Apenas... até breve!
"Enquanto o mundo roda a uma velocidade vertiginosa, Portugal continua ancorado nas discussões bizantinas, agarrado a uma pequenez estratégica.
O principal pecado dos jornalistas é a vaidade. Achamo-nos mais importantes do que na realidade somos, não obstante o mundo ter dado boas mostras de poder avançar sem o nosso contributo. Nestas páginas abusei da vaidade. Digamos que os levei a pensar que sou uma pessoa importante. No entanto, e lá bem no fundo, tudo o que vos escrevi durante este tempo acerca dos assuntos económicos e mesmo sobre alguma questão de filosofia política não foi mais do que uma desculpa para lhes falar de mim, para me confessar, para me descrever. Ainda no âmbito deste artigo, permitam-me que incida no erro. Vou contar-lhes um assunto pessoal. Unidad Editorial, que em Espanha publica o “El Mundo”, entre outras publicações, comprou recentemente a Recoletos, o que a transforma na nova proprietária do Diário Económico. Pois bem, estes senhores, repletos de amabilidade e consideração, fizeram o obséquio de me nomear director da “Actualidad Económica”, uma revista espanhola que no próximo ano celebra o seu 50º aniversário e que permanece líder de audiência. Como poderão compreender sinto-me bastante lisonjeado e agradecido. O problema é que, como sou uma pessoa “limitada”, terei de deixar de escrever no Diário Económico, facto que provavelmente muitos dos leitores vão agradecer. Quando o Martim, o director deste jornal, me convidou para este meu compromisso quinzenal, fiquei algo perplexo. Jamais teria imaginado escrever em português, mas é de notar que nos últimos tempos a profissão de tradutor tem conquistado uma eficácia notável.
Em todos os textos que escrevi, o meu objectivo final, para além do tema do mesmo, foi a defesa sem rodeios, rotunda e por vezes deliberadamente exagerada, do liberalismo e da economia de mercado. E também a crítica radical do socialismo como modelo de pensamento e de estratégia política no sentido mais amplo da palavra. Peço desculpa. Sou dos que pensam que a única possibilidade para que o mundo prospere e melhore, principalmente para os mais pobres, assenta no capitalismo puro e duro. Mas também sou dos que refutam a ideia – que a esquerda tão bem conseguiu vender em nome da rentabilidade sobre a base do vitimismo –, de que estamos inundados pelo neoliberalismo. Mas pelo contrário, Espanha e Portugal são pacientes do pensamento socialista. Na minha opinião, ambos precisam de uma imersão no liberalismo caso pretendam desempenhar algum papel de destaque no panorama internacional durante os próximos anos. Todavia, sou algo céptico a este respeito.
Gosto muito de Portugal, e os meus filhos têm uma camisola do Sporting, no entanto, não tenho grande confiança no futuro destas duas instituições. Em relação ao mais importante, isto é, o país, assusta-me a mediocridade da classe política, a sua falta de ambição, o seu tom especulativo. É verdade que as coisas têm melhorado ligeiramente nos últimos tempos, porém, o reformismo posto em prática é tíbio, com horizontes reduzidos e sem grandes objectivos. E assim não é possível chegar a bom porto. Enquanto o mundo roda a uma velocidade vertiginosa, Portugal continua ancorado nas discussões bizantinas, agarrado a uma pequenez estratégica. E é pena, porque em Portugal, à semelhança do que acontece em muitos locais do mundo, existe talento mais do que necessário para recolocar o país no local que merece, historicamente falando. Prova disto é este jornal, um exemplo fascinante de ambição, que exibe uma mistura de inconformismo, de perfeccionismo e de uma ansiedade saudável que é apanágio de todos os que aqui trabalham e que lutam para que o produto de cada dia seja o melhor possível. Como seria Portugal se o país funcionasse com o mesmo grau de exigência, de responsabilidade e de ilusão que caracteriza os meus colegas do Diário Económico? Sem dúvida que teria um horizonte mas amplo e prometedor. Para que vejam como sou imparcial dir-lhes-ei que tudo o que digo acerca de Portugal se aplica, em boa parte, a Espanha. Neste momento, o meu país atravessa uma situação crítica. E a minha opinião já é mais do que conhecida: os quatros anos de Zapatero foram, pura e simplesmente, nefastos. Apesar de alguns dados económicos concretos que poderiam contradizer esta avaliação tão austera, o principal motivo desta minha antipatia é a filosofia encetada pela legislatura, ou seja, um socialismo do mais genuíno que se possa imaginar. E o socialismo genuíno não quer cidadãos mas sim súbditos, não quer pessoas responsáveis mas sim dependentes, prefere os passivos aos activos ... em suma, mina e acaba por destruir o potencial de criação de riqueza que existe em todas as pessoas. E aqui me detenho. Foi um prazer usufruir da vossa companhia. É provável que me encontrem por aqui de vez em quando, se o Martim achar por bem, mas neste momento devo corresponder à confiança depositada em mim pela empresa nesta minha nova qualidade de director da “Actualidad Económica”. Viva Portugal!."
