segunda-feira, fevereiro 28, 2005

É a direita, seu estúpido!

Primeiro de tudo, as devidas cordialidades: é uma honra ter sido convidado pelo amigo Carvalho Negro para escrever no seu (deles/nosso) Carvalhadas online. Não procurarei fazê-lo com insenção, mas darei o meu melhor - com a devida concionante de tempo que, entre um mestrado, três blogs e algumas trivialidades se consegue encontrar. Escreverei quase só acerca de política. Eu venho daqui e é lá que continuarei a escrever sobre as outras mordomias da mente.

Escolhi como primeiro tema a vanguarda. Durante anos fomos obrigados a acreditar em duas verdades fundamentais: não há nada a fazer e a pobreza enrijece o espírito. Tivemos uma revolução e desde então há duas verdades funtamentais: o espírito enrijece a pobreza e não há nada a fazer. A esquerda, dormitório académico de quem quisesse leccionar em Portugal, absorveu o lado mais conservador da sociedade portuguesa. A linguagem comum à direita e à esquerda portuguesas é Portugal, e o seu terrível fado. A esquerda demitiu-se da vanguarda e aceitou que a maioria dos pobres já se converteu à sua doutrina; deixou o país em piloto automático e foi tomar um longo café (sem cafeína). Quando voltar já é tarde demais. Os próximos quatro anos assistirão ao debate de causas fracturantes. Não vai surpreender onde é que a direita e a esquerda se vão posicionar; o que vai surpreender é o conservadorismo com que a esquerda vai lidar com as causas que nacionalizou (será mais correcto dizer estatizou), e a direita só vai precisar de repetir os seus valores de sempre para chocar. A questão é que os valores de sempre da direita passaram de conservadores a radicais.
Esqueçam os vossos preconceitos - quem diga que a tradição é boa, que o aborto deve ser proibido, que a língua portuguesa deve ser protegida, que a autoridade deve poder empregar mais disciplina, que a Economia não faz milagres a quem não os pede, passou de fascista a incómodo ao regime. Se a esquerda me ouve, eu pergunto: onde está o capital? Onde estão os capitalistas? Com quem estão os capitalistas? Estão mesmo com os partidos da direita? Não. Os capitalistas sabem sempre onde devem estar. Estarão com Sócrates durante quatro a oito anos. E até voltarem à direita, esta atrairá os descontentes e os oprimidos do regime. É um paradoxo só para quem comprou a ideia que a esquerda gosta dos pobres a direita dos ricos. O que pode ser bom: os valores vão poder ser discutidos em si mesmos, e não nos ombros de classes, interesses e outras palavras emocionalmente carregadas. A direita colonizou áreas que não lhe pertencem (a discutir num outro post), e a terra está toda por lavrar. Estão abertas as hostilidades.

Adenda: ó amigo Carvalho Negro, não terei direito a ser mais que primo? Assino Luís.

Divulgue o seu blog!