explica que em Portugal, excepto o humor negro, tudo vai piorar para além do que já se sabe mas não se imagina, ao ponto de temer uma vaga de refugiados a atravessar o Mediterrâneo para sul, a guerra civil na Líbia não sendo sequer um obstáculo, pois, no País, o Muro de Berlim para derrubar é psicológico).
Nada para começar um assunto lúgubre como uma entrada ligeira, para ir compensando a depressão que se segue. E então estava o optimista a falar com o pessimista e dizia: "Isto está impossível, não há empregos, os preços sobem, está tudo endividado e não há dinheiro, somos a risota da Europa, o Sócrates afirma que o acordo com a troika é bom, logo deve ser horrível; eu digo-te que dentro de um ano estamos a comer lixo". E diz o pessimista: "Se o houver".
Apesar do assombroso resultado de Sócrates nas sondagens (na última que vi antes de escrever estava à frente), não acredito que a insanidade do eleitorado vá ao ponto de o premiar pela bancarrota, as aldrabices, o FMI que tinha 10 milhões de portugueses a servir de dique, as engenharias e a quantidade inacreditável de coisas inacreditáveis que não dá para escrever sem cansar a mão. Não. O PSD vai ganhar e a Direita vai ter maioria, mas eu acho que a Nossa Senhora de Fátima emigrou ela também (provavelmente para a Polónia com a Jerónimo Martins) e que não temos hipótese, devido a esta estrutura mental, constitucional, política e social, de esquerdismo conformisto-subsidiado aliado a tudo que há de interesses instalados.
Eu cá por mim sou liberal (para situar, estou mais próximo de Blair do que da Direita conservadora e tenho vergonha de confessar que votei, ao engano, na rosa de Guterres) e estou perfeitamente seguro de que o meu julgamento não interessa rigorosamente a ninguém, mas gostaria de chamar a atenção para o facto de não haver no mundo economia em crescimento, não advindo de riquezas naturais, a não ser com forte dose de liberalismo económico, ambiente favorável aos negócios e ao empreendedorismo. E quando eu digo favorável aos negócios não é no estilo Partido Socialista-Mota Engil ou CGD-Berardo, mas aquele que quer, entre outras coisas, baixar os impostos às empresas, pois estas é que criam riqueza e empregos, fora das fundações e institutos públicos, e não sufocam com contribuições e regulamentos os que tentam singrar na vida com a sua iniciativa e trabalho. Não digo facilitar a vida aos ricos e poderosos, nem distribuir prémios obscenos a gestores de monopólios, digo permitir que quem vem de baixo chegue a rico e poderoso pelo seu engenho e esforço, e que, na classe média, seja promovido quem se aplica e dá o seu melhor, sem ter que se igualizar com os militantes da "baixa" ou da lei do menor esforço. Isto, em Portugal, é apodado de neo-liberalismo, uma perigosa doença que não se sabe bem o que é, mas que intimida a população, graças às vozes de harpias que vão dos Louçãs aos Sócrates, seja por ideologia seja por demagogia, mas sempre com desinformação.
Portugal, nos últimos 12 anos, entre os 183 países monitorizados pelo FMI, foi o penúltimo em crescimento (por favor releia, porque esta verdade parece inacreditável). Desses 12, nove e meio são sob a batuta do Partido Socialista, o grande guardião do nosso sistema entronizado na Constituição da República que, como qualquer sítio governado por grandes timoneiros, vai programaticamente rumo ao socialismo. Mas é o modelo económico-social do PREC de Estado-mãe, aguado com privatizações e alguma concorrência nos mercados para se poder entrar na Europa, que se encontra vigente, pelo menos de modo a criar um imobilismo mental sufocante. Os portugueses, como qualquer pessoa, sabem o que se passa consigo e com os seus vizinhos, e com eles se comparam, não com o luxemburguês médio, embora tenham possivelmente um primo emigrante tido por rico, mas a ganhar apenas um salário vulgar de lá. Depois têm medo, muito medo, que lhes tirem o pouco que possuem essa ideologia da ansiedade, ainda mais numa população envelhecida, aproveita ao estatismo reinante. Lembro-me, era jovem, de no Porto se começarem a demolir as chamada "ilhas", sítios infectos que as pessoas resistiam a abandonar a fim de saírem para casas novas nos bairros sociais incipientes. Agora é o mesmo, e dentro de quatro anos de resistência militante à mudança das reestruturações anunciadas, muitos sacrifícios e erosão total do próximo governo, tudo voltará à boa velha choldra."
Fernando Braga de Matos
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