domingo, maio 21, 2006

O poder dos media.

"O livro de Manuel Maria Carrilho, “Sob o signo da verdade”, tem para mim uma virtude: é um depoimento frontal sobre o poder mediático. Toca directamente alguns dos mais graves problemas que afectam os media, designadamente o seu funcionamento instrumental e os desvios ao código normativo que sustenta a sua legitimidade. A debilidade principal do livro reside no excessivo subjectivismo e psicologismo da análise e na queda inevitável numa teoria que vem sendo liminarmente rejeitada pela melhor tradição teórica sobre a comunicação: a teoria da conspiração. A gravidade do relato fica assim desvalorizada pelo excesso de justificacionismo de Carrilho em relação à pesada derrota que sofreu. Tanto mais pesada quanto hoje a política tem vindo a personalizar-se cada vez mais. Lá onde um rosto pode fazer a diferença. De qualquer modo, alguns dos casos relatados são verdadeiramente exemplares em relação à distorção grosseira das normas que devem reger a informação.

A questão do vídeo, por exemplo, mostra bem como a norma da relevância foi gravemente invertida. Esta, aliás, é uma das regras mais frequentemente distorcidas no sistema informativo. De resto, casos do tipo dos que Carrilho analisa no seu livro acontecem diariamente em jornais e telejornais. Por isso requerem uma análise mais profunda do que a que um protagonista ofendido pode fazer de forma mais ou menos auto-referencial. A verdade é que os media funcionam hoje como um sistema sem um centro preciso de comando. A própria dinâmica do mercado tende a anular esta tendência. Verifica-se que quando o sistema “internaliza” uma determinada tendência, ela tende a reproduzir-se até à exaustão informativa. Até porque os agentes do sistema mediático funcionam dominantemente numa lógica interna circular, em reprodução alargada. Trata-se daquele mecanismo que Pierre Bourdieu designou por circulação circular da informação: os agentes do sistema interagem comunicativamente produzindo um efeito de espiral. É assim que pode acontecer um efeito parecido com a teoria da conspiração. Acresce que as tendências mais amigas do sistema são hoje aquelas que com mais facilidade se impõem no mercado da informação.

A empresarialização e a financiarização do universo mediático têm vindo a favorecer uma tendência que vem sendo designada por tabloidização, com efeitos desestabilizadores sobre o funcionamento do código normativo que deve reger a prática informativa e que, em última análise, sustenta a tão reivindicada legitimidade dos media, a sua função social, a sua função de controlo. Também aqui aconteceu que a aproximação excessiva do personagem Carrilho ao universo tablóide, que tanta notoriedade lhe deu, acabou por sugá-lo para o seu interior produzindo efeitos contraditórios sobre o sistema mediático, em particular sobre o sistema informativo dito de referência. O acidente mediático de Carrilho talvez possa ser explicável exactamente por esta “discrasia”, esta má mistura explosiva. É que a analítica tablóide é uma contradição nos termos.

Mas há outra questão que deve ser posta. Justamente a do poder dos media. Sou daqueles que pensa que, sendo grande o poder dos media sobre a decisão político-eleitoral, não considera que eles se possam substituir à componente orgânica do voto democrático. É evidente que os grandes blocos político-ideológicos mantêm uma pregnância eleitoral incontornável. Por exemplo, a grande dicotomia esquerda-direita continua a funcionar e a determinar as grandes tendências eleitorais. Não é portanto aceitável a tese de que a derrota clamorosa de Carrilho (fazendo mesmo regredir aquele que é o núcleo duro orgânico eleitoral do PS) seja atribuível a uma conspiração, por mais concentrado que tenha sido o ataque, mesmo que se assuma que a crescente personalização da política aumenta o poder da variável mediática.

A verdade é que num caso muito conhecido, o caso de Berlusconi, em 1994, com um poder de fogo mediático extraordinário, e em ambiente de personalização extrema, os estudos demonstraram que somente cerca de 10% do eleitorado foi condicionado decisivamente para votar Berlusconi. Neste caso extremo, mas também em geral, o que se admite (mas a controvérsia é grande) é que os media possam fazer a diferença relativamente a blocos previamente muito equilibrados. Isto em campanha eleitoral, já que os diagnósticos sobre os efeitos prolongados (fora das campanhas) são mais difíceis de verificar. Estaria Carrilho já marcado, decisiva e negativamente, pelos efeitos prolongados dos media e como resultado da má mistura?
"
_
João de Almeida Santos

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O livro de Carrilho permite a seguinte conclusão: Até que ponto chega o mau perder, a falta de ‘fair play’ e de humildade em aceitar democraticamente o resultado das eleições em que os eleitores, de forma clara, o preteriram a favor de Carmona Rodrigues.

domingo, maio 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

pois é carrilho mau perder é tão mau! quanto ao polvo ja se sabe que ha interesses instalados na comunicação social. As cunhas fazem parte de Portugal e vão acabar por destruir o País. Mas Carrilho vc vive das cunhas. Vá lá não se queixe que é vereador e deputado. 2 ordenados não é pra todos os corruptos deste País...

domingo, maio 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Pensava eu (coitado !!!) que esta gente FINA e TITULADA usava 'verniz' do melhor,daquele que aguenta tudo,mas não. Eles usam 'verniz' da 'Loja dos 300' que parte com a maior das facilidades!... Isto era assim: "metiam-se todos no mesmo barco, levavam-se para o alto mar e abriam-se as comportas". Já era um começo para Portugal (pobre Portugal) ficar melhor.

domingo, maio 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O que é que o Carrilho queria da imprensa? Quando simulou o casamento com a Barbara foi a cena que se conhece lenções a tapar venda apenas a uma revista e a um jornal. Nasce o filho não deixa que fotografem o filho parte a maquina foto a um fotografo etc... Depois queria simpatia por parte dos jornalistas1

domingo, maio 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Cool blog, interesting information... Keep it UP » » »

terça-feira, fevereiro 06, 2007  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!