domingo, dezembro 18, 2011

O atacante e o assassino

"Na terça-feira, Nordine Amrani, 33 anos, belga de origem marroquina, desatou a disparar uma espingarda e a lançar granadas numa praça de Liège. Matou quatro pessoas e feriu cento e tal antes de se suicidar. Posteriormente, descobriu-se o cadáver de uma mulher na casa do sujeito. Face a isto, toda a gente, desde as autoridades até aos media, foram céleres no diagnóstico: o sujeito era um infeliz que cedo perdeu os pais e passou por muitas dificuldades, conforme atesta um currículo repleto de tráfico de drogas, posse de armas, receptação de bens roubados e abusos sexuais. Para cúmulo, sentia-se fragilizado e perseguido pela polícia, vá lá saber-se porquê. A imprensa evitou cunhar de assassino um homem que os amigos definiram como "calmo". Confrontado com a avalanche de justificações psico-sociológicas do massacre, perdão, do incidente, o promotor-geral de Liège garantiu: "Tentaremos compreender." Se tentarem o bastante, ainda acabarão a condenar as vítimas da praça, a sociedade belga e o hemisfério norte em peso por não terem correspondido às expectativas do pobre atirador.

Se calhar é impressão minha, mas não dei por cautelas semelhantes na reacção pública ao gesto de Gianluca Casseri, italiano de 50 anos que, horas após o massacre, perdão, o incidente na Bélgica, abriu fogo em dois mercados ao ar livre de Florença, matou um par de vendedores ambulantes, feriu um terceiro e depois suicidou-se tipicamente. Aqui não houve lugar para histórias de vida, melodramas familiares, eufemismos, relativismos, explicações e contextos sociais: dado que os vendedores em questão eram imigrantes senegaleses, percebeu-se num ápice que Casseri agiu por racismo. Aliás, certas fontes de informação depressa sugeriram as alegadas ligações do assassino (neste caso o termo usou-se com abundância) a uma associação de extrema-direita. As fontes menos contidas, entre as quais a BBC, descreveram-no enquanto um "solitário" e um "conhecido activista de extrema-direita". O presidente da câmara florentina chamou-lhe "lúcido mas louco". Também não faltou quem o apelidasse de "ultraconservador" e só por acaso e um triz ninguém o acusou de neoliberalismo. Ou acusou e eu não reparei.

Se a diferença de tratamento não se deve à quantidade de homicídios, a diferença passa decerto pela qualidade: ou um homicida inspira acrescidas mesuras quando é árabe, ou as vítimas inspiram mais pena quando são negras. Se o primeiro ou as segundas incorrerem na infâmia de pertencer à etnia (digamos) dominante, os critérios de avaliação subvertem-se imediatamente. Os ocidentais matam por crueldade, os restantes acabam "conduzidos à delinquência". Os ocidentais morrem sem motivo, os restantes morrem devido ao ódio ou à incúria. Os ocidentais sacrificam-se em prol da exaltação paternalista do "outro", os restantes não devolvem a cortesia
. "

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Por cá são os "jovens", se forem pretos, ciganos ou mulatos, se forem brancos são identificados como maus elementos da sociedade vítimas do sistema.
Quem criou esta ideia foi a chamada esquerda fracturante nas causas, os outros seguiram as pisadas.
Esta é a pior forma de racismo e preto é preto, não afroamericano como os americanos negros ou americanos gostam que lhes chamem, no entanto chamam judeus aos judeus que não é uma raça, quando se irritam é claro(!) ou irlandeses ou spagetti, com h ou sem h, a hipocrisia do politicamente correcto já não cola.

terça-feira, dezembro 20, 2011  

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