A campanha.
"A campanha mal começou e ambas as facções ultrapassam os limites do ridículo a cada instante, numa (...) exibição de fanatismo. Domingo passado, a minha cidade natal assistiu a uma caminhada pelo ‘sim’ no referendo. Assistir não é bem o termo: ninguém sai de casa para contemplar 200 sujeitos com rosas brancas na mão. Mas os dirigentes do PS, do PCP e do BE, mais dois ou três nomes da ‘cultura’ e do desporto e um punhado de anónimos de facto percorreram a marginal de Matosinhos, a distribuir flores pelas transeuntes que não os conseguiam evitar. No final, lançaram as que sobraram (as flores, não as transeuntes) ao mar, em ‘memória’ das ‘vítimas’ do aborto clandestino. No final, um participante anónimo jurou que tem vergonha da lei actual.
Aceita-se que um rapaz naquela triste figura sinta vergonha: o curioso é que não seja de si próprio. De qualquer modo, isto evidencia os sacrifícios a que os partidários do ‘sim’ estão dispostos para demonstrar o seu ponto de vista. Em princípio, quem se deixa ser filmado a atirar rosas ao mar já não tem nada a perder, incluindo a decência. Imagino que esta espécie de desespero seduza e converta gente à causa.
O problema é que o outro lado não facilita. Para domingo que vem, os partidários do ‘não’ também preparam a sua caminhada, sabe Deus com que coreografia e adereços. Eis a verdade: a campanha mal começou e ambas as facções ultrapassam os limites do ridículo a cada instante, numa empenhada exibição de fanatismo que confunde, e devia comover, o eleitorado.
Ainda anteontem, por exemplo, a dra. Edite Estrela anunciou o apoio do parlamento da Dinamarca ao ‘sim’ português. Por acaso, a posição dinamarquesa não chegou para suspender o referendo e declarar a vitória da despenalização. A luta, portanto, vai continuar, mediante tempos de antena, comícios, missas, acusações mútuas de barbárie e chorosas manifestações em prol da ‘vida’ ou da ‘mulher’. Por mim, aguardo com ansiedade os pequenos pormenores que as próximas semanas nos reservam, além, claro, das deliberações parlamentares da Líbia e da Turquia. Sei que verei cançonetistas a explicar porque é que o ‘sim’ é vital, e futebolistas a provar o contrário. Sei que verei políticos a revelar convicções íntimas, sem que alguém lhes tivesse perguntado. Sei que verei testemunhos de senhoras arrependidas por abortar e de crianças traumatizadas por não terem sido abortadas. Sei que terei saudades.
Infelizmente, hoje tornou-se moda enxovalhar a campanha. Como o dr. Sampaio, muitos pedem um “debate digno”, e não percebem que a virtude deste debate (digamos) consiste justamente na sua desmesurada histeria. A questão do aborto, no fundo insolúvel e irrelevante, é apenas pretexto para uns tantos portugueses mostrarem que acreditam na intervenção cívica, e que são capazes de esforços desumanos e patéticos para a praticar. Mesmo que finjam, fingem com aprumo, e é altura de reconhecermos o valor dos envolvidos. Nem vale a pena esperar o resultado do referendo (e seria injusto votar nele): num certo sentido, são todos vencedores. E um País que reúne algumas das suas mais destacadas personalidades em tamanho circo só nos pode suscitar orgulho. Orgulho e um medo desgraçado. "
Alberto Gonçalves
Aceita-se que um rapaz naquela triste figura sinta vergonha: o curioso é que não seja de si próprio. De qualquer modo, isto evidencia os sacrifícios a que os partidários do ‘sim’ estão dispostos para demonstrar o seu ponto de vista. Em princípio, quem se deixa ser filmado a atirar rosas ao mar já não tem nada a perder, incluindo a decência. Imagino que esta espécie de desespero seduza e converta gente à causa.
O problema é que o outro lado não facilita. Para domingo que vem, os partidários do ‘não’ também preparam a sua caminhada, sabe Deus com que coreografia e adereços. Eis a verdade: a campanha mal começou e ambas as facções ultrapassam os limites do ridículo a cada instante, numa empenhada exibição de fanatismo que confunde, e devia comover, o eleitorado.
