quarta-feira, setembro 19, 2012

Sem consumidores, não há empresas

"O aumento da taxa social única para os trabalhadores públicos e privados, reduz o rendimento disponível e a capacidade de consumo, levando ao aprofundamento da contracção económica. Desde o princípio do ano que mensalmente escrevo neste jornal sobre PME. Dos inúmeros contactos que fui tendo, ao longo dos últimos anos, com empreendedores (de sucesso e falhados), e demais participantes no ecossistema do empreendedorismo nacional, tenho tentado partilhar ideias e melhores práticas, que eventualmente possam ajudar outros empreendedores, actuais e futuros, a melhor conceber e desenvolver os seus negócios.

Nesta altura, e após a sexta-feira negra em que, para muitos, o Governo perdeu a noção da realidade com o anúncio do aumento da taxa social única (TSU), a minha perspectiva é diferente e centra-se numa ideia muito simples: sem consumidores, as empresas deixam de ter qualquer papel na sociedade. Todos os negócios, sejam eles quais forem, dependem de um elemento determinante: o consumidor final. Uma fábrica que produza fios para uma marca de automóvel, por exemplo, não depende dessa mesma marca exclusivamente, mas, depende ultimamente na capacidade de consumo dos clientes finais. Em suma, em qualquer que seja o negócio, é o cliente final, e o seu respetivo rendimento disponível, que define a saúde e a capacidade de subsistência das empresas.

O aumento da TSU para os trabalhadores públicos e privados, reduz o rendimento disponível e a capacidade de consumo da população portuguesa, levando a um provável decréscimo da confiança da população e ao respectivo aprofundamento da contracção económica. Portanto, gostava de perceber como é que esta medida tem potencial de gerar emprego adicional? O argumento contrário é, obviamente, o de que os consumidores das empresas portuguesas não estão em Portugal e que o país tem necessariamente de viver das exportações. Embora as exportações sejam importantes, parece-me um argumento no mínimo idiota, já que a maior parte do consumo está efectivamente no mercado interno. Mais. Julgando pela quantidade de pessoas que tenho ouvido ameaçar de emigrarem, se a intenção for consumada, o mercado interno será ainda mais pequeno, o poder de compra menor e o potencial de desenvolvimento das empresas virtualmente inexistente.

Durante mais de um ano, estive a tentar apoiar empresas jovens ("startups" na sua maioria), dos mais variados sectores de actividade, no processo de desenvolvimento de negócio, e na angariação de capital - fundamental para apoiar o crescimento das empresas. Durante esse ano, a grande maioria do interesse pelo investimento nas nossas "startups" veio de fora de Portugal, mas veio associado sempre a uma necessidade de deslocalização das empresas para perto dos investidores. Aconselhei vários empreendedores a manterem-se em Portugal, para serem o motor de crescimento de uma economia que tanto precisa deles, mesmo que fosse mais difícil crescer.

Hoje, à luz das recentes notícias sobre o aumento da austeridade, e a serem aplicadas as medidas mais bárbaras, diria aos empreendedores para levarem os seus negócios para os mercados que lhe ofereçam as melhores condições de crescimento, apoio e acesso a capital. Temo, com muita pena, que fazendo essa avaliação, os empreendedores rapidamente cheguem à conclusão que esse mercado já não é Portugal."

Francisco de Almeida

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