Apenas política...
Os alemães são rigorosos na semântica.
Não se coíbem de, na frente de qualquer pessoa, traçarem com uma tudesca Genauigkeit (exactidão) a linha que separa os amigos dos conhecidos.
“Apresento-lhe um amigo [Freund] meu” ou “Permita-me que lhe apresente um conhecido [Bekannte]” são expressões frequentes nas relações entre alemães.
O mesmo acontece no seu relacionamento com gentes de outras latitudes e longitudes, indiferentemente da nacionalidade, raça, género, cultura ou casta.
Muitos estrangeiros ficam chocados com esta “franqueza”. Acham-na “rude”, “fria”, “pouco educada”, “antipática”.
Os germanófobos até a adjectivam de “racista”, “classista”, “elitista” ou “arrogante”.
Os meridionais, sobretudo latinos, convivem melhor com o faz de conta, a ambiguidade, a hipocrisia.
A anfibologia se não é uma ciência, pelo menos, é uma arte que lhes merece aprovação e cultivam-na com astúcia e requinte. Mas, tanta fraseologia para quê?
„O Texas tornou-se um símbolo da presidência Bush, e a montra para os que considera seus amigos. Quem é convidado para o rancho de George W. é recebido num clima de intimidade e camaradagem ― é um «bush’s buddy».
„O Texas tornou-se um símbolo da presidência Bush, e a montra para os que considera seus amigos. Quem é convidado para o rancho de George W. é recebido num clima de intimidade e camaradagem ― é um «bush’s buddy».
Cortar cerce esta percepção foi a principal preocupação de Angela Merkel [chanceler federal da Alemanha] desde o início da sua visita.”
Com esta primeira frase, também destacada a negrito no original, o semanário alemão Der Spiegel faz uma deliciosa descrição da cimeira EUA-Alemanha na texana quinta da família W. Bush ― Prairie Chapel Ranch. Acompanhados pelos respectivos consortes ― Laura e Joachim ― vestidos informalmente, ambos aproveitaram a ocasião para passar em revista os grandes temas das respectivas agendas (domésticas e globais). “Bush é, goste-se ou não, uma realidade que ainda dispõe de uma apreciável margem de manobra ― prossegue a revista de Hamburgo ― apesar de tudo, até Janeiro de 2009. Por outro lado é um presidente que crescentemente busca o diálogo.
Com esta primeira frase, também destacada a negrito no original, o semanário alemão Der Spiegel faz uma deliciosa descrição da cimeira EUA-Alemanha na texana quinta da família W. Bush ― Prairie Chapel Ranch. Acompanhados pelos respectivos consortes ― Laura e Joachim ― vestidos informalmente, ambos aproveitaram a ocasião para passar em revista os grandes temas das respectivas agendas (domésticas e globais). “Bush é, goste-se ou não, uma realidade que ainda dispõe de uma apreciável margem de manobra ― prossegue a revista de Hamburgo ― apesar de tudo, até Janeiro de 2009. Por outro lado é um presidente que crescentemente busca o diálogo.
Assim, um encontro privado, sem o stress nem o frenesim de Washington, oferece uma oportunidade única para, em conjunto, reflectirem sobre questões estratégicas ― desde as relações com a Rússia, Irão, Afeganistão, ao futuro da NATO e às negociações sobre o Kosovo. Mais uma vez: como parceiros, não como amigos”, sublinhou o Spiegel.
Os assessores da líder democrata-cristã e chanceler federal avisaram-na repetidamente para não seguir o exemplo do presidente Sarkosy. O comportamento do francês, aquando da recente visita à Casa Branca, foi excessivamente “amistoso”, senão mesmo subserviente, contrastando com a velha tradição gaullista de diálogo duro, franco e, acima de tudo, vertebrado com “o aliado ultramarino do Atlântico”…
Merkel seguiu os conselhos à risca. Apesar das amenidades e tentativas de Bush para transmitir uma imagem de grande proximidade e cumplicidade políticas, a chefe do bloco central que governa em Berlim ― uma tensa coligação entre sociais-democratas (SPD) e democratas-cristãos (CDU) ― sobre a delicada questão nuclear iraniana, foi clara.
A diplomacia deve ser o único caminho para gerar o necessário consenso com o regionalmente poderoso Irão. A solução é a via pacífica e não o conflito militar. Diálogo em vez de bombas.
Para irritação dos seus parceiros de coligação, em Berlim, admitiu todavia aceitar uma nova escalada de sanções contra Teerão, via ONU, através da imposição de obstáculos políticos e económicos mais ásperos, caso os canais diplomáticos se revelem ineficazes.
