A verdade é dura.

"Manuel Pinho não tem tido vida fácil no Governo. Atacado pela oposição e dentro do próprio PS, está entre os primeiros na bolsa de apostas dos ministros expulsos do Executivo à primeira remodelação. Parece que tudo o que faz é pouco e sempre corroído pelas suas inabilidades políticas. A comunicação não é o ponto forte de Pinho. Tem um jeito especial para dizer o que não deve no momento em que não deve. E na visita à China, não falhou. Quando falou caiu-lhe o céu em cima e a oposição não perdeu tempo a pedir a sua demissão.

Mas desta vez, o ministro da Economia está inocente. Limitou-se a dizer a verdade. E até pecou por defeito. O salário mínimo português é o mais baixo da União Europeia a quinze, mostram os números do Eurostat. E esta triste realidade não é exclusiva das camadas mais pobres. Vários estudos mostram igualmente que os gestores ganham menos do que os seus congéneres europeus. Custa a ouvir? Acredito.

Ainda assim, vários economistas dizem que os portugueses ganham demais. Olivier Blanchard, antigo director do MIT, disse recentemente em Lisboa que a recuperação da economia nacional só é viável se houver uma descida nos salários acima de 20%. Porque convém não esquecer que Portugal está a divergir da Europa desde o início do milénio devido a um problema de competitividade externa. Ou seja, a crise não é ficção. E para as exportações recuperarem é preciso que custem menos e para isso os trabalhadores têm que ganhar menos porque produzem pouco. Outra verdade difícil de ouvir.

E por isto Manuel Pinho até foi habilidoso, já que nas suas palavras omitiu este facto importante. Mais do que o nível salarial, a dificuldade da economia portuguesa está na baixa capacidade produtiva.

Sejamos claros, os detractores do ministro têm, nesta situação, uma posição cínica. Não colocam em xeque as palavras do ministro pela sua veracidade, mas pela ocasião. E invocam o patriotismo. É a imagem do país que está em causa, dizem. No estrangeiro devia ter mentido com todas as suas forças, retratando o Portugal com cores idílicas, defendem ainda.

Pois bem, as regras básicas do marketing dizem que o pior a fazer é mentir. Um produto é o que é. E Portugal, à partida, não é bom, nem bonito para quem quer investir. Apesar dos esforços feitos nos últimos anos.

Portanto, as questões que deviam estar em cima da mesa são outras. Primeiro, o que fazer para subir a produtividade. Só assim, os salários podem subir para níveis europeus sem assassinar as empresas. Segundo, o que tem Portugal para oferecer à China. Por que raio quererá um empresário chinês gastar um tostão na economia nacional. À primeira vista, não se vê grande coisa. Já o inverso não é verdade. O mercado chinês deve ser explorado de forma inteligente. Daqui a uns anos faça-se o balanço desta visita oficial e seria bom que os resultados fossem além de umas migalhas."

Bruno Proença