O problema da dimensão empresarial
"O ano de 2011 registou uma das mais rápidas correcções de sempre da balança comercial portuguesa. Sem os défices energético e agrícola, estaríamos já claramente excedentários
Perante um nível de desemprego próximo dos 14% intensificaram-se os esforços de apoio ao empreendedorismo e auto-emprego. A intensa correcção financeira em curso não só agravou o nível de falências de empresas mais vulneráveis e expostas, com destaque para os vendedores de bens de consumo duradouro, como criou novas oportunidades resultantes da mudança de hábitos. Os negócios ligados ao aluguer, venda de usados, serviços de manutenção e reparação e reciclagem e os produtos e serviços "low cost" em geral têm vindo a prosperar à medida que os consumidores adiam decisões de compra e se procura fazer face à quebra de rendimento disponível.
Ao mesmo tempo, a manutenção do crescimento económico no resto do mundo, sobretudo fora da Zona Euro, levou um grande número de empresas a procurar novos mercados para compensar a retracção da procura doméstica. O ano de 2011 registou uma das mais rápidas correcções de sempre da balança comercial portuguesa. Sem os défices energético e agrícola estaríamos já claramente excedentários.
No entanto, o acréscimo das exportações e a exploração de novos negócios ao nível interno ficaram muito longe de compensar a queda da procura interna, levando muitos analistas a sugerir que Portugal mantém um défice competitivo que precisa de ser rapidamente corrigido. Paul Krugman referiu, na cerimónia do doutoramento "honoris causa", a necessidade de redução dos salários em Portugal. Como podemos explicar este défice, precisamente quando os jovens portugueses têm o maior nível de habilitações de sempre? Mais ainda, como explicar que o seu nível de desemprego tenha já atingido os 35%?
O "Economist" de 3 de Março referia diversos estudos que sugerem que o problema fundamental da baixa competitividade das economias do Sul da Europa, com destaque para a Grécia, Itália e Portugal reside no grande predomínio das pequenas e micro empresas. De facto, as organizações mais pequenas têm menos capacidade para promover níveis de especialização elevados. Um estudo citado no jornal refere mesmo um trabalho de investigadores da Carnegie Mellon sobre "The incredibly shrinking Portuguese firm" dado que em 2010 o peso relativo das grandes empresas portuguesas era inferior a 2000.
Sendo assim, seria importante que as empresas portuguesas crescessem, de forma orgânica ou através de fusões e aquisições. Ora, para avaliarmos a tendência latente da economia, nada melhor que focar a nossa atenção nas chamadas gazelas – empresas que crescem mais de 20% ao ano. Num dos primeiros estudos sobre as gazelas portuguesas, a revista Exame de Maio de 2011 apresenta uma lista de 202 gazelas sustentáveis estimadas entre 2006 e 2009. O problema é que apenas 17 tinham mais de 100 trabalhadores em 2009, embora muitas tivessem crescimentos vertiginosos do número de trabalhadores, mas de uma base muito reduzida. Por outro lado, as restrições no acesso ao crédito que se agravaram desde o período em analise só vieram dificultar ainda mais a expansão, orgânica ou externa das empresas.
Daqui resultam três ilações relativamente à política de apoio à recuperação da economia nacional: é necessário apoiar a inovação tanto ao nível das empresas existentes (intrapreendedorismo) como da criação de novos negócios; nas empresas existentes é necessário financiar e facilitar processos de reestruturação, transmissão de propriedade e consolidação que permitam progresso no sentido de se atingir uma dimensão mínima eficiente num contexto de concorrência cada vez mais global; nos novos projectos é fundamental apostar na ambição e no potencial de ruptura e escalável, com tolerância plena pelas situações de insucesso, mas acompanhamento e "coaching" que visem minimizar essas ocorrências.
Os numerosos casos de empresas mais ou menos jovens, em sectores tradicionais ou de base tecnológica que têm vindo a conseguir o estatuto de gazelas, apesar de uma conjuntura adversa, sugerem que as sementes da recuperação económica podem já estar a ser implantadas. É crucial que não estiolem por falta de água e nutrientes"
José Paulo Esperança
Perante um nível de desemprego próximo dos 14% intensificaram-se os esforços de apoio ao empreendedorismo e auto-emprego. A intensa correcção financeira em curso não só agravou o nível de falências de empresas mais vulneráveis e expostas, com destaque para os vendedores de bens de consumo duradouro, como criou novas oportunidades resultantes da mudança de hábitos. Os negócios ligados ao aluguer, venda de usados, serviços de manutenção e reparação e reciclagem e os produtos e serviços "low cost" em geral têm vindo a prosperar à medida que os consumidores adiam decisões de compra e se procura fazer face à quebra de rendimento disponível.