Miguel Angel Belloso
O principal pecado dos jornalistas é a vaidade. Achamo-nos mais importantes do que na realidade somos, não obstante o mundo ter dado boas mostras de poder avançar sem o nosso contributo. Nestas páginas abusei da vaidade. Digamos que os levei a pensar que sou uma pessoa importante. No entanto, e lá bem no fundo, tudo o que vos escrevi durante este tempo acerca dos assuntos económicos e mesmo sobre alguma questão de filosofia política não foi mais do que uma desculpa para lhes falar de mim, para me confessar, para me descrever. Ainda no âmbito deste artigo, permitam-me que incida no erro. Vou contar-lhes um assunto pessoal. Unidad Editorial, que em Espanha publica o “El Mundo”, entre outras publicações, comprou recentemente a Recoletos, o que a transforma na nova proprietária do Diário Económico. Pois bem, estes senhores, repletos de amabilidade e consideração, fizeram o obséquio de me nomear director da “Actualidad Económica”, uma revista espanhola que no próximo ano celebra o seu 50º aniversário e que permanece líder de audiência. Como poderão compreender sinto-me bastante lisonjeado e agradecido. O problema é que, como sou uma pessoa “limitada”, terei de deixar de escrever no Diário Económico, facto que provavelmente muitos dos leitores vão agradecer. Quando o Martim, o director deste jornal, me convidou para este meu compromisso quinzenal, fiquei algo perplexo. Jamais teria imaginado escrever em português, mas é de notar que nos últimos tempos a profissão de tradutor tem conquistado uma eficácia notável.
Em todos os textos que escrevi, o meu objectivo final, para além do tema do mesmo, foi a defesa sem rodeios, rotunda e por vezes deliberadamente exagerada, do liberalismo e da economia de mercado. E também a crítica radical do socialismo como modelo de pensamento e de estratégia política no sentido mais amplo da palavra. Peço desculpa. Sou dos que pensam que a única possibilidade para que o mundo prospere e melhore, principalmente para os mais pobres, assenta no capitalismo puro e duro. Mas também sou dos que refutam a ideia – que a esquerda tão bem conseguiu vender em nome da rentabilidade sobre a base do vitimismo –, de que estamos inundados pelo neoliberalismo. Mas pelo contrário, Espanha e Portugal são pacientes do pensamento socialista. Na minha opinião, ambos precisam de uma imersão no liberalismo caso pretendam desempenhar algum papel de destaque no panorama internacional durante os próximos anos. Todavia, sou algo céptico a este respeito.
Gosto muito de Portugal, e os meus filhos têm uma camisola do Sporting, no entanto, não tenho grande confiança no futuro destas duas instituições. Em relação ao mais importante, isto é, o país, assusta-me a mediocridade da classe política, a sua falta de ambição, o seu tom especulativo. É verdade que as coisas têm melhorado ligeiramente nos últimos tempos, porém, o reformismo posto em prática é tíbio, com horizontes reduzidos e sem grandes objectivos. E assim não é possível chegar a bom porto. Enquanto o mundo roda a uma velocidade vertiginosa, Portugal continua ancorado nas discussões bizantinas, agarrado a uma pequenez estratégica. E é pena, porque em Portugal, à semelhança do que acontece em muitos locais do mundo, existe talento mais do que necessário para recolocar o país no local que merece, historicamente falando. Prova disto é este jornal, um exemplo fascinante de ambição, que exibe uma mistura de inconformismo, de perfeccionismo e de uma ansiedade saudável que é apanágio de todos os que aqui trabalham e que lutam para que o produto de cada dia seja o melhor possível. Como seria Portugal se o país funcionasse com o mesmo grau de exigência, de responsabilidade e de ilusão que caracteriza os meus colegas do Diário Económico? Sem dúvida que teria um horizonte mas amplo e prometedor. Para que vejam como sou imparcial dir-lhes-ei que tudo o que digo acerca de Portugal se aplica, em boa parte, a Espanha. Neste momento, o meu país atravessa uma situação crítica. E a minha opinião já é mais do que conhecida: os quatros anos de Zapatero foram, pura e simplesmente, nefastos. Apesar de alguns dados económicos concretos que poderiam contradizer esta avaliação tão austera, o principal motivo desta minha antipatia é a filosofia encetada pela legislatura, ou seja, um socialismo do mais genuíno que se possa imaginar. E o socialismo genuíno não quer cidadãos mas sim súbditos, não quer pessoas responsáveis mas sim dependentes, prefere os passivos aos activos ... em suma, mina e acaba por destruir o potencial de criação de riqueza que existe em todas as pessoas. E aqui me detenho. Foi um prazer usufruir da vossa companhia. É provável que me encontrem por aqui de vez em quando, se o Martim achar por bem, mas neste momento devo corresponder à confiança depositada em mim pela empresa nesta minha nova qualidade de director da “Actualidad Económica”. Viva Portugal!."