Do relato da revista alemã, resulta um provável “nim”. É o tipo de solução conveniente para um dilema que pode salvar publica e politicamente a face de ambos. Na prática é igual a varrer o lixo para debaixo do tapete. Bush pede a Merkel uma postura mais agressiva e inflexível com o programa nuclear iraniano.
Para tanto jogará a sempre infalível carta: “E se os iranianos fabricam a bomba, e ameaçam directamente a sobrevivência do Estado de Israel?”.
A questão é sempre incómoda para um alemão, face às eternamente insolventes contas entre nazismo e sionismo.
Como contrapartida o ex-governador do Texas prometerá mais tropa americana para o Afeganistão e maior empenhamento dos EUA na luta contra o aquecimento global. Como irá Merkel responder amanhã? Uma retórica insuficientemente pacífica e diplomática sobre a questão iraniana, se for interpretada em Berlim como uma concessão a Washington poderá ser o princípio do fim da paz podre que anestesia as políticas públicas, sobretudo macroeconómicas, na capital (política) do €…
Pedro Varanda de Castro
MRA, Dep. Data Mining Consultor
Pedro Varanda de Castro
MRA, Dep. Data Mining Consultor
19 Comments:
As "diferentes" perspectivas Merkel vs Brown, têm uma única explicação: Contrariamente aos Ingleses, os alemães foram pouco afectados pelas acções "patrióticas" do Sr Mugabe. Qual ética, qual moral, é tudo uma questão de interesses...Nós é que somos tão ingénuos que, mesmo sem querer, somos tentados em ver na política dos Estados princípios de conduta moral e ética, somos uns permanentes e eternos ingénuos.
Foi pena não ter aproveitado para pedir ao Brown que participe de Mugabe ao Tribunal Internacional.É que eles,cobardemente,querem atirar o ónus para cima da presidencia portuguesa.Sinal de que ainda devem existir algumas libras a render no Zimbawe
Mas atenção, o sr. GBrown não passa de um "símio amestrado" comparativamente a TBlair, este sim um político bastante "mulo" ... esse será o grande detalhe. Até porque a nova adm dos States não será composta com toda a certeza por "invertebrados" ...
Merkel, o Brown e muitos outros lideres Europeus gostam é dos bombardeiros e das ogivas nucleares da colónia judaica-israelita chamada "Estados Unidos", então se o Obama ganhar é que é bom! Como já disse antes aqui na Europa usa-se o anti-americanismo labregó-reacionário para nos afastar do facto de que não somos muitos diferentes deles, "é o petróleo, é o imperialismo é para espalhar democracia, é o Saddam que comia bebés, é isto é aqueloutro" tudo teatro Esquerda vs Direita para que os ceguinhos não saberem quem está a mexer os cordelinhos.
Resta acrescentar que ambos sabem que as nações europeias enfrentam novos e dificeis problemas e que actuar em conjunto vai facilitar a vida."O nosso vizinho fez isto e aquilo e nós vamos segui-lo..".É o que nós, pobretas, fazemos relativamente à Espanha ,mesmo sem comparação possivel
Um hipotético novo "eixo Paris-Berlim" nunca poderia ter a natureza do anterior e, sobretudo, nunca teria o mesmo impacto numa UE a 27.
As relações transatlânticas,mesmo que voltem a uma certa convergência em diversas áreas,não voltarão ao statuo quo ante.Não se trata de natureza dos actores ou de novos "modelos" relacionais.É apenas o resultado do reforço crescente da RP CHINA,da India, do regresso da Rússia à cena global e da reorganização dos poderes regionais em curso. Nada que Emmanuel Todd não tivesse previsto ( tal como previra o fim abruto do "comunismo").É a vida.
ninguém julgue que se vai reeditar, com Angela Merkel e Nicholas Sarkozy, uma segunda versão da “dupla Kohl-Mitterrand”. Muita coisa é diferente: as experiências pessoais, a cultura política e, acima de tudo, as actuais circunstâncias políticas. Merkel e Sarkozy governam dois países “diferentes” daqueles que existiam no início dos anos de 1990. Devido a uma rara convergência de interesses, após a queda do Muro de Berlim, Paris e Bona não só concordaram em acelerar a integração europeia, com a União Monetária e a União Política, como receberam o acordo dos outros Estados Membros para o fazer. Ainda bem que assim foi. O problema foi a interpretação que muitos fizeram daquela convergência excepcional. Julgaram que passaria a ser a regra da política europeia, e não se aperceberam da raridade do momento. As coisas voltaram, entretanto, a uma certa “normalidade”, onde as convergências são mais difíceis de alcançar. Aqueles que usam a palavra “crise” para descrever os tempos normais revelam a sua vulnerabilidade às ilusões da década de 1990.
