Privatizem a gestão da Caixa
"Faz três anos que a Caixa assinou o que titulámos então de "escandaloso negócio com Manuel Fino", um acordo para as dívidas do empresário com acções da Cimpor. Foi um cobertor para o estertor. Ei-lo de novo, em dose tripla: de Fino, da Caixa e da Cimpor. José de Matos devia pendurar as contas de 2011 à frente da mesa onde atende os telefonemas do Governo: para se lembrar do que custa dizer "sim".
José de Matos não é Luís de Matos, não faz ilusionismo. Estes prejuízos limpam anos de sarcófagos. Não há fábula, agora é o príncipe que, beijado, se transforma em sapo. E assim se percebe que esta administração pôs cá fora o que pelo menos duas administrações andaram a fazer ou a esconder. Os valores de provisões e de imparidades (1,6 mil milhões de euros!) são como confissões de crimes que prescreveram: não comprometem esta administração (embora comprometam alguns dos seus administradores).
Ouvir José de Matos dizer que "a Caixa vai concentrar-se na actividade bancária" revela um ridículo inteiro. É como ouvir um hotel dizer que vai dedicar-se à hotelaria ou uma pedreira às pedras. Para trás estão investimentos ruinosos na diversificação (por exemplo na saúde), na internacionalização (em Espanha), em participações financeiras (a lista é interminável), em empréstimos sem garantias, a famosos, a amigos do Governo e a financiadores de partidos. As imparidades "esmagaram os resultados", diz Matos. É verdade. Mas as imparidades não são meteoritos inexplicáveis que caem do céu. Eles nasceram da terra onde se semearam jogatanas de poder. Com o BCP à cabeça, no que se tornou um "arrastão" maior de falhados e de quem os financiou: incluindo nós, sem o sabermos.
Manuel Fino foi um dos arrastados pelos cânticos suicidários do BCP. O empresário está pouco mais do que falido, não tem como pagar dívidas de centenas de milhões, e pede uma moratória à Caixa, para não perder o que resta da Cimpor para as duas hienas brasileiras, Votorantim e Camargo, que se preparam para passar da partilha ao espartilho da cimenteira que já foi portuguesa. Manuel Fino tem uma vida inteira de industrial, não de casinada bolsista, pelo que este desfecho é especialmente cruel. Além disso, o "capitão de indústria" revela uma dignidade no seu declínio como é raro assistir no país das aparências. Mas isso, que torna a perda de Fino desgostosa, não a iliba.
Só a Caixa separa a Cimpor do seu desmantelamento. Mas ele não é responsabilidade sua, é dos accionistas que em vez de a gerirem, a usaram como garantia de empréstimos alucinados. Foi aí que a Caixa não se concentrou "na actividade bancária", mas noutra coisa qualquer que só o Diabo poderá escrever. Mas é também verdade que Armando Vara tem as costas largas: os empréstimos foram aprovados por conselhos de crédito numerosos. Ou todos os seus membros, que têm nome, eram incompetentes, ou alinhados ou medrosos.
Já não vale a pena propor que privatizem a Caixa, não há dinheiro para comprá-la, mesmo que uma Caixa privada jamais fizesse o mal que esta fez - e se fizesse, seria aos seus accionistas, não aos contribuintes. Mas além de mais um aumento de capital e do início tardio da venda de activos pede-se, por favor, uma nova era na gestão do banco. A era do "não", do "não" aos partidos, aos Governos, às cunhas, aos amigos, aos políticos e às ocasiões. É isso que se pede à equipa de José de Matos, agora que acabou a faxina das contas.
Os prejuízos de 2011 da banca são como álcool em ferida, ardem mas curam. E evidenciam que foi a Caixa e o BCP que mais asneiras fizeram, incluindo nas inacreditáveis fragilidades das garantias dos seus empréstimos. Mas agora a Caixa recomeça do zero. Quer dizer, do menos 488 milhões.