Ao mesmo tempo, a manutenção do crescimento económico no resto do mundo, sobretudo fora da Zona Euro, levou um grande número de empresas a procurar novos mercados para compensar a retracção da procura doméstica. O ano de 2011 registou uma das mais rápidas correcções de sempre da balança comercial portuguesa. Sem os défices energético e agrícola estaríamos já claramente excedentários.
No entanto, o acréscimo das exportações e a exploração de novos negócios ao nível interno ficaram muito longe de compensar a queda da procura interna, levando muitos analistas a sugerir que Portugal mantém um défice competitivo que precisa de ser rapidamente corrigido. Paul Krugman referiu, na cerimónia do doutoramento "honoris causa", a necessidade de redução dos salários em Portugal. Como podemos explicar este défice, precisamente quando os jovens portugueses têm o maior nível de habilitações de sempre? Mais ainda, como explicar que o seu nível de desemprego tenha já atingido os 35%?
O "Economist" de 3 de Março referia diversos estudos que sugerem que o problema fundamental da baixa competitividade das economias do Sul da Europa, com destaque para a Grécia, Itália e Portugal reside no grande predomínio das pequenas e micro empresas. De facto, as organizações mais pequenas têm menos capacidade para promover níveis de especialização elevados. Um estudo citado no jornal refere mesmo um trabalho de investigadores da Carnegie Mellon sobre "The incredibly shrinking Portuguese firm" dado que em 2010 o peso relativo das grandes empresas portuguesas era inferior a 2000.
Sendo assim, seria importante que as empresas portuguesas crescessem, de forma orgânica ou através de fusões e aquisições. Ora, para avaliarmos a tendência latente da economia, nada melhor que focar a nossa atenção nas chamadas gazelas – empresas que crescem mais de 20% ao ano. Num dos primeiros estudos sobre as gazelas portuguesas, a revista Exame de Maio de 2011 apresenta uma lista de 202 gazelas sustentáveis estimadas entre 2006 e 2009. O problema é que apenas 17 tinham mais de 100 trabalhadores em 2009, embora muitas tivessem crescimentos vertiginosos do número de trabalhadores, mas de uma base muito reduzida. Por outro lado, as restrições no acesso ao crédito que se agravaram desde o período em analise só vieram dificultar ainda mais a expansão, orgânica ou externa das empresas.
Daqui resultam três ilações relativamente à política de apoio à recuperação da economia nacional: é necessário apoiar a inovação tanto ao nível das empresas existentes (intrapreendedorismo) como da criação de novos negócios; nas empresas existentes é necessário financiar e facilitar processos de reestruturação, transmissão de propriedade e consolidação que permitam progresso no sentido de se atingir uma dimensão mínima eficiente num contexto de concorrência cada vez mais global; nos novos projectos é fundamental apostar na ambição e no potencial de ruptura e escalável, com tolerância plena pelas situações de insucesso, mas acompanhamento e "coaching" que visem minimizar essas ocorrências.
Os numerosos casos de empresas mais ou menos jovens, em sectores tradicionais ou de base tecnológica que têm vindo a conseguir o estatuto de gazelas, apesar de uma conjuntura adversa, sugerem que as sementes da recuperação económica podem já estar a ser implantadas. É crucial que não estiolem por falta de água e nutrientes"
José Paulo Esperança
1 Comments:
começa ser penoso ler estes artigos, de gente sem conhecimentos da verdadeira economia e do conhecimento da mesma.
O que se passa é que a grande maioria da gentinha que escre ve sobre a área económica escre ve por encomenda e esta crise que se agudizou a partir de 2007, foi provocada por muita gente e ajudada incluso, por gente com cargos pomposos nas "melhores" escolas mundiais desta disciplina de bruxos e aprendizes de feiticeiros.
Yenham vergonha.
Os meus cães andam à trela e com açaimo, muita gente deveria ser obrigada a fazer o mesmo, mas isso é impossível, claro, que apenas se transmite a voz do dono, é como na reviste Forbes, não aparecem de facto lá os que dominam a finança mundial e a manipulam.
Toupeira
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