Mário Soares
O velho Mário Soares sabe muito.
No mesmo fim de semana em que João Soares assume candidatar-se à liderança do Partido Socialista, considerando que a actual direcção nacional do PS (de que ele faz parte) não está a fazer uma verdadeira oposição ao governo, considerando que o PS limita a sua intervenção política aos corredores e hemiciclo do Parlamento, o velho Mário Soares indiferente aos disparates que sobre ele se disseram acerca das suas declarações sobre a necessidade de se ouvir os grupos islamistas e tentar compreendê-los, promove na Casa Museu João Soares em Leiria um encontro.
E nesse encontro, para além de estar o PS em peso esteve, voi lá, o próprio Guterres, renascido das cinzas, e falando de política interna, não obstante ele ter estado nos últimos tempos mais empenhado ns suas actividades decorrentes da liderança da Internacional Socialista, de que é presidente.
E Guterres deu o seu primeiro passo para uma eventual candidatura a Belém.
Explicou o que todos sabiamos.
Que a causa directa para a sua saída intempestiva do Govero em 2001 deveu-se à impossibilidade de governar, à "santa aliança" existente entre os partidos à direita e o PCP e BE.
A essa "santa aliança" que inviabilizava toda e qualquer medida, e deu o exemplo do escândalo que era aproveitar a abstenção do deputado de Ponte de Lima para passar durante dois anos o Orçamento de Estado.
Esqueceu-se (ou talvez não) de dizer que o que ele fez, governar entre 1995 e 1999 em minoria foi muito mais corajoso que a atitude de Durão Baroso que tendo ganho as legislativas em 2002 com apenas mais 2% de votos que o PS, não teve a coragem política de formar um governo minoritário, preferindo-se aliar a um pequeno partido de 8%, o CDS-PP para confortavelmente governar o país, e imprimindo a este Governmo a maior carga ideológica neo-conservadora e liberal desde o 25 de Abril de 74.
De caminho deixou a imagem correcta de desapego ao poder.
Guterres explicou-se aos militantes e à população portuguesa.
E nessa explicação foi apadrinhado por Mário Soares, o anfitrião.
Mário Soares percebeu que só Guterres terá capacidade de congregar votos à esquerdea e ao centro para vencer aos pontos (ou aos votos) a previsível e única candidatura séria que a direita tem perfilada de momento: a de Cavaco Silva.
Soares sabe o que faz.
E não é a sua idade avançada que o fez perder qualidades.
Antes pelo contrário.
Prefere o combate político e a troca de ideias em Lisboa, em vez de se deixar continuar confortavelmente instalado no "exílio dourado" de Bruxelas, como deputado europeu.
E mais:
Soares continua a ser uma das garantias de unidade do PS.
Como ontem disse Marcelo Rebelo de Sousa, o futuro de Ferro Rodrigues na liderança do PS depende fundamentalmente dos resultados que o partido obtenha nas próximas europeias de 13 de Junho.
Este avanço de João Soares é prematuro e arriscado, não se lhe negando contudo o facto de ser corajoso.
Simplesmente, se Soares filho quiser apoderar-se da liderança do PS pela esquerda, tem pouca margem de manobra, já que à esquerda de Ferro pouco sobra.
Soares filho pode ter instinto, coragem e ambição.
Mas não é definitivamente o "animal político" que ainda é Mário Soares.
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