domingo, agosto 13, 2006

Ficar de fora ?

"Ontem a polícia inglesa impediu um atentado, que teria morto centenas de pessoas, que viajavam inocentemente de Inglaterra para a América. A ideia era fazer explodir em voo um número ainda indeterminado de aviões. Foram presos 21 indivíduos, mas com certeza escaparam alguns. Para começar, é bom perceber que uma operação desta envergadura não se improvisa. Exige um conhecimento técnico avançado, liberdade de movimentos, muito dinheiro e uma extensa rede de cumplicidades. Mais do que isso, precisa para se desenvolver de uma atmosfera favorável. O Ocidente, no caso a Inglaterra, oferece tudo isto aos terroristas. Respeita o seu direito à cidadania, protege a propagação de uma doutrina de intolerância e ódio e não pune, como devia, o incitamento à violência. Não estamos perante vítimas sem defesa de uma "globalização" cruel. Estamos perante gente sofisticada, que o Ocidente educou e deixou crescer.
O fracasso da invasão do Iraque provocou, naturalmente, uma contra-ofensiva xiita. No próprio Iraque, no Irão e no Líbano, essa ofensiva paralisou o Ocidente e forçou Israel a intervir. A farsa das negociações, com a França ou sem a França, presume que a guerra com o Hezbollah pode ser localizada e contida. Não pode. Por um lado, qualquer trégua ou interposição internacional só favorece o Hezbollah, que terá tempo de recuperar e continuará fatalmente a receber armas. E, por outro, o mundo muçulmano não vai ignorar a manifesta fraqueza política e militar da Inglaterra e da América. No Afeganistão os taliban voltaram. A boa-vontade do Paquistão arrefeceu. Há sinais de confluência do terrorismo xiita e do terrorismo sunita. E o ataque, planeado em Londres, mostra até onde o islão se dispõe a ir.
Infelizmente, o homem médio da Europa e mesmo da América não acredita na realidade de um islão agressivo. A tese oficial da "minoria extremista", que a grande e virtuosa maioria muçulmana condena, encoraja a complacência e o desinteresse. Tirando o preço da gasolina, quem se importa com as querelas do Médio Oriente e do Afeganistão ou com o que dizem e não dizem em Hamburgo ou em Londres clérigos furibundos, de turbante e barba? Mas, desta vez, não basta não ver e não ouvir. O Ocidente perdeu a iniciativa e os foguetões do Hezbollah, que chegam a Haifa, também chegam a Inglaterra em forma de bomba. Não há maneira de ficar de fora."
Vasco Pulido Valente
Público, Agosto 11, 2006
(cortesia de um comentador anónimo)
Quer queiramos ou não aceitar, o Ocidente é parte do "problema" (principalmente, pelos EUA), sendo que, os atentados terroristas em Espaço Europeu, confirmaram (para o futuro) essa posição, nos conflitos com o Mundo Árabe, por isso, creio que, inevitávelmente, será também o Ocidente, parte da solução.
Não será extemporâneo, falar em "ficar de fora" ?
Se a Inglaterra oferece uma atmosfera favorável a qualquer actividade terrorista, que diremos de Portugal, com três décadas de política irresponsável e ineficaz, no âmbito da imigração - legal e ilegal ?
É preciso muito pouco para se ser terrorista, um (forte) ideal e uma boa "dinâmica de grupo" (mesmo com poucos elementos no seu seio), e aí temos, ... uma célula de terrorismo, que pode ser de "gente que o Ocidente [viu nascer], educou e ajudou a crescer".
E vai ser concerteza. Wherever ...

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