PS: Fonte do Governo de José Eduardo dos Santos, sobre o BCP, ao "Novo Jornal": "Com uma crescente influência de Angola na condução desta nova fase da vida do Millennium poderemos, a médio prazo, levá-lo a investir em geografias que maiores sinergias geram no processo de internacionalização das nossas empresas e, neste quadro, estabelecer parcerias equilibradas e contribuir para a diversificação económica". Não é verdade, pois não? Não é verdade que com menos 15% já mandem assim no BCP, pois não? Não substituiremos um Estado pelo outro, pois não? "
José de Matos não é Luís de Matos, não faz ilusionismo. Estes prejuízos limpam anos de sarcófagos. Não há fábula, agora é o príncipe que, beijado, se transforma em sapo. E assim se percebe que esta administração pôs cá fora o que pelo menos duas administrações andaram a fazer ou a esconder. Os valores de provisões e de imparidades (1,6 mil milhões de euros!) são como confissões de crimes que prescreveram: não comprometem esta administração (embora comprometam alguns dos seus administradores).
Ouvir José de Matos dizer que "a Caixa vai concentrar-se na actividade bancária" revela um ridículo inteiro. É como ouvir um hotel dizer que vai dedicar-se à hotelaria ou uma pedreira às pedras. Para trás estão investimentos ruinosos na diversificação (por exemplo na saúde), na internacionalização (em Espanha), em participações financeiras (a lista é interminável), em empréstimos sem garantias, a famosos, a amigos do Governo e a financiadores de partidos. As imparidades "esmagaram os resultados", diz Matos. É verdade. Mas as imparidades não são meteoritos inexplicáveis que caem do céu. Eles nasceram da terra onde se semearam jogatanas de poder. Com o BCP à cabeça, no que se tornou um "arrastão" maior de falhados e de quem os financiou: incluindo nós, sem o sabermos.
Manuel Fino foi um dos arrastados pelos cânticos suicidários do BCP. O empresário está pouco mais do que falido, não tem como pagar dívidas de centenas de milhões, e pede uma moratória à Caixa, para não perder o que resta da Cimpor para as duas hienas brasileiras, Votorantim e Camargo, que se preparam para passar da partilha ao espartilho da cimenteira que já foi portuguesa. Manuel Fino tem uma vida inteira de industrial, não de casinada bolsista, pelo que este desfecho é especialmente cruel. Além disso, o "capitão de indústria" revela uma dignidade no seu declínio como é raro assistir no país das aparências. Mas isso, que torna a perda de Fino desgostosa, não a iliba.
Só a Caixa separa a Cimpor do seu desmantelamento. Mas ele não é responsabilidade sua, é dos accionistas que em vez de a gerirem, a usaram como garantia de empréstimos alucinados. Foi aí que a Caixa não se concentrou "na actividade bancária", mas noutra coisa qualquer que só o Diabo poderá escrever. Mas é também verdade que Armando Vara tem as costas largas: os empréstimos foram aprovados por conselhos de crédito numerosos. Ou todos os seus membros, que têm nome, eram incompetentes, ou alinhados ou medrosos.
Já não vale a pena propor que privatizem a Caixa, não há dinheiro para comprá-la, mesmo que uma Caixa privada jamais fizesse o mal que esta fez - e se fizesse, seria aos seus accionistas, não aos contribuintes. Mas além de mais um aumento de capital e do início tardio da venda de activos pede-se, por favor, uma nova era na gestão do banco. A era do "não", do "não" aos partidos, aos Governos, às cunhas, aos amigos, aos políticos e às ocasiões. É isso que se pede à equipa de José de Matos, agora que acabou a faxina das contas.
Os prejuízos de 2011 da banca são como álcool em ferida, ardem mas curam. E evidenciam que foi a Caixa e o BCP que mais asneiras fizeram, incluindo nas inacreditáveis fragilidades das garantias dos seus empréstimos. Mas agora a Caixa recomeça do zero. Quer dizer, do menos 488 milhões.
PS: Fonte do Governo de José Eduardo dos Santos, sobre o BCP, ao "Novo Jornal": "Com uma crescente influência de Angola na condução desta nova fase da vida do Millennium poderemos, a médio prazo, levá-lo a investir em geografias que maiores sinergias geram no processo de internacionalização das nossas empresas e, neste quadro, estabelecer parcerias equilibradas e contribuir para a diversificação económica". Não é verdade, pois não? Não é verdade que com menos 15% já mandem assim no BCP, pois não? Não substituiremos um Estado pelo outro, pois não? "
Pedro Santos Guerreiro
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