Quem manda?

"Enquanto por cá os meninos brincam às refundações, lá fora os homenzinhos falam de coisas a sério. O ministro das Finanças alemão propôs a criação de um comissário europeu do euro capaz de vetar orçamentos nacionais. E perante o receio de que isso fosse uma intolerável limitação da soberania, Mario Draghi, presidente do BCE, explicou que os países já "perderam soberania há muito".

Um burocrata que não foi eleito talvez não consiga compreender a legitimidade democrática. Nem perceberá que, num regime democrático, fim de soberania é também fim de democracia. Mas Draghi é nosso credor. São as mãos em que estamos.

E é para as satisfazer que agora o nosso querido Governo se propõe "refundar" as "funções do Estado". Na verdade, não é nada disso que quer. Quer apenas sacar mais uns cobres por exigência dos credores, os tais que já fizeram o favor de nos ilustrar sobre quem manda nisto. Confundir a necessária reforma do Estado com o espremedor desta austeridade disparatada é ofensivo e perigoso. Se querem continuar a desgraça em curso, continuem. Mas ao menos que nos poupem ao espectáculo deprimente das suas ilusões."

Luciano Amaral