quinta-feira, junho 02, 2011

Um exercício de cidadania

"Depois de oferecer refeições a imigrantes com turbante e sem direito de voto, o PS passou à fase seguinte: agora oferece bilhetes para um aquário no Porto aos desgraçados, imigrantes ou não, que se comprometerem a participar num comício na cidade. Se tivermos sorte, ainda veremos os socialistas a dar gravatas de poliéster a menores, calendários de 1997 a dementes e porta-chaves a judicialmente interditos. Tudo é preferível aos recintos vazios. Vão longe os tempos em que Valentim Loureiro distribuía electrodomésticos pelo povo e era enxovalhado pelas elites. Aparentemente, estas não se importam que se atafulhe o povo com lixo.

De certo modo, porém, o lixo é bom sinal, na medida em que traduz a dificuldade dos partidos em atraírem gente para as suas pândegas. Se há aspecto comum às diversas campanhas em curso, é a opção por espaços acanhados, que mesmo assim custam a encher para efeitos televisivos. Incuráveis, as almas sensíveis preocupam-se com tamanho afastamento entre os cidadãos e a demo- cracia. Não têm razão: o afastamento é condição essencial para a democracia.

Fora as proibições de ajuntamentos públicos, não há nada tão Terceiro Mundo quanto os ajuntamentos públicos em que multidões abarrotam estádios e arenas a fim de louvar um mísero político. Só agora, 37 anos após Abril, experimentamos ao de leve as benesses para as quais Abril deveria ter sido feito: uma população desconfiada e avessa ao entusiasmo cego dos períodos pós-revolucionários. Finalmente começamos a perceber que, embora requeiram cautela, o voto ou a abstenção dispensam histeria e pobreza de espírito. Basta a outra
."

Alberto Gonçalves

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