terça-feira, agosto 28, 2007

Mentiras

"Há uma pintura enorme que domina a sala de reuniões do escritório de Joe Berardo em Lisboa. O quadro retrata Richard Nixon – atrás de uma máscara com rosto bicudo de águia predadora – e simboliza a mentira, o engano, o instinto de sobrevivência que justifica todas as acções, mesmo as piores.

O clima que se respira no BCP é assim. Não há o mínimo de confiança entre as pessoas que se sentam à mesa para negociar a paz. Todos põem máscaras que enganam a realidade. Na verdade, não há verdade: ninguém confia em ninguém. Hoje apertam-se as mãos, amanhã as mesmas mãos empunham machados. Não há inocentes nesta guerra. Nem vítimas, nem reféns, nem lealdade. São todos algozes com interesses declarados: controlar o maior banco privado português. O bolo é recheado e apetitoso. A cobiça suculenta.

Ontem, como se sabe, terá ficado mais ou menos definido o início de uma plataforma de entendimento entre o grupo dos 7 e a Teixeira Duarte. Ou seja, entre o lado que apoia Teixeira Pinto e a facção que sustenta Jardim Gonçalves. Depressa, demasiado depressa, começou a falar-se de paz e de acordo no BCP. Não é verdade. É falso e prematuro que já exista uma trégua. Pela primeira vez nos últimos meses, um grupo representativo de accionistas está, de facto, a tentar construir uma ponte capaz de manter as aparências na assembleia geral de segunda-feira. Ao contrário do que aconteceu no trágico 6 de Agosto, na nova AG os piores instintos e demónios podem, assim, não tomar de assalto os acontecimentos. No entanto, se para dançar o tango são precisos dois protagonistas, também para selar um acordo no BCP – nem que se limite apenas à AG de segunda-feira –, também é imprescindível que as partes em disputa acertem o passo. Ora, o que era verdade ontem à tarde (que o entendimento estava fechado), à noite já não era assim. Conclusão: será ainda preciso um longo fim-de-semana de negociações para conseguir fechar a trégua momentânea.

E que trégua é essa? O alargamento do Conselho Geral e de Supervisão do banco, como pretendia Teixeira Pinto para esvaziar o poder de Jardim, mas não na extensão desejada pelo presidente do conselho de administração do banco. A versão que está sobre a mesa é menos vitaminada, menos desfavorável a Jardim, menos ambiciosa, talvez mais consensual.

Confirmando-se este acordo – a que se está a dar demasiada importância, apesar de ser apenas cosmético –, a crise no BCP fica resolvida? Não, não e não. Não havendo embate entre Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves, devido a uma trégua de conveniência, não haverá vencedor nem vencido na segunda-feira. A guerra continuará e a solução adiada para novo confronto em nova assembleia geral – a quarta! –, ainda este ano ou já no próximo. Claro, esta trégua – a existir –, pode dar impulso para que os protagonistas ajam de forma mais responsável e se entendam de vez. O BCP precisa urgentemente que isso aconteça ou vai começar a faltar-lhe o oxigénio. Hoje, no entanto, não é líquido que o futuro seja tão sorridente para o banco. Pelo contrário: a noite das facas longas veio para ficar.
"

André Macedo

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este banco serve como perfeito exemplo do que deve não ser um banco a actuar no país e a guerra interna que o está a corroer e felizmente a destruir, corresponde á máscara de avidez e torpeza moral que sempre caracterizou a sua relação com os "clientes" sugados até ao tutano, que o sustentaram e o enriqueceram a coberto de uma classe política que religiosamente o apoiou e seguiu na sua peugada até á situação actual! Tal como este banco também esta classe política o acompanhará inexoravelmente na descida para os infernos! A "porra" da democracia, tal como é compreendida nos países mais evoluídos da sociedade mundial, tem que passar a ser regra neste país! Como não podem excluir sistematicamente 1/3 dos portugueses que não se revêem neste sistema canalha, são esses abstencionistas que mudarão Portugal! Para melhor e onde não haverá lugar para bancos como este que só tem prejudicado o país e os portugueses!

terça-feira, agosto 28, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Hoje pagamos muitos mais impostos do que "antigamente". Hoje a censura existe mas já não é executada por uma "comissão" com esse nome.Acabaram com as explorações agrícolas e deixaram fechar as fábricas porquê? Os empregos são para os dos partidos, filhos e afilhados. A insegurança do Povo não pára de crescer: falta de trabalho, custos da saúde e medicamentos, assaltos constantes e impunes às pessoas e bens. A polícia não tem força e a "justiça" não funciona e é muito cara. Fecharam centros de saúde, maternidades e escolas. Inauguraram casinos e imponentes estádios de futebol. A droga destrói a juventude e as famílias. A corrupção e a política destrói a sociedade.

terça-feira, agosto 28, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Democracia é isso: um regime que não é exatamente do povo. É um regime com ações no mercado mundial, preferenciais (e bota preferenciais nisso...). É o regime da injustiça mais abjeta, cínica e inescrupulosa; é o regime da dissimulação, do conchavo, das mentiras vestidas de verdades incontestes, mentiras oficiais e cuja conveniência as tornam leis. É, afinal, o regime da manipulação, da torpeza e da malícia maldosa. Ela não tem sequer a graça das ditaduras ridículas, que nos fazem rir dos discursos . Na democracia, os engraçados somos nós. Eles riem, porque quem é governo ri à toa, igual aos ricos; nós somos apenas os palhaços de plantão.

terça-feira, agosto 28, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Em todas a revoluções, sempre houve lutas e combates........ aqui o cenario repete-se, uma luta sangrenta pela passagem à geração seguinte, onde o mais habilidoso será o vencedor...... mas, caso não se aproveite as circunstacias ja criadas, aproveitando o factor negativo que já se criou para depois de poder palmilhar um caminho novo rumo ao futuro, e, trocar os velhos do Restelo, creio q será bem pior numa segunda ronda de combates......

terça-feira, agosto 28, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Com o devido respeito,isto parece aquelas lutas de meninos ,que de tanto puxarem para si o boneco acabam por rasgá-lo,sem ficar para ninguem.Aqui não é o caso ,porque cada personagem deve ter engordado bem o "pé de meia".O sr Botin não quererá fazer mais uma conquista na banca portuguesa?

terça-feira, agosto 28, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Nixon, Bom Presidente

terça-feira, agosto 28, 2007  

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