segunda-feira, novembro 01, 2004

PESOS E MEDIDAS

Há por aí uma cartilha que aconselha liberdade e tolerância para os amigos (definidos como aqueles que pensam como nós!) e que ameaça excluir os restantes (entendidos como aqueles que ousam pensar diferente, sobretudo quando o fazem em circunstâncias de especial responsabilidade). São curiosos os debates que atravessam Portugal e a Europa, a propósito da livre expressão de opiniões e ideias.Por cá, o afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, após declarações de um membro do Governo, deu lugar a forte controvérsia sobre a liberdade de expressão, envolvendo empresas, jornalistas e políticos.Na política europeia, as palavras de Rocco Bouttiglione sobre homossexualidade e matrimónio geraram uma tempestade de reacções, tendo o parlamento europeu convidado Durão Barroso a excluí-lo da lista de comissários, ameaçando a nova comissão europeia de morte prematura.Um aspecto curioso destes debates tem a ver com a variação da aplicação dos princípios aos casos concretos, em função das respectivas conveniências ideológicas ou partidárias. O princípio da liberdade de expressão é vigorosamente abraçado enquanto meio para atacar adversários políticos, mas já pouco ou nada interessa quando, em certas circunstâncias, penaliza os interesses de quem antes o defendia.

Assim: muitos dos que se insurgem internamente contra pressões e condicionamentos à liberdade de expressão, querem erradicar Bouttiglione da comissão europeia, face ao desplante de ter afirmado as suas convicções, junto de parlamentares europeus que as consideram politicamente incorrectas; e muitos dos que por cá defendem a permanência de Bouttiglione na comissão europeia, não descobrem sombra de mal em algumas evidentes manobras destinadas a controlar a opinião doméstica. A liberdade de expressão é usada, quase em simultâneo e pelos mesmos protagonistas, como critério absoluto ou como empecilho descartável.As convicções religiosas de Rocco Bouttiglione desagradaram a uma parte dos deputados europeus, pouco habituados a que os políticos crentes assumam essa condição. Não conheço todas as declarações do candidato a comissário nem a forma como as enquadrou, mas as reacções que li à sua intervenção surgem marcadas por uma manifesta intolerância. Não se trata de debater e discordar, mas de excluir um político de um cargo europeu, por manifestar convicções que, de resto, não se propôs traduzir em políticas concretas.

Há por aí uma cartilha que aconselha liberdade e tolerância para os amigos (definidos como aqueles que pensam como nós!) e que ameaça excluir os restantes (entendidos como aqueles que ousam pensar diferente, sobretudo quando o fazem em circunstâncias de especial responsabilidade).Quem julgava que a criação do pensamento único era um exclusivo das ditaduras, enganou-se: em democracia há quem tente fazê-lo, recorrendo, em alguns casos, a uma maior sofisticação.


José Luís Ramos Pinheiro

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

De facto há por aí "dmocratas" que se valem de alguns particulares "defeitos" da nossa Democracia por recorrerem, sem escrúpulos, a "técnicas sofisticadas" para sub-repticiamente inculcarem em muitos de nós a "ideia" do que lhes é "conveniente", e fazer "parecer mal" tudo o que pensa quem pensa de modo diferente.

José

segunda-feira, novembro 01, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Por falar nisso. Os tipos do SOS Racismo são uns grandes palhaços. Vejam só:

De acordo com a organização, têm crescido os problemas com o realojamento de pessoas de etnia cigana na zona centro do país, o que, segundo a associação, demonstra falta de sensibilidade por parte das autarquias.

"Estamos preocupadíssimos com os guetos que estão a ser criados em Rio Maior ou em Castelo Branco, à revelia dos parceiros da própria Secretaria de Estado da habitação, no caso de Castelo Branco", diz o dirigente da SOS, José Falcão.

Do quarto encontro SOS Racismo, que hoje termina na Vila da Tocha, Cantanhede, sai ainda um alerta para a exclusão dos emigrantes ilegais.

Por acaso não são os ciganos que se auto-margilizam?

Dédé

segunda-feira, novembro 01, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Todavia ainda acredito que a imbecilidade e a má-fé são coisas diferentes.
A imbecilidade é a incapacidade de compreender os fenómenos. Os imbecis querem respostas simples às coisas, género, "as árvores dão frutos porque Deus as fez assim.""

A má-fé, é outra coisa . A amiba acredita naquilo que diz. Não é cínica, acredita mesmo. É fé! Mas é má, porque não se conforma com os factos. A crença existe à priori, e a amiba condicionada, tende a eleger depois os factos que a racionalizam. Manipula-os e expurga-os de forma complexa e laboriosa, consoante o seu grau de inteligência.
Quem sofre de má-fé, acredita ser aquilo que não é, e não é aquilo que acredita ser. (Você falou de Sartre ainda há dias, e ele, apesar de comunista, ou talvez por isso mesmo e por ter alimentado esse tipo de crença relativamente ao país dos sovietes, trata muito bem o tema da má-fé no livro “L’Etre e le Neant”)

Por isso, quem sofre de má-fé, está pronto a saltar alegremente de argumento. Veja-se o caso do antiamericanismo.
As amibas são facticamente contra os USA e o Ocidente. Mas não o são autenticamente, isto, é, não acreditam que o são. Reclamam-se até amigos do “povo americano” e é exactamente por serem amigos que não se inibem de dizer que são contra.
Paradoxal, não é?
Ou seja, a amiba não é aquilo que é e é aquilo que não é. E por isso não mente, por mais contraditória que a sua posição possa ser.
No caso do Iraque, a amiba não mentia quando, no início da invasão, vaticinava um genocídio, e acreditava na invencível capacidade de resistência do Exército Iraquiano e nas dezenas de milhares de baixas que os americanos iriam sofrer ( e com as quais se regozijava antecipadamente)
E é exactamente por não ter mentido, que não necessita de corrigir o erro. A má-fé, não deixa margem para esses detalhes.
É o caso do avião e do pentágono. Tudo começou com um francês esperto que ganhou umas massas com um livro conspiratório, igual a tantos outros que por aí circulam. As amibas acreditaram e não há facto que as demova. E mesmo que algo aparecesse escrito no céu, em letras de fogo, diriam logo que era mais uma prova da conspiração.
É o delírio da má-fé.
Ou da imbecilidade.

segunda-feira, novembro 01, 2004  

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