domingo, maio 13, 2012

Economia zombie

"Copo meio cheio: as maiores exportações de sempre; a queda há cem dias da euribor; a descida das gasolinas; o investimento da BA Vidro na Polónia; os 500 milhões na compra dos fóruns Almada e Montijo; o indicador avançado da OCDE que sugere o fim da recessão no final do ano. Agora o copo meio vazio: Espanha. Ou como tudo o que fizermos é tão vulnerável ao que outros desfaçam.

As fronteiras da crise financeira estão nos Pirinéus. E com o mal dos outros não podemos nós bem. Nem é preciso dizer porquê: além do contágio financeiro que se mede em taxas de juro, por causa do contágio económico. Portugal depositou todas as esperanças de crescimento nas exportações. Ter o maior cliente em crise profunda é partilhá-la. A melhor notícia que podemos ter é que Espanha não afunde.

Espanha tem um problema gravíssimo alojado na banca, que decorre de uma "bolha" imobiliária que se esvazia enchendo os balanços dos bancos de prejuízos. (Enchendo de prejuízos até a operação espanhola da Caixa Geral de Depósitos).

Comparados com os bancos espanhóis, os bancos portugueses ganham medalhas de mérito. Até porque Espanha consegue fazer tudo mal depois de fazer tudo mal. Depois de ter financiado a "bolha" de imobiliário e de ter germinado nas "cajas" relações empresariais que se revelaram ruinosas, os bancos espanhóis empacotaram os problemas em bancos zombie, adiando o problema até ao fim - e nisso agigantando-o.

Espanha recusou os problemas, juntou problemas das "cajas", criou o Bankia, colocou à sua frente o ex-secretário-geral do FMI, Rodrigo Rato. Escolher um político para resolver uma calamidade bancária é preferir a gestão de influências à digestão dos problemas. O Estado avançou para a nacionalização do banco. Rato foi o primeiro a abandonar o barco. É por estas e por outras que as economias do sul da Europa têm má reputação.

Espanha pode agora testar os novos mecanismos europeus, concretizados no MEF, que poderá auxiliar os bancos sem que seja necessário um programa formal de intervenção externa em Espanha. Na cimeira informal de 23 de Maio, veremos se Mariano Rajoy vai alinhar com François Hollande na pressão para criar medidas de crescimento na Europa. Sem estímulos orçamentais, a Europa crescerá? Dificilmente.

Espanha, como Irlanda, cresceram em cima de "bolhas" que rebentaram nos seus balanços. A digestão destas perdas vai prender o crescimento em Espanha durante muitos anos. Mesmo em Portugal: o crédito malparado das empresas que está por reconhecer nos bancos ainda nos vai surpreender, as falências sucedem-se ao dia. Na construção. No imobiliário. Nos seus fornecedores. E isso acaba na banca.

O problema dos bancos zombie, e das economias zombie, não tem sido enfrentado. Os prejuízos vão sendo transferidos mas só serão exterminados quando forem assumidos. Até lá, vão fazendo dos balanços um bagaço. É por isso que o FMI já fala na criação de mecanismos de insolvência para o endividamento privado, que são absorvidos com a entrada de capital público nos bancos. Pôr o contador a zeros custa milhões de euros. De uma forma ou de outra."

Pedro Santos Guerreiro

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