sexta-feira, outubro 19, 2007

Repetitivo

"Os mesmos. Façamos um exercício de memória: recordemos o PSD dos últimos vinte anos e tentemos ajustar o seu habitual discurso de renovação às caras que ao longo deste tempo assumiram cargos dirigentes no Partido. A conclusão é simples e sublinha a grosso a diferença que existe entre as habituais declarações de intenções, as recorrentes manifestações de necessidade e a realidade pura e dura.

O PSD nos últimos vinte anos renovou-se zero. Há um pessoal político que se vai revezando ora no apoio a um líder ora no apoio a outro, remetendo-se a períodos de nojo pelo prazo de tempo que durar a sobrevivência daqueles em quem não se revêem, para logo na primeira oportunidade surgirem de braço dado com uma qualquer alternativa de que necessitem e que deles necessite.

É já uma mecânica quase automática, para a qual poucos olham e que expressa dois problemas: por um lado, o ‘deficit’ de capacidade de atracção não apenas de novos protagonistas, mas, essencialmente, de novo conhecimento e de novo pensamento, e por outro, o consequente aprofundar da distância entre o partido e o seu mercado alvo, a sociedade civil.

Fechado. O que antecede resulta de causas concretas. Entre outras, as duas maiorias absolutas de Cavaco Silva. As mesmas ajudaram a produzir um naipe de pessoas que, a benefício de uma conjuntura muito favorável (maioria absoluta) e propícia à criação de uma certa lógica clientelar, se perpetuaram nos lugares e fossilizaram as estruturas. Secaram todo o terreno fértil que se vislumbrava à sua volta e olharam para quem vinha de fora com um misto de sobranceria interna e de desconfiança. Afinal, características muito próprias de quem teme perder espaço e poder. Desenvolveram carreiras partidárias e profissionalizaram o CV político. Há hoje uma profissionalização da política que, por consequência, dita uma muito maior preponderância do factor pessoal em detrimento de uma qualquer visão de interesse nacional. E quanto mais se caminha neste sentido, mais se estreitam as margens de captação dos que estão fora destas lógicas.

Hoje por hoje olhamos para quem vem com a nova liderança do PSD e concluímos que, mais função, menos função, já todos por lá passaram. É certo que os partidos não devem abdicar de um adquirido de conhecimento corporizado por quem apresenta um CV de experiência política de inequívoco valor, considerado este numa perspectiva de serviço ao País. Mas também é certo que as novas propostas só o são se compreenderem um justo balançar entre a experiência dos anos passados e o arrojo de quem quer agarrar o futuro
."

Rita Marques Guedes

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