quinta-feira, abril 01, 2004

O inofensivo velhinho paralítico.

Outra crónica de Pereira Coutinho com muito sumo é:

“Ahmed Yassin desejava morrer como mártir. Israel fez-lhe a vontade: três mísseis enviados do céu que horrorizaram a Europa e enfureceram o Islão. O ataque a Yassin pode ser imoral. Ilegal. Ou simplesmente inestético: não se pulveriza um velhinho paralítico à saída de uma mesquita.

Sobretudo um velhinho que contribui fortemente para a emancipação das mulheres na região, ao empregar as primeiras bombistas – suicidas.

Eu, pessoalmente, concordo com esta tese: num mundo globalizado, imagem é poder. Mas o circo retórico que acompanhou o caso não deixa de sublinhar a falência moral em que vive a Europa

De um dia para o outro, Israel não matara um criminoso afamado que, desde o início da Intifada, encomendara e abençoara 370 mortes israelitas.

De um dia para o outro, o Hamas deixou de ser a mais demencial organização terrorista, incapaz de aceitar a existência história e Israel e abertamente comprometido na destruição total do Estado Judaico.

De um dia para o outro, a morte de Yassin significou apenas o início da esperada e até compreensível “retaliação” palestiniana – como se o Hamas, no fundo, se limitasse a responder a ataques gratuitos e não fosse, ele próprio, um dos principais responsáveis pelo inferno diário em que vive Israel.

No passado dia 14, um ataque do grupo a um complexo químico provocou apenas 10 mortos. Yassin estava vivo e bem vivo. Alguém notou? Eu notei. E notei mais: notei que, para esta Europa patética e amedrontada, a vida de um espanhol valerá sempre mais do que a vida dispensável de um judeu dispensável.”


Achamos que não podia estar melhor.

Acrescentamos que só mesmo uma democracia patética pode defender o criminoso que incentivava o uso desse bem, cada vez mais raro, que é a mulher, para fins alheios ao seu destino.

P.S. Já ganhámos uma bejeca ao Carvalho. “Now you pay”.

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