quarta-feira, junho 01, 2011

Não passar por eles no Rossio

"Nem todos os jovens irrecuperáveis andam à pancada nos subúrbios das cidades. Alguns, mais velhinhos, instalam-se rigorosamente nos centros das cidades e, numa imitação de recentes acontecimentos madrilenos, sentam-se em protesto. Contra quê? À superfície, contra o capitalismo e a democracia, a qual pelos vistos é "burguesa" (sic) e não responde aos verdadeiros anseios das (poucas) dúzias de sujeitos e sujeitas que assentaram praça no Rossio. Mas o maior inimigo desta gente é o trabalho.

Se se virem forçados a trabalhar, ainda por cima sob salários incompatíveis com o respectivo génio, os jovens em causa não poderão desenvolver os seus reais talentos, a saber: acampar em locais impróprios; destruir milheirais alheios; torturar os cabelos com dreadlocks jamaicanos; criar regulamentos e hierarquias e assembleias e burocracia e relatórios e logísticas e grupos de acção; fugir ao banho; não dominar sequer vagamente os temas que debatem; debater, debater sempre, debater muito, desde que cada participante possua a mesma e analfabeta opinião dos demais acerca do tema em debate.

Do divertido espectáculo, retive duas ideias, que cito literalmente: 1) "O FMI nem pensar, caraças! E ninguém vem para a rua? Porra!"; 2) "Não pagamos a dívida". Não vale a pena os jovens do Rossio preocuparem-se com a primeira, que o FMI já cá está. Quanto à segunda, a preocupação também é escusada: dado que não fazem nenhum, a dívida foi em parte contraída por causa deles e de outros como eles. Dado que não mostram tenções de fazer nenhum, não se espera que consigam pagar seja o que for, salvo as T-shirts em prol da Palestina e, claro, os dreadlocks jamaicanos. O resto da conta é connosco
."

Alberto Gonçalves

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