Ainda anteontem, por exemplo, a dra. Edite Estrela anunciou o apoio do parlamento da Dinamarca ao ‘sim’ português. Por acaso, a posição dinamarquesa não chegou para suspender o referendo e declarar a vitória da despenalização. A luta, portanto, vai continuar, mediante tempos de antena, comícios, missas, acusações mútuas de barbárie e chorosas manifestações em prol da ‘vida’ ou da ‘mulher’. Por mim, aguardo com ansiedade os pequenos pormenores que as próximas semanas nos reservam, além, claro, das deliberações parlamentares da Líbia e da Turquia. Sei que verei cançonetistas a explicar porque é que o ‘sim’ é vital, e futebolistas a provar o contrário. Sei que verei políticos a revelar convicções íntimas, sem que alguém lhes tivesse perguntado. Sei que verei testemunhos de senhoras arrependidas por abortar e de crianças traumatizadas por não terem sido abortadas. Sei que terei saudades.
Infelizmente, hoje tornou-se moda enxovalhar a campanha. Como o dr. Sampaio, muitos pedem um “debate digno”, e não percebem que a virtude deste debate (digamos) consiste justamente na sua desmesurada histeria. A questão do aborto, no fundo insolúvel e irrelevante, é apenas pretexto para uns tantos portugueses mostrarem que acreditam na intervenção cívica, e que são capazes de esforços desumanos e patéticos para a praticar. Mesmo que finjam, fingem com aprumo, e é altura de reconhecermos o valor dos envolvidos. Nem vale a pena esperar o resultado do referendo (e seria injusto votar nele): num certo sentido, são todos vencedores. E um País que reúne algumas das suas mais destacadas personalidades em tamanho circo só nos pode suscitar orgulho. Orgulho e um medo desgraçado. "
Alberto Gonçalves
8 Comments:
Outros, falam ainda do atraso, sem saberem do que falam, pois hoje gastam-se fortunas em bruxos e feiticeiros, profanam-se cemitérios, ataca-se tudo e todos sem pudor, no fim apontam erros que os há, de alguns, numa instituição que hoje é o porto de abrigo de muitos. O aborto só serve irresponsáveis, homens e mulheres, porque não se previnem nem se preocupam com consequências dos próprios actos.
Há outro, pequeno reparo. Parece que ninguém sabe, porque deve ter a barriga cheia, que I.C., é a única instituição a nível mundial que dá de comer ao todos que a procuram e, onde a deixam operar. Onde, realmente há miséria, não de hábitos, mas de todo tipo. Quanto ao passado, ninguém tem a consciência limpa. Basta ver a perseguição feita aos católicos e sua Igreja, na História do Mundo.
1) Estes debates, mesmo que apimentados com avisos de excomunhão às ovelhas tresmalhadas e reacções incendiadas de ovelhas em risco de se tresmalhar, são úteis pois permitem-nos sentir o pulso à sociedade e aos seus valores. A excomunhão, pena que nunca me preocupou muito, e que mais não faz que empobrecer a Igreja através da diminuição dos seus membros, devia ser aplicada com justiça ao ver o estado a que os líderes mundiais deixaram chegar Africa, onde crianças morrem de fome todos os dias, sem um brinquedo e sem conhecer o sentido da palavra "amanhã", para não mencionar a invasão de países e os milhares de mortos resultantes, por razões mais que insidiosas, pergunto-me se não é tempo de a Igreja começar por excomungar aqueles que estão à frente destes horrores?
Cada um é livre de decidir, sem impor ideias a ninguem, nesta questao, cada um com a sua consciencia, eu voto não.
Se me perguntam se sou a favor então digo Não! Eu amo a vida!Mas se olho p/a uma criança a pedir esmola na rua e uma instituição cheia de crianças desprovidas de um colo e amor de mãe então digo SIM! Sou a favor da vida feliz. Se o nosso estado fosso competente no q/respeita ao planeamento familiar e no apoio às familias n/estariamos aqui a discutir e a gastar tanto dinheiro em campanhas.
Enquanto o país viver coagido moralmente por individuos desta natureza estatá sempre na cauda da Europa.
concordo com o inconformado!Só se critica quem faz algo; a Igreja, apesar de muitos defeitos tem um papel social muito importante.Criticar é fácil, mas gostava de ver quem comenta, dizer algo sobre a obra social. Quem é para umas coisas, deve-o ser para outras.
À Maria:
Então se estamos a gastar tanto dinheiro em campanhas, porque não revertemos, digo, os partidos não revertem as fabulosas verbas recolhidas, em função de reais medidas de protecção à família, à mulher e à criança, em vez de ser em tudo menos no que é verdadeiramente importante, a médio e longo prazo, para a sobrevivência do país?!
Porque não reivindicamos isso mesmo?!
Enviar um comentário
<< Home