Grande ilusão
"Não se concorda. Afundaria o projeto europeu. Aprofundaria as recessões, pelos cortes na despesa pública e pelos aumentos de impostos.
Não resolveria os problemas orçamentais existentes. Não permitiria saldar as dívidas, públicas e privadas. Poria o desemprego em níveis assustadores. Destruiria o aparelho produtivo, dificultando a recuperação. Criaria instabilidade social, pondo em risco as Democracias. Implodiria, provavelmente, alguns Estados europeus. Não resolveria os principais problemas económicos da maioria dos países afetados. Seria copiar as respostas iniciais dada à crise de 1929, em quase uma década, com medidas deflacionárias. Também aqui não foi uma solução, antes abriu caminhos aos totalitarismos e às guerras. A solução, derivada dos ensinamentos da Economia e da História, passa por inflação, decorrente duma política monetária mais expansionista do BCE, conjugada com austeridade orçamental realista e monitorizada.
Porque não se aplica então esta solução? Porque a narrativa, das lideranças europeias, falseou a realidade e agora não encontra espaço. Centraram-se as culpas no suposto laxismo orçamental. Porém, até a crise ter rebentado, nos EUA, as dívidas públicas, no PIB, nos países mais afetados, tinham-se reduzido ou em níveis controlados. Em Portugal, em 2006, atingia 63,7%. No ano seguinte, o défice orçamental foi de 3,1%, menos 2,8 pp face 2005.
Já as dividas privadas tinham vindo a subir, muito mais que as públicas, e, consequentemente, o endividamento bancário. Em Portugal, em 2006, chegavam a 209,4% do PIB, quase 3,5 vezes acima da pública. Em virtude dos processos de alavancagem financeira e, sobretudo, por servirem de escoamento aos superávites externos alemães. Paul de Grauwe estimou estes fluxos acumulados, da Alemanha para as periferias do Euro, em 634 mil milhões, até 2011. É esta realidade que tem contrariado a tentação de descartar alguns países do Euro. É, provavelmente, ela, que tornará viável a solução futura."
Francisco Madelino
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