Cabecinhas pensadoras.

"Daniel Cohn-Bendit, eurodeputado e ícone de 1968, critica a selecção alemã de futebol por não reflectir a “realidade” da Alemanha. Prova? Não tem sequer um jogador turco. Para poupar desgostos, é melhor não dizer ao sr. Daniel que nenhuma das selecções presentes no Mundial continha, pelo menos oficialmente, mulheres, anões, adoradores de Satanás e membros da comunidade Gay, Lésbica, Bissexual e Transgénica ou lá o que é.

De qualquer modo, o objectivo do ex-revolucionário era sublinhar o “multicuturalismo” da equipa francesa, a qual, na deliciada perspectiva dele se parece “exactamente” com a França”. Eis uma verdade irrefutável. Ambos, equipa e país, são exímios em fomentar depressões no próximo. Ambos são um justo retrato da arrogância e da decadência. E ambos teimam em exprimir as angústias com tocante franqueza.

A diferença é que as vedetas (chatice, ia escrever os “magrebinos”) da bola interagem através de cabeçadas, enquanto os anónimos (livra, ia escrever “os magrebinos” outra vez) dos subúrbios preferem, como se constata diariamente, a incineração sumária. Mas só porque, na falta de italianos a jeito, o confronto do crânio com os automóveis é um bocado desigual."

Alberto Gonçalnes na "Sábado"