Forrest Gump
"Pedro Passos Coelho vê o país através de um monóculo. Como o vislumbra só com um olho, apenas vê o que já julgava saber. A sua política é uma linha recta: tem um princípio, um meio e um fim e tudo é feito em nome do que imagina. A TSU separou as águas: este Governo foi eleito para pôr fim ao desvario do défice e da dívida, mas acha que tem uma missão ideológica para cumprir. Por detrás da luta contra a austeridade o Governo desenhou um modelo de país que quer construir nas cinzas do que está a incendiar.
Este Governo é Zorro: usa uma máscara para disfarçar os seus verdadeiros objectivos. É por isso que a TSU não é negociável: se ficar só um bocadinho da medida, o Governo voltará mais tarde com o que não conseguir cumprir agora. E o seu plano para destruir a classe média será cumprido. O objectivo invisível deste Governo é oxidar a classe média, porque esta é que, nas sociedades, impõe as novidades e traz as ideias mais complexas. E este Governo só vê as coisas a preto e branco. Por isso segue modelos e recusa a inquietação filosófica. Julga ter certezas e recusa as interrogações óbvias.
O Governo, que encara a dúvida como se ela fosse uma fraqueza, acha que é o país que está equivocado e não ele. A ignorância é uma força da natureza, como se sabe. Se o Governo tivesse a noção da realidade percebia que, depois do que já destruiu da economia real, a alteração da TSU arrasaria o resto. Este Governo é Forrest Gump: orgulha-se da sua idiotice. E quer passar os portugueses por idiotas. Não há sentido nem lógica nesta mudança da TSU ou noutra mais doce. Nada se ganhará. Tudo se perderá. A começar pela esperança."
Fernando Sobral
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