quarta-feira, novembro 28, 2007

AS LÁGRIMAS REPETIRAM-SE 35 ANOS DEPOIS

"Um ano ou dois antes do 25 de Abril de 1974, aurora da liberdade, a Rosa, mãe do Sérgio, com o seu irmão António (o Oliveira) e muitas outras crianças de Crestuma - teríamos sete ou oito anos - desde o recreio da nossa escola, entre o chuto na bola e o salto à corda, vimos ser enterrado um nosso conterrâneo morto na guerra do Ultramar. Com honras militares. Teria a idade do Sérgio. Não me recordo do nome. O cemitério era, e ainda é, contíguo à escola primária. A aldeia chorou. Nós, rapazes, fixávamos as lágrimas das mães. E temíamos - as mães temiam - que um dia seriam derramadas por um de nós. Servir a pátria era um destino. Mas, em 1974, prometeram que nem mais um soldado iria para a guerra. Passados 35 anos, mais ou menos, a aldeia voltou a chorar a morte de um filho soldado de Crestuma. Ao lado de Rosa. O mesmo cemitério. O mesmo recreio. Outros filhos de outras Rosas assistiram entre a bola e a corda . 35 anos depois. Tanto desenvolvimento na humanidade, e nenhuma a evolução."

Licínio Lima

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