a relação transatlântica não voltará atrás. Também aqui as circunstâncias políticas têm mais peso do que as preferências e os desejos pessoais. A Guerra Fria criou uma ordem de segurança excepcional na Europa, quer para o bem como para o mal. Neste domínio, está a regressar-se igualmente a tempos mais normais. Estes avisos são importantes para não oscilarmos entre o optimismo irrealista, “vamos regressar a um tempo de harmonia”, e o pessimismo resignado, “tudo o que se construiu desde 1945 está mais ou menos condenado a acabar”.
Espere-mos que não apareçam mais Chiracs, Bushs, Schroeders, enfim penso que são dos tipos de politicos que nunca fizeram nem fazem falta a ninguém, dado o nível baixo que demonstraram para os respectivos cargos. Acho que no artigo, apenas faltou referir que as divergencias entre os ALIADOS, apenas aconteceram dado o nível destes chefes de estado.
O problema é que os Chiracs, Bushs e Schroeders, ou kem quer que seja, sao eleitos e/ou destituidos sempre pelos mesmos BIDELBERGS? ILUMINATS etc..
apesar da partilha de valores, os Estados Unidos e os países europeus precisavam de ter mais interesses em comum. Os valores, por si só, não são suficientes para manter uma aliança estratégica. Haveria mesmo o risco de continuarmos a ser “amigos”, mas deixarmos de ser aliados. As coisas estão, no entanto, a mudar, e europeus e americanos estão a voltar a ser aliados. Antes de mais, aprenderam com a experiência do Iraque. Em Washington, percebeu-se que os aliados europeus são mais importantes do que julgou a administração Bush em 2002 e 2003. Na Europa, aprendeu-se que as divergências em relação aos Estados Unidos provocam divisões com custos políticos muito altos.
Além disso, as relações pessoais entre políticos decisivos dos dois lados do Atlântico são muito melhores do que eram há uns anos. O novo Secretário da Defesa norte-americano olha para a Europa de um modo muito mais positivo do que o seu antecessor. Mas é no Departamento de Estado que está a grande diferença. Colin Powell entendia a importância da aliança com os europeus, mas não tinha disponibilidade nem condições políticas para investir na relação transatlântica. Condoleeza Rice tem essa disponibilidade e criou as condições políticas. Encontra-se frequentemente com os europeus e empenha-se e cultiva esses contactos. A sua sensatez diz-lhe que as alianças não devem ser nunca um dado adquirido. Devem que ser permanentemente cuidadas. Por outro lado, os responsáveis políticos europeus têm a mesma disponibilidade.
A mudança de poder na Alemanha foi fundamental. A Chanceler Merkel valoriza a relação transatlântica e considera-a indispensável para a estabilidade mundial e a segurança europeia. O enfraquecimento do Presidente francês foi igualmente importante. E a relação transatlântica beneficiará se o próximo Presidente for Sarkozy. As lições da crise de 2002-2003 e a nova atitude de ambas as partes é importante mas não seria suficiente para fazer os “amigos” sentirem-se novamente aliados. O Iraque deixou de ser o tema dominante e emergiram ou regressaram outras questões e desafios igualmente cruciais.
Há uma questão que poderá causar problemas: a instalação de um sistema de mísseis defensivos na Polónia e na República Checa. Nota, no entanto, um grande cuidado de todos para evitar uma crise e resolver a situação de um modo consensual. O que demonstra, desde logo, que os líderes políticos têm uma grande margem para acalmar ou estimular uma crise potencial. Os países europeus desejam que a questão se resolva na NATO. Convinha, agora, que Washington tivesse a mesma posição e mostrasse que é na Aliança Atlântica, e não no plano bilateral, que os aliados ocidentais devem tratar das grandes questões da segurança europeia.
O que Putin veio dizer é que esta Europa ,depois de trair os EUA, veio meter-se debaixo do "urso", à conta da energia.Cá estou eu,uma grande potencia que vos tramo no Irão e na politica do Médio Oriente e satélites da Russia.Mandem lá o inefável Solana,que ele "trata"...
