sexta-feira, setembro 14, 2012

Foste .

"A verdade é que, na última semana, o governo gerou uma ampla coligação de gente enervada com o mais recente pacote de austeridade. Podíamos discutir os efeitos das medidas anunciadas, mas não é preciso. Da esquerda à direita, passando pela própria troika, já muitos explicaram os vícios de que a coisa padece. O senhor ministro das Finanças foi sucessivamente desautorizado por colegas partidários, eminências académicas e empresários insuspeitos de esquerdismo primário. Estou em crer que, mais dia menos dia, colocará o seu lugar à disposição e ingressará num distante retiro espiritual, provavelmente numa qualquer burocracia europeia. Duvido também de que as suas propostas sejam, alguma vez, transformadas em letra de lei. O Tribunal Constitucional, a Presidência da República, a pressão das elites e a contestação popular tratarão de evitar a catástrofe de proporções geracionais. Com sorte, o assunto acabará como nota de rodapé num futuro manual de ciência política ou económica, exemplificando uma governação estuporada.

A ferida que ficou aberta é, no entanto, mais difícil de resolver. Um país falido precisa de muita energia anímica para sair do buraco. Se as pessoas acreditarem que a austeridade e o sacrifício (que não deixaram de ser necessários) só provocam sofrimento e angústias, acabarão por desistir. Uns emigrarão, outros optarão pela informalidade económica (deixando de pagar impostos, taxas e multas) e outros acabarão a partir carros e montras pelas ruas. Em democracia, não se pode governar contra o povo. Para conseguir consertar Portugal, implementando as imprescindíveis medidas (cortes na despesa pública, redução dos órgãos autárquicos e institutos públicos, privatização das empresas públicas privilegiadas), é essencial o apoio de uma maioria social. O primeiro-ministro esticou a corda para lá do delicado ponto de equilíbrio e vai levar com o seu ricochete na cara. Temos pena. Mas o governo da nação não é para impreparados (na ajuizada expressão do senador Marcelo)."
  José Diogo Madeira

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