Uma análise de um pró-americano
"América perdeu a guerra do Iraque. Isto que muita gente vê pouca gente diz, porque a derrota não foi ainda consumada; e porque ninguém quer pensar no que será o mundo depois de a América ter perdido a guerra e, com ela, o Médio Oriente.
De qualquer maneira, embora perdida, a guerra vai continuar. Como a Alemanha depois da primeira campanha russa, como o Japão depois de Midway, a América não consegue conceber o desastre e irá insistir até ao amargo fim das coisas.
O Iraque não é o Vietname.
O Vietname não passava de uma frívola aventura política que se podia acabar com dificuldade e uma certa humilhação, mas sem pôr em causa nada de verdadeiramente essencial. A retirada do Iraque, além do caos no próprio Iraque, implica a prazo a hegemonia regional do Irão xiita, a queda da Casa de Saud numa Arábia já efervescente, o desaparecimento dos principados do Golfo e a inevitável destruição de Israel.
Muito pior, pelo menos para nós: demonstrada a impotência americana, a doce vida como a conhecemos no "Ocidente" ordeiro e democrático ficaria para sempre condenada. Não há uma saída sensata e sem dor para a tragédia que Bush fabricou; e Bush, apesar do fanatismo e da cegueira, com certeza que não o ignora.
Infelizmente, o desespero leva à violência. Até agora para "reconstruir" o Iraque o exército de ocupação matou ou fez com que morressem 100.000 iraquianos. Um número impressionante se considerarmos que em teoria (e em parte na prática) se limitou a patrulhamento e a operações de polícia. Nos próximos quatro anos não é provável que este "comedimento" dure.
Face ao fracasso da "benevolência", a América deslizará para métodos cada vez mais drásticos. Dentro de uns meses, quando se tornar claro que não se inventa um Estado com um governo que não governa, com militares que não combatem e com eleições no meio do terror, só a força sobrará. Ou a América tenta submeter o Iraque a ferro e a fogo, indiscriminadamente, sem espécie de limite "humanitário", ou se dá por vencida.
Não parece que Bush se dê por vencido, nem que se incomode com o pequeno facto de a guerra estar perdida."
De Vasco Pulido Valente, in PÚBLICO de 5/11/2004
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Como se vê nem todos os pró-americanos e homens da direita democrática são a favor de uma decisão errada e que trará consequências imprevisíveis, mas necessáriamente graves para a região, e para o mundo.
Nem todos os que contestam as políticas da anterior Administração Bush são necessáriamente anti-americanos, como as pobres almas simplistas da nossa praça pretendem fazer passar.
A "Caixa de Pandora" foi aberta em 2003 com esta aventura militar sem sentido e sem justificação.
Sair desta situação requer outras soluções que não passem pela continuidade das operações militares, pela ocupação militar, e pela sustentação de um regime fantoche sem representatividade no Iraque.
E sobretudo sem uma escalada militar que somará mais tragédias à Tragédia iraquiana actual, já que uma guerra politicamente perdida, mais cedo ou mais tarde sê-lo-á militarmente.
Todos têm o direito de errar uma vez nas suas decisões, apesar dos muitos avisos e conselhos que outros deram à Administração americana.
Mas também todos têm o dever de arripiar caminho e procurar soluções que passem por uma coisa muito simples:
O respeito pelas regras do Direito Internacional.
Que tal a futura Administração Bush pensar nisso?
5 Comments:
Ainda é muito cedo para poder afirmar-se que Bush perdeu a guerra no Iraque. Compreende a excitação da esquerda em encontrar uma boia de salvação depois da pesada derrota que sofreram ao insistirem no chavão Vietnam.
Neto
Caro comentador Neto:
Que se saiba, Vasco Pulido Valente não é de esquerda, nem exulta com a tragédia iraquiana.
Apenas se limita a exprimir a sua opinião, que é partilhada pela maioria dos europeus, e do mundo.
Quanto à guera em si, o que eu defendi, é que se tratando de uma guerra politicamente perdida, porque baseada em falsos fundamentos, e com uma solução não aceite pelos iraquianos, mais cedo ou mais terde também será perdida militarmente.
Que sensibilade patética de alguns comentadores aonde a desonestidade é bem patente. Falam agora dos milhares de iraquianos mortos, mas nunca se referem aos milhões aniquilados por Saddam. Isto é sintomático. Os objectivos (desonestos) nem sequer os conseguem camuflar. É, infelizmente, o que hoje impera nalgumas mentes em Portugal.
Antunes
Boa, Mulah.
De facto «a prazo a hegemonia regional do Irão xiita, a queda da Casa de Saud numa Arábia já efervescente, o desaparecimento dos principados do Golfo e a inevitável destruição de Israel.» é um cenário muito possível, até provável, até mesmo a destruição de Israel para a qual os próprios também contribuem.
É incontroverso que a eleição de Bush dá jeito aos Bin Ladens deste mundo. Só não estou seguro que Kerry faria melhor, mas que valeria a pena lá isso valia, porque pior não poderia.
Mompox
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