Portugal e a crise
"O ministro das Finanças bem tenta fazer passar a mensagem de estabilidade e de que a crise financeira internacional não afectará o País. É o seu dever. Mas, à medida que o tempo passa e que vão sendo conhecidos novos desenvolvimentos a nível internacional, mais se vão avolumando as dúvidas. O comité económico e financeiro da União Europeia, ao dizer que o nosso país é dos mais vulneráveis à crise, só veio adensar a insegurança numa área já referida pelo director-geral do FMI, Rodrigo Rato, quando, na passada semana, esteve em Portugal: o elevado nível de endividamento da população portuguesa, essencialmente a taxas variáveis, e a exposição do sistema bancário nacional ao estrangeiro. Estes factores potenciam o alastramento dos efeitos da crise à economia real.
Em termos teóricos, todos compreendem a necessidade de manter ou subir taxas de juro para controlar a inflação. Na prática, quem está no terreno depara-se com situações dramáticas a cada dia. Todos os meses aumenta o número de famílias que, genuinamente, não conseguem fazer face aos encargos com as dívidas de crédito e entram em situação de incumprimento. Não se trata, naturalmente, de uma situação criada pela crise financeira. É pior, porque mostra o facto de muitas famílias portuguesas ainda estarem a braços com o clima que vem a afectar o País há vários anos. A actual crise internacional só pode agravar ainda mais esses casos. Uns provocados por negligência dos consumidores, outros por alteração involuntária das condições de vida, através de fenómenos como o desemprego, doença ou outros. Até agora, as transferências de créditos de banco para banco, geralmente com melhores condições, permitiram inúmeros refinanciamentos que, agora, serão inviabilizados pelo aperto nas condições de selecção e acesso ao crédito por parte dos bancos.
O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, já admitiu que o preço do dinheiro vai aumentar. E se vai aumentar para os bancos, é certo que irá reflectir-se depois nos seus clientes. Assim, o financiamento externo dos bancos portugueses está a sofrer um agravamento da ordem dos 45 a 55 pontos base, dependendo da dimensão do banco. Esta subida, só por si já dará azo a um aumento da ordem dos 10% nas prestações mensais.
Um aumento desta ordem irá, por certo, causar dificuldades a muitas famílias. E enquanto os académicos e a teoria económica recomendam a subida de taxas de juro para controlar a inflação, quem está no terreno e assiste ao drama dos portugueses responde que a inflação vai ficar controlada, mas uma boa parte das famílias pagará esse controlo com língua de palmo. Curiosamente, Alan Greenspan veio dizer esta semana que estão enganados os que pensam que as taxas de juro baixas provocam pressões inflacionistas. “Isso vai mudar”, afirmou, fixando as suas preocupações no aumento do preço do petróleo – que se diz deverá atingir os 85 dólares até ao fim do ano – e no envelhecimento da população. O certo é que Portugal, como pequeno país da UE, tem de se sujeitar à vontade e aos interesses de França e Alemanha. Cabe ao BCE e a Jean-Claude Trichet tomar a decisão quanto à Zona Euro. Nos EUA, a Reserva Federal e Ben Bernanke resolveram cortar 50 pontos base na taxa de referência, que passou de 5,25% para 4,75%. A crise está aí e tudo indica que os portugueses v ão sofrer bastante."
Francisco Ferreira da Silva
Em termos teóricos, todos compreendem a necessidade de manter ou subir taxas de juro para controlar a inflação. Na prática, quem está no terreno depara-se com situações dramáticas a cada dia. Todos os meses aumenta o número de famílias que, genuinamente, não conseguem fazer face aos encargos com as dívidas de crédito e entram em situação de incumprimento. Não se trata, naturalmente, de uma situação criada pela crise financeira. É pior, porque mostra o facto de muitas famílias portuguesas ainda estarem a braços com o clima que vem a afectar o País há vários anos. A actual crise internacional só pode agravar ainda mais esses casos. Uns provocados por negligência dos consumidores, outros por alteração involuntária das condições de vida, através de fenómenos como o desemprego, doença ou outros. Até agora, as transferências de créditos de banco para banco, geralmente com melhores condições, permitiram inúmeros refinanciamentos que, agora, serão inviabilizados pelo aperto nas condições de selecção e acesso ao crédito por parte dos bancos.
O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, já admitiu que o preço do dinheiro vai aumentar. E se vai aumentar para os bancos, é certo que irá reflectir-se depois nos seus clientes. Assim, o financiamento externo dos bancos portugueses está a sofrer um agravamento da ordem dos 45 a 55 pontos base, dependendo da dimensão do banco. Esta subida, só por si já dará azo a um aumento da ordem dos 10% nas prestações mensais.
Um aumento desta ordem irá, por certo, causar dificuldades a muitas famílias. E enquanto os académicos e a teoria económica recomendam a subida de taxas de juro para controlar a inflação, quem está no terreno e assiste ao drama dos portugueses responde que a inflação vai ficar controlada, mas uma boa parte das famílias pagará esse controlo com língua de palmo. Curiosamente, Alan Greenspan veio dizer esta semana que estão enganados os que pensam que as taxas de juro baixas provocam pressões inflacionistas. “Isso vai mudar”, afirmou, fixando as suas preocupações no aumento do preço do petróleo – que se diz deverá atingir os 85 dólares até ao fim do ano – e no envelhecimento da população. O certo é que Portugal, como pequeno país da UE, tem de se sujeitar à vontade e aos interesses de França e Alemanha. Cabe ao BCE e a Jean-Claude Trichet tomar a decisão quanto à Zona Euro. Nos EUA, a Reserva Federal e Ben Bernanke resolveram cortar 50 pontos base na taxa de referência, que passou de 5,25% para 4,75%. A crise está aí e tudo indica que os portugueses v ão sofrer bastante."
Francisco Ferreira da Silva
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