O alargamento europeu, constitui uma ameaça para a Russia, porque vê-se confrontada e limitada nas suas fronteiras com os seus antigos vizinhos satélites a passarem-se todos para o lado dos EUA, ou seja; se durante a Guerra Fria o muro de Berlim ainda tinha algum efeito tampão, agora nesta altura isso desapareceu. A Russia sente-se que actualmente tem á sua porta os americanos.Ao querer acabar com a antiga aliança Europa Ocidental/EUA, é sinal de algum isolamento. Isto é bom que se compreenda, porque o mundo corre o risco da Russia fazer alianças com os que não gostam do Ocidente e sabe-se, quem são, o Médio Oriente e nomeadamente o Irão e não só, como forma de fugir á sua decadência e isolamento. Navega-se em águas perigosas. As estratégias que estão a ser aplicadas pela Russia, segundo este artigo são do tempo do no séc.XIX, mas também são aceites por países conservadores em termos politicos como o Irão e outros.Atenção! Um país como a Rússia isolada pela maioria dos seus pares europeus o resultado não será muito interessante.
Os pequenos países europeus, incluindo obviamente Portugal, deveriam estar muito preocupados com a evolução da política externa da Rússia. No já célebre discurso de Munique, o Presidente Putin apresentou dois argumentos aos europeus. Em primeiro lugar, fez um dos ataques mais duros dos últimos anos ao “unilateralismo norte-americano”, o “principal responsável pelo aumento da insegurança global”. Em segundo lugar, avisou os países europeus que as suas escolhas estratégicas e as decisões das principais instituições a que pertencem, como a União Europeia e a Aliança Atlântica, devem ter em conta as posições da Rússia. No fundo, nada disto é novo. Moscovo procura, como sempre o fez desde 1945, afastar os europeus dos Estados Unidos. O fim da União Soviética não provocou uma ruptura absoluta nas visões estratégicas das elites russas. Os que estão hoje no poder na em Moscovo foram educados e formados nas principais instituições de segurança do Estado soviético e foi aí que aprenderam a olhar para o mundo. Isto não significa que se esteja a regressar aos tempos da Guerra Fria, como notaram alguns, de um modo exagerado e, acima de tudo, deslocado do tempo histórico. Mas há certos interesses estratégicos que não desapareceram. Um deles é separar os europeus dos norte americanos e acabar com a aliança ocidental. A receptividade ao discurso de Moscovo é facilitada pela oposição que existe na Europa a muitas das políticas do Presidente Bush. Putin entendeu e, naturalmente, explora a situação.
Acrescentava que o Presidente Putin avisou ainda que os europeus terão que pagar um preço por terem estendido a União até às fronteiras da Rússia, contra a vontade de Moscovo. Desde o fim da União Soviética, os sucessivos governos russos opuseram-se sempre aos alargamentos da Aliança Atlântica e da União Europeia. E não vale a pena ter a ilusão de que só o primeiro é que os incomodou. Uma União Europeia com uma verdadeira dimensão continental, alargada até à tradicional esfera de influência russa, é vista por muitos em Moscovo como uma ameaça estratégica. O raciocínio russo é o seguinte: o alargamento deu-se devido à fraqueza da Rússia e não como resultado de uma convergência de interesses, que nunca existiu. Agora, está na altura de apresentar a factura. O governo russo está absolutamente determinado em mostrar aos europeus que há um elevado preço a pagar pelo alargamento. Daí, a multiplicação de problemas com as repúblicas Bálticas, com a Polónia e com a República Checa. O facto de se ouvirem algumas vozes na Europa a falar dos “problemas polaco e checo” mostra o sucesso da estratégia russa.
O que a Rússia está a fazer, e o que Putin fez em Munique, é muito claro: está a tirar benefícios do anti-americanismo e de algum arrependimento em relação a um alargamento rápido que existem hoje na Europa. É por isso que a instalação de um sistema defensivo anti-missíl norte americano na Polónia e na República Checa se está a tornar numa questão política muito sensível. Juntam-se numa decisão estratégica a oposição russa à presença dos Estados Unidos na Europa e ao alargamento das instituições europeias.
As posições e os interesses russos revelam uma visão sobre a ordem política europeia. Para Moscovo, as grandes questões estratégicas e políticas da Europa devem decidir-se entre as grandes potências, ignorando a vontade dos pequenos países e das instituições. O grande objectivo estratégico da Rússia é a construção de um sistema político europeu à semelhança do século XIX, onde a igualdade entre os Estados não passava de uma aspiração e o multilateralismo institucional de um sonho de alguns tratados mais visionários. Foi contra este tipo de ordem política que se fez a União Europeia. E nunca como agora, os pequenos países tiveram os seus direitos e interesses reconhecidos. Estamos a chegar a um momento em que vai ser necessário tomar decisões estratégicas em relação à Rússia. Esperemos que não se ignore o essencial.
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