segunda-feira, novembro 05, 2012

Ninguém aguenta mais cinco anos desta austeridade

"Num discurso de pré-campanha interna, a chanceler alemã falou em mais cinco anos de austeridade e esforços na Europa.

Merkel sublinhou que a crise financeira e económica ainda não está ultrapassada e prescreveu a única receita que conhece e gosta: apertar o cinto. Os alemães apreciam esta conversa. No seu imaginário, eles são os trabalhadores honrados e poupados e os povos do sul da Europa só gostam de esbanjar o dinheiro que não têm em festas e jantaradas.

O pensamento de Merkel tem duas falhas. Primeiro, a União Europeia não aguenta mais cinco anos desta austeridade. Segundo, se o projecto europeu cair, a Alemanha não escapará ao ‘tsunami' económico e político. Pelo contrário, será a primeira a ser culpada. Todos vão apontar o dedo ao egoísmo alemão. Por isto, a chanceler deve abandonar os discursos caseirinhos e comportar-se como uma líder europeia.

A análise de Merkel está correcta. Uma crise financeira com esta profundidade demora anos a resolver. Quando a dívida dos Estados supera os 120% do PIB, como é o caso nacional ou o grego, não se pode esperar que os empréstimos sejam reduzidos para metade em três ou quatro anos. Foram décadas a cometer asneiras financeiras que agora necessitam de tempo para serem corrigidas. Para isto, como também diz Merkel, é necessário mais rigor na gestão das contas públicas. Aldrabices e manigâncias orçamentais devem ser apagadas definitivamente das práticas orçamentais dos Estados europeus, nomeadamente de Portugal. No entanto, a chanceler alemã falha nas soluções. Além de financeiro, o problema europeu é sobretudo económico. Não consegue criar riqueza suficiente para pagar as dívidas. Portanto, a solução passa por equilibrar políticas financeiras mais rigorosas com a promoção do crescimento económico. Mais recessão, nomeadamente nos países sob o reinado da ‘troika', só agravam os problemas. Um dos caminhos para promover o crescimento e o PIB potencial é a aposta no investimento produtivo.

E há duas maneiras para o fazer. Desde logo, diminuir os juros e aumentar o prazo para os Estados pagarem os empréstimos. Desta forma, Portugal teria alguma margem investir. Depois, os países do Norte da Europa, com um balanço mais folgado e que estão a beneficiar da crise dos outros conseguindo financiamento de borla - a Alemanha está a obter taxas de juro negativas -, deviam aumentar o investimento nos países que recorreram à ajuda internacional.

Merkel vem dia 12 de Novembro a Lisboa, numa visita relâmpago de seis horas. Tem uma oportunidade para corrigir o discurso e mostrar, com medidas concretas, que a Alemanha pode liderar a Europa com políticas mais solidárias. Caso contrário, será a coveira do euro e da União Europeia"

Bruno Proença

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