quinta-feira, julho 26, 2007

Paradoxo da política

"Toda a gente resolveu analisar as novas políticas do Governo de incentivo à natalidade por esse prisma - o da natalidade.

Mas há outro, que olha políticas públicas como esta não pelo efeito que provocam no universo a que se destinam mas, antes, pelos seus efeitos colaterais. E esta, vista assim, tem efeitos perigosos. Parece complicado, mas é simples.

Os governos são quase sempre avaliados pela eficácia das suas decisões. Na verdade, o Governo recebe uma boa nota quando existe percepção do impacto social das medidas que toma. Isso significaria que o apoio financeiro agora prometido às grávidas, olhado dessa forma, seria uma medida eficaz. E é. O problema é que são medidas como esta que afastam os cidadãos das urnas de voto. Absurdo?

O americano Bruce Ackerman escreveu um livro que marcou o final dos anos 90. Chamou-lhe “Stakeholding Society” e defendia, em resumo, a existência de um rendimento garantido para todos. O que o levou a essa reflexão - de que todos merecem uma fatia do bolo social - não foi a constatação da pobreza. Isso conhece-se. Foi a evidência de que as políticas públicas dos governos esqueciam recorrentemente as classes médias. A tese é tão simples quanto verdadeira: a grande dose das políticas públicas - sejam elas fiscais, de educação, apoio social ou quaisquer outras - destinam-se quase sempre às camadas mais pobres da população ou, em alternativa, à minoria dos mais ricos. Os remediados - a grande maioria, na verdade - ficam sempre pelo caminho. Esses remediados são as classes médias.

O problema, aponta Ackerman, é que são esses remediados os maiores contribuintes líquidos para o orçamento do Estado. São eles quem paga mais impostos. E aí percebe-se a questão: se eles pagam mas, depois, notam que boa parte dessas políticas não lhes são destinadas, desligam. Não querem saber. Sentem-se esquecidos. Percebem agora porque razão cada vez menos gente vota nas eleições?

Estas medidas do ministro Vieira da Silva - acertadas em teoria - cometem este erro que Ackerman sublinhou em 1999: destinam-se apenas aos mais necessitados - aqueles cujas famílias, em conjunto, ganham cerca de 2000 euros brutos por mês. E os outros, que compõem essa imensa maioria que paga a maior fatia dos impostos? Bom, esses, mais uma vez, não recebem nada.

Quando chegar o momento de votar, serão exactamente esses quem não se dará ao trabalho de ir até à mesa de voto. Deixarão isso para os outros - os mais pobres. E assim, com ideias capazes como esta, se contribui para afastar ainda mais eleitores e partidos políticos. "

Martim Avillez Figueiredo

Etiquetas:

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Áparte dos habituées que só sabem falar mal seja do que for, seja em que altura, esta dissertação não poderia estar mais correcta. E porquê? - Sou um dos tais que no global o casal tem mais de 1999€ mensais (e não cada um como acima se diz) - Todas estas medidas no meu caso não vou usufruir das mesmas (como até aqui também não usufruia pois não tinha direito pelos tais 1999€). - Pago todos os meus impostos e não são poucos - Existe uma rede de creches pública na zona onde moro, mas como o nosso rendimento conjunto é acima da tal fasquia, recusam-me o bebé para ir para a creche. - Estou a pensar ter outro filho! Será que vale a pena? Quem vai cuidar dele? Terei de os ter em creches particulares? E quanto vou pagar pelos dois, mais a casa, mais o carro, alimentação, etc... Se calhar os 2000€ mensais não chegam! E o balúrdio de impostos que pago? Para onde vai esse dinheiro? Eu devo estar na classe dos que mais pagam de impostos (30%) + Seg. Social e ter algum serviço por parte do Estado para mim, NADA! Isto é assim: QUEM PAGA IMPOSTOS NÃO RECEBE NADA E QUEM NÃO PAGA OU FOGE TEM TODOS OS DIREITOS, REGALIAS, SUBSÍDIOS E OUTROS QUE MAIS! Não estou contra a existência destes apoios aos mais desfavorecidos, estou sim e completamente de acordo com este artigo, contra a falta de apoios a quem paga os seus impostos e quem mais contribui para que eles possam existir para os outros!

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Finalmente,alguém descobre a pólvora! Não será porque os políticos são uns aldrabões,uns corruptos,alguns mesmo malcriados e ditadores,que os eleitores lhes fazem o manguito e se manifestam passivamente?É que o Povo já não é tão ignorante como eles o querem fazer!

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Se a obra citada abriu luz sobre os resultados práticos dos incentivos, a Freakonomics, de S.Levitt e S.Dubner, vai mais longe: os incentivos têm, sempre, um resultado oposto ao pretendido. E os autores demonstram com factos, portanto deixam para trás o campo da teoria. Mas e em Portugal? qual o resultado dos incentivos à formação profissional? Carros de alta gama. Qual o resultado do rendimento mínimo? tráfico de droga. E o do abono de família? natalidade negativa. E o subsídio de desemprego? Trabalho informal e ilegal que aumenta o desemprego. E os subsídios para a pesca e agricultura? o fim destes 2 sectores. Para quando o fim dos subsídios?

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Muito interessante, mas isto ressolvia-se com um sistema fiscal mais plano, sendo que o problema da baixa natalidade é algo periódico nas sociedades desenvolvidas actuais, basta olhar para os paises nórdicos onde a tendência se inverteu não só na base de políticas socias, mas também com a evolução de alguns valores...o que acontecerá em Portugal!

