Escorreitos e satisfeitos
Escorreitos e satisfeitos
Preocupado com a saúde dos portugueses, um secretário de Estado dela exortou-os recentemente a cuidarem melhor de si, pois as suas doenças viraram dores de cabeça para o governo. Governo que receia que estes continuem a adoecer por desfastio, a entupir urgências por birra, a abusar de remédios por gulodice.
Tais luxos tornarão insustentável o SNS, pelo que é preciso mudar de esbanjamentos – em consultas, análises, medicamentos, operações, etc. Para efectivação de programas tão preventivos (há um milhão de portugueses diabéticos, outro de gorduchos, outro de neuróticos, ainda outro de hipertensos, além dos vitimados por maleitas crónicas e mortais), o executivo prepara baixas de impostos na agricultura e na restauração (para termos produtos mais saudáveis e baratos), em ginásios e lojas de desporto (para cuidarmos melhor do físico), em clínicas e farmácias (para prevenirmos e debelarmos perigos), nas energias e na roupa (para nos protegermos do frio e do calor), e tenciona ainda livrar-nos das aflições do desemprego, dos despejos, da instabilidade, dos esbulhos do fisco, ou seja, daquilo que nos está a exterminar psicologicamente (primeiro) e fisicamente (depois). Entretanto a taxa de suicídios disparou, atingindo 1250 casos anuais devido sobretudo às medidas de austeridade – os suicídios e as mortes (rápidas) são, como se sabe, mas não se diz, um alívio para os governantes por os libertarem de incómodas carraças sociais. Com estas perspectivas vamos ficar finalmente escorreitos e satisfeitos. Enquanto isso, uma conhecida psiquiatra diz ter já pacientes com mais medo do desemprego que da morte. Acendem-se lamparinas ao fundo do túnel.
Fernando Dacosta, in I
3 Comments:
Fernado deu à costa
ou melhor.
pariu um excelente texto
O senhor de La Palisse diria melhor:
- Cagou um texto
O SIS caga em cima de Portugal também, trbalha para oligarquia dos politicos e da banca e os F.da P. igual, é esta a realidade, há muito F.da P. que vai acabar enforcado, esperemos para ver...
Seja Dacosta ou outro, o que interessa, é se o que diz é ou não correcto ou mais ou menos acertado ou assertivo como agora se diz.
Rotular artigos de opinião pelo nome do autor é um acto de cobardia e de má memória ou de memória pavloviana.
Ora o cão de Pavlov já só salivava quando tocava a campainha, parece que há muita gente que tem a memória condicionada pela motivação política de há muito, que ainda segue as religiões secularistas, como o estalinismo, o maoísmo ou o nazismo, o neoliberalismo que nada tem a ver com o liberalismo no sentido clássico do termo, ou outros "ismos".
Tenham santa paciência, ou como dizia um condenado à fogueira ao ver uma velhinha andrajosa e curvada que atirava um graveto para ajudar as chamas onde seria incinerado pela Santa Inquisição: Sancta simplicitas"...
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