Miguel Angel Belloso
6 Comments:
Agradeço-lhe ,sr Belloso, este epílogo,que considero feito por amizade.Sabemos que os paises levam tempo mudar e que o fenómenos pendulares são permanentes.Assim é ,que o "zapaterismo" está, com lei da Memória, a acertar contas com a Espanha de há sete e três décadas atrás,conforme a contenda .Em simultâneo , com sr Rovira a obrigar-nos a falar inglês em Barcelona ,enquanto uns "democratas" queimam o retrato do rei e os eleitos do país Basco rejeitam a sombra da bandeira espanhola.Não lhe retribuo com "viva España!"do "nacionalismo espanhol" que muito aprecio , porque começa a não se perceber o que é.Volte sempre, com "temple"...
OBRIGADO MIGUEL . Tenho muita pena da sua saida, mas mais pena tenho de continuar a viver num país mesquinho cheio de inveja e onde a mentalidade continua no seculo xv. Os seus textos nunca deixaram de tocar em pontos muito sensiveis para os portugueses pena que os nossos jornalistas em vez de andar sempre a falar de OPA´S e Mourinhos não tenham tido a coragem de tocar nos pontos criticos e chamar as coisas pelo seu nome. Já sei que vai levar nas orelhas assim como eu pelas nossas ideas, mas tal como voçe diz a esquerda só mesmo nos livros de teoria. Talvez um dia Portugal esteja ´afrente de Espanha mas primeiro um novo 25 de Abril, desta vez para uma nova classe de politicos governar com pés e cabeça, e não para o bem estar deles.
Eu tambem quando vivia e estudava em Portugal sempre achava o capitalismo puro e duro a melhor coisa possivel, alicercada numa meritocracia, pois as duas coisas nao andam dissociadas. As voltas da vida fez-me viver um pouco na America do Norte e noutros paises anglo-saxonicos onde o liberalismo e o capitalismo puro sao quase uma religiao. Portanto, sei do que falo e posso comparar as 2 experiencias: 1. O Sr. Belloso sabia que se nao fosse um rapazinho saudavel, que acredito que seja para proliferar tanta conversa tonta, e vivesse nos US e nao tiver um bom seguro medico, eles metem-lhe num taxi e vai dar uma curva?? ...em paises mais "sociais" como portugal e espanha ninguem morre senao tiver um seguro medico 2. A relacao quase homo-erotica entre os paises puramente capitalistas e o dinheiro leva-os a limites incompreensiveis onde o "vale-tudo-ate-arrancar-olhos" prevalece. O status e a ganancia de mostrar o que se adquiriu acabou com os seus valores familiares e de sociedade. Felizmente para nos, sociedades latinas, a familia ainda e um centro fulcral da sociedade e escondida pela sua sonbreceria nem reparou que o sonho de qualquer americano, ingles, holandes, alemao, etc eh juntar dinheiro e ir viver para paises como espanha, portugal? Sabe quanto colegas meus holandeses estao a tentar arranjar uma vidinha em Portugal, para cuidarem dos filhos e viverem numa sociedade com valores?? ...nao cuspa na sopa, e nao faca como a maior parte dos cretinos que polvilham estes sites sempre a criticar o propio pais e nao sabem como as coisas sao la fora, ok?
Li o artigo e não percebi o que o Senhor Belloso, quer dizer.
Capitalismo puro e duro é igual a liberalismo?
Em oposição o socialismo?
Que socialismo?
Não sei já agora não quero saber da formação deste senhor, da informação já me apercebi.
O grupo que compra o outro e por aí fora é o quê. Puro e pouco ou muoto duro?
Impuro?
O que é a Espanha?
Estamos incluídos?
Já agora que gosta tanto dos mercados, dos mercados não regulados como se de um organismo são se tratasse explique lá o que é esta coisa dos sub prime, do mercado dos derivativos e da bolha que vai rebentando em Espanha e que decerto rebentará com ela, Espanha e conosco atrás.
Escreva EM pORTUGUÊS, coisa que lhe deve custar bastante.
Somos todos tontos?
Todos desconhecemos o que é o Consenso do Sr Williamson?
Todos sabemos que o liberalismo, mais ainda?... é para aplicar em todo o mundo.
Lembro aqui um tema:
Chora por mim Argentina e já agora chora por mim Nova Zelândia, exemplos de imposição do seu liberlismo, neo.
Volte para Espanha porque lá há mais ursos que cá senhor Bellosa, ou Belloso, e visões preto e branco chegam as que nos impingem os portugueses vendidos.
Peço desculpa pelos erros de ortografia, mas é do tempo, para publicar no haloscan.
Mas percebem o retrato.
Para mim tanto se me dá.
Não gosto é de gente que escreve com lágrimas de crocodilo e que nos quer fazer passar a todos por tontos.
A propósito o comentário de Luso é pertinente e decente.
Revela revolta contra este género de tontos e de espertos que querem fazer todos os outros passar por tontos.
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