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Finalmente alguém a acertar na Mouche!!! As classes médias são sempre ignoradas, esquecidas e maltratadas pelos governos, porque o bonito e que fica bem na TV é ajudar os probrezinhos, muitas vezes marginais!!! Mas as classes médias que trabalham, pagam impostos e tem que se resignar em viver nos suburbios a ser assaltadas e tormentadas, que não tem tempo para ver os filhos, que pagam balurdios por creches e material escolar, essa classe é sempre, sempre ignorada! Só quando se fizerem politicas para estes e que se está a governar para o País!

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Em cheio.. em cheio a análise produzida.. Há que procurar outros parametros para avaliar a justeza e o impacto das politicas públicas além daqueles que são apresentados de forma superficial pela comunicação.. Esses, em geral, estão feridos por raciocínios simplistas e de "tesouraria".. Mais cheque para habitação "social", mais cheque por cada filho, mais cheque para um computador a cada jovem.. etc.. E se se dessem ao trabalho de verificar o que Peter Drucker há muito tempo equacionou como a "geração sandwich".. Isto é, a geração pós-guerra que ficou carregada de impostos e contribuições para sustentar reformas e apoios aos velhos inactivos, e ainda tem a cargo os filhos que não atingiram a idade de autonomia produtiva.. Muita "teoria" que por aí abunda sobre a baixa natalidade invocando as creches (inexistencia delas), os subsidios (parcos), a actividade laboral das mulheres.. etc.. explica-se simplesmente pelo facto de que quem trabalha e produz estar sobrecarregado com encargos de duas gerações.. Como não pode eliminar uma, evita produzir outra.. (Peter Drucker chamou "suicídio coelctivo" aquilo que estudou a fundo nas sociedades do Japão, Alemanha e Itália)... ps- * Falando da tal inexistencia de creches deve dar-se atenção ao caso CTT e á gestão iluminada da última administração de Carlos Horta e Costa.. Quando no mundo anglo-saxónico de economias liberalizadas e altamente concorrenciais se tem dado enorme valor ás designadas «family-friendly corporate» (i.e. com creches próprias, com horários flexiveis para as mães, com programas para apoiar em diversos aspectos os funcionários que são pais..), o iluminado Horta e Costa fechou a creche dos CTT's em Lisboa sob o pretexto que não era o core business da empresa!! (Um administrador com um CV de enormissima qualificação).. Agora, com Luis Nazareth, nunca se ouviu que se fosse repensar tal disparate, pese embora os CTT serem um dos maiores empregadores nacionais..

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Este é mais um caso que não se resolve directamente com dinheiro. Preferível criar condições para que seja mais fácil ao casal criar os filhos. Apoiando as creches, públicas ou privadas, apoiando os estudos, facilitando aos joves casais o acesso à habitação, isentando os jovens casais com filhos de parte dos encargos com a segurança social, apoiando as empresas com benefícios fiscais na contratação de casais com filhos, incentivando as empresas a criar e gerir creches para os filhos dos seus colaboradores. Atribuir um subsídio pago de uma vez pode servir como propaganda política, mas não terá qualquer efeito prático. É mais uma medida pontual, sem efeitos estruturais. Mais um desperdício dos nossos impostos!

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O problema da natalidade não se combate com dinheiro mas sim com condições. De que serve ter dinheiro para criar os filhos quando pelo não temos tempo para lhes dar uma educação ? Que tal começar a obrigar as empresas a respeitarem os horários de trabalho ? Não é chegando às 20.00 horas a casa que os pais conseguem dar atenção aos filhos, ou só pretendemos fazer filhos e depois dar-lhes uma educação de 3º mundo ?

quinta-feira, julho 26, 2007  
Anonymous Anónimo said...

HaHaHaHaHaHaHaHaHa

---» Os Parasita-Palhaços falam, falam, falam... mas não falam em pagar (sim pagar!... aquilo que vier a ser necessário!... até se conseguir alcançar a média de 2.1 filhos por mulher) os custos envolvidos na construção de uma SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: uma sociedade dotada da capacidade de renovação demográfica.

---» De facto, a MAIORIA dos europeus são uns 'dignos' herdeiros das sociedades europeias do passado (sociedades de exploradores de escravos): eles (a maioria - vulgo Parasita-Palhaços) adoram realizar negociatas de lucro fácil... à custa de alienígenas (leia-se, não-nativos); um exemplo (de como curtir sem pagar): os Parasita-Palhaços criticam a Repressão dos Direitos das Mulheres... mas depois (como quem não quer a 'coisa')... procuram aproveitar a boa 'produção demográfica' que é proveniente de povos aonde existe uma grande Repressão dos Direitos das Mulheres ---> querem andar a curtir abundância de mão-de-obra servil imigrante, e querem andar a curtir a existência de alguém que pague as pensões de reforma... apesar de... nem sequer constituírem uma sociedade aonde se procede à renovação demográfica!!!
Nota: Fica caríssimo pagar os custos de renovação demográfica: incentivos monetários à natalidade, despesas com a fertilidade dos casais, despesas com a gravidez das mulheres, despesas em Saúde e Educação até à idade adulta...


NOTA: Aquela MINORIA de europeus que pretende estar com dignidade no planeta... deve reivindicar o legítimo Direito ao SEPARATISMO em relação aos Parasita-Palhaços.


P.S.
---» Não admira que muitos povos/sociedades estejam a desmoronar-se como um castelo de cartas: são povos/sociedades que NUNCA provaram serem capazes de construir uma sociedade sustentável (ou seja, uma sociedade dotada da capacidade de renovação demográfica) sem ser à custa da repressão dos Direitos das mulheres.

sexta-feira, julho 27, 2007  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!