Dificuldades de aprendizagem
"É aborrecido que um forasteiro procure evangelizar os nativos, mas o chefe da missão local do FMI resumiu tudo numa frase: Portugal pode ter um grande Estado providência desde que consiga financiá-lo. Um truísmo? Teoricamente, sim. Na prática, não. Conforme todos os dias se constata, inúmeros portugueses acham vigorosa e, ao que parece, sinceramente que os direitos do assistencialismo não implicam o dever de o pagar - de alguma maneira, alguém, seja a divindade seja a "Europa", o fará por nós. Por manifesto azar, nem o Céu nem a Alemanha estão voltados para a generosidade, donde o actual fosso a separar as expectativas da realidade e a geral confusão que por aí vai.
Por um lado, os cidadãos ignoram ou fingem ignorar que aquilo que o Estado lhes "dá" é uma fracção daquilo que o Estado lhes retira. Por outro lado, os políticos convenceram-se ou fingiram convencer-se de que o Estado só poderá aumentar as "dádivas" se aumentar os gastos. Qualquer pessoa com um vestígio de lucidez perceberia o carácter alucinado destes pressupostos. Infelizmente, a lucidez ganhou aqui escassos adeptos, pelo que o sr. Abebe Selassie arrisca-se a assemelhar-se ao professor que explica física quântica a alunos modestos em aritmética básica. No caso presente, os "alunos" não dominam literalmente a aritmética e, perante a impossibilidade de dois mais dois serem cinco, insistem em corrigir as parcelas e não a soma.
Exagero? Quem dera. Ainda esta semana, a ex-secretária de Estado dos Transportes Ana Paula Vitorino declarou que a suspensão do TGV representou "um profundo retrocesso" para a economia. Dado que a dra. Ana Paula não é famosa pelos dotes de comediante, presume-se que falasse a sério. E a sério falam resmas de socialistas, comunistas e até governantes em funções quando lamentam a recente dificuldade em torrar o dinheiro que não possuímos. O pobre sr. Selassie anda a tentar ensinar-nos em meses aquilo que séculos de História não consegui- ram. Como os estrangeiros, aliás, já deviam ter aprendido, Portugal não aprende."
Alberto Fernandes
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