Imigração por cá.
"Um velho está sentado num banco com o olhar perdido no horizonte. Os seus olhos cansados procuram o mar mas só conseguem abraçar uma floresta de prédios com vista sobre a solidão. O mar da sua ilha está longe, tão longe, que já nem consegue navegar nas ondas da memória.
"Já não me lembro muito bem quando saí de Cabo Verde", recorda com palavras marcadas pela nostalgia. O que ele não esqueceu é que veio para Lisboa para fugir à miséria. E que passados todos estes anos a sua sina não mudou. "Isto é uma desilusão", reconhece. Uma desilusão tanto maior porque já não esperava ver as imagens que lhe marcaram a infância. "Há muita gente a passar fome aqui", afirma. O seu companheiro de conversa acena afirmativamente com a cabeça. "É verdade", confirma. O velho e o amigo não vivem no Sudão mas no Bairro 6 de Maio, aqui mesmo às portas de Lisboa.
No Bairro 6 de Maio, na Damaia, não há casas. Há barracas de tijolo. Não há ruas. Há ruelas labirinticas com chão forrado de cascalho. É nestes becos estreitos que as crianças brincam, que as mulheres cozinham. São tão estreitos que por vezes só uma pessoa consegue circular. Tão estreitos que em muitos locais o sol não consegue penetrar. "Grande parte das pessoas que aqui vive são de origem africana", diz um conhecedor da realidade. "A maioria veio de Cabo Verde, da ilha de Santiago, mas há também angolanos, guineenses e são-tomenses", acrescenta. Mas há mais: "Nos últimos tempos começaram a chegar pessoas do Leste mas ainda são poucas". Mas sejam eles brancos ou negros, cabo- -verdeanos ou russos, todos os moradores do 6 de Maio têm o mesmo problema. "Nós temos um rótulo colado na testa" , diz alguém que prefere não ser identificado. É que o bairro tem má fama. "Aquilo é só drogados e ladrões" desabafa um vizinho.
Mais.
P.S. 1/ Se há muitos imigrantes a passar fome, não restam dúvidas que devem vir ainda mais. Quantos mais menos fome passam todos.
2/ Também concordamos que eles deviam morar no Parque das Nações. Em Cascais muitos foram realojados em casas novas ( na altura ) com vista para o mar. É uma questão de continuarem a tentar.
3/ Claro que o bairro não merece a má fama. Raramente os vizinhos são roubados pelos moradores do Bairro 6 de Maio. Nem tão pouco andaram a circular baixo-assinados para a instalação de uma esquadra de polícia ali na zona, que felizmente já abriu.
4 Comments:
Seja na onda macho ou na onda pança cheia, é espectacular a criatividade dos seus comentários.
Não falemos da vertente política.
Manela
Como mais ninguém se queixa, se calhar o problema está na sua compreensão dos referidos.
Quando é que os criminosos deixam de ter tanto tempo de antena na comunicação social? Querem fazer-me acreditar que eles são uns santinhos e não fazem mal a ninguém?
Que os polícias é que são maus?
Cristiano Costa
É muito complicado morar ao pé desses bairros. Agora se somos obrigados a tolerar as actividades criminosas dessas minorias, já não somos obrigados a silenciar a nossa voz.
Cristina Leiria
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