Justiça e os seus comentadores.

"Santos Carvalho, um dos quatro conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça chamados a decidir sobre o futuro de Leonor e João Cipriano, condenados em primeira instância pela morte de Joana, quis absolver a mãe da menina do crime de homicídio. O juiz lembra que o julgamento não teve “testemunhas presenciais”, que os arguidos “remeteram-se ao silêncio”, que “as suas declarações no inquérito não podiam ser valoradas pelo Tribunal” – e, finalmente, “não foi possível o exame directo ao cadáver”, que nunca foi encontrado.O juiz não esquece ainda que as reconstituições dos factos só contaram com a colaboração de João Cipriano – “sem a presença da arguida Leonor Cipriano”.

E pela validação das reconstituições sem a presença da arguida, “como aconteceu” , o que é “ilegal e inconstitucional”, Leonor “devia ter sido absolvida pelo crime de homicídio”. Para Santos Carvalho, a mãe da menina só deveria ser condenada pelos crimes de profanação e ocultação do cadáver; e João, tio de Joana, pelos crimes de ofensa à integridade física, agravada pelo resultado (da morte), ocultação e profanação do cadáver.

“Os argumentos apresentados pela defesa no pedido de anulação da pena continuam a ser válidos: não se sabe se houve homicídio nem o que o aconteceu”, disse João Grade, ontem, ao CM.”

CM

A justiça é muito complicada. Segundo o juiz, as reconstituições dos factos efectuadas somente pelo tio, João Cipriano, e que servem para condenar o próprio, não servem para condenar Leonor pelo crime de homicídio . Mas já servem para a condenar pelos crimes de profanação e ocultação do cadáver. Ocultação do cadáver da própria filha que aos olhos de muitos comentadores parece não ser crime. Os mesmos comentadores que criticam os juízes por defenderem as chapadas como forma de educação.