O atacante e o assassino
"Na terça-feira, Nordine Amrani, 33 anos, belga de origem marroquina, desatou a disparar uma espingarda e a lançar granadas numa praça de Liège. Matou quatro pessoas e feriu cento e tal antes de se suicidar. Posteriormente, descobriu-se o cadáver de uma mulher na casa do sujeito. Face a isto, toda a gente, desde as autoridades até aos media, foram céleres no diagnóstico: o sujeito era um infeliz que cedo perdeu os pais e passou por muitas dificuldades, conforme atesta um currículo repleto de tráfico de drogas, posse de armas, receptação de bens roubados e abusos sexuais. Para cúmulo, sentia-se fragilizado e perseguido pela polícia, vá lá saber-se porquê. A imprensa evitou cunhar de assassino um homem que os amigos definiram como "calmo". Confrontado com a avalanche de justificações psico-sociológicas do massacre, perdão, do incidente, o promotor-geral de Liège garantiu: "Tentaremos compreender." Se tentarem o bastante, ainda acabarão a condenar as vítimas da praça, a sociedade belga e o hemisfério norte em peso por não terem correspondido às expectativas do pobre atirador.
Se calhar é impressão minha, mas não dei por cautelas semelhantes na reacção pública ao gesto de Gianluca Casseri, italiano de 50 anos que, horas após o massacre, perdão, o incidente na Bélgica, abriu fogo em dois mercados ao ar livre de Florença, matou um par de vendedores ambulantes, feriu um terceiro e depois suicidou-se tipicamente. Aqui não houve lugar para histórias de vida, melodramas familiares, eufemismos, relativismos, explicações e contextos sociais: dado que os vendedores em questão eram imigrantes senegaleses, percebeu-se num ápice que Casseri agiu por racismo. Aliás, certas fontes de informação depressa sugeriram as alegadas ligações do assassino (neste caso o termo usou-se com abundância) a uma associação de extrema-direita. As fontes menos contidas, entre as quais a BBC, descreveram-no enquanto um "solitário" e um "conhecido activista de extrema-direita". O presidente da câmara florentina chamou-lhe "lúcido mas louco". Também não faltou quem o apelidasse de "ultraconservador" e só por acaso e um triz ninguém o acusou de neoliberalismo. Ou acusou e eu não reparei.
Se a diferença de tratamento não se deve à quantidade de homicídios, a diferença passa decerto pela qualidade: ou um homicida inspira acrescidas mesuras quando é árabe, ou as vítimas inspiram mais pena quando são negras. Se o primeiro ou as segundas incorrerem na infâmia de pertencer à etnia (digamos) dominante, os critérios de avaliação subvertem-se imediatamente. Os ocidentais matam por crueldade, os restantes acabam "conduzidos à delinquência". Os ocidentais morrem sem motivo, os restantes morrem devido ao ódio ou à incúria. Os ocidentais sacrificam-se em prol da exaltação paternalista do "outro", os restantes não devolvem a cortesia. "
Alberto Gonçalves
Se calhar é impressão minha, mas não dei por cautelas semelhantes na reacção pública ao gesto de Gianluca Casseri, italiano de 50 anos que, horas após o massacre, perdão, o incidente na Bélgica, abriu fogo em dois mercados ao ar livre de Florença, matou um par de vendedores ambulantes, feriu um terceiro e depois suicidou-se tipicamente. Aqui não houve lugar para histórias de vida, melodramas familiares, eufemismos, relativismos, explicações e contextos sociais: dado que os vendedores em questão eram imigrantes senegaleses, percebeu-se num ápice que Casseri agiu por racismo. Aliás, certas fontes de informação depressa sugeriram as alegadas ligações do assassino (neste caso o termo usou-se com abundância) a uma associação de extrema-direita. As fontes menos contidas, entre as quais a BBC, descreveram-no enquanto um "solitário" e um "conhecido activista de extrema-direita". O presidente da câmara florentina chamou-lhe "lúcido mas louco". Também não faltou quem o apelidasse de "ultraconservador" e só por acaso e um triz ninguém o acusou de neoliberalismo. Ou acusou e eu não reparei.
Se a diferença de tratamento não se deve à quantidade de homicídios, a diferença passa decerto pela qualidade: ou um homicida inspira acrescidas mesuras quando é árabe, ou as vítimas inspiram mais pena quando são negras. Se o primeiro ou as segundas incorrerem na infâmia de pertencer à etnia (digamos) dominante, os critérios de avaliação subvertem-se imediatamente. Os ocidentais matam por crueldade, os restantes acabam "conduzidos à delinquência". Os ocidentais morrem sem motivo, os restantes morrem devido ao ódio ou à incúria. Os ocidentais sacrificam-se em prol da exaltação paternalista do "outro", os restantes não devolvem a cortesia. "
Alberto Gonçalves
1 Comments:
Por cá são os "jovens", se forem pretos, ciganos ou mulatos, se forem brancos são identificados como maus elementos da sociedade vítimas do sistema.
Quem criou esta ideia foi a chamada esquerda fracturante nas causas, os outros seguiram as pisadas.
Esta é a pior forma de racismo e preto é preto, não afroamericano como os americanos negros ou americanos gostam que lhes chamem, no entanto chamam judeus aos judeus que não é uma raça, quando se irritam é claro(!) ou irlandeses ou spagetti, com h ou sem h, a hipocrisia do politicamente correcto já não cola.
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