terça-feira, novembro 27, 2007

OLHOS NO GABINETE, CORAÇÃO NA RUA

"Ai, os perigos do conformismo. Perante a intenção do dr. António Costa em se aliviar de uns avençados da Câmara de Lisboa, um deputado municipal do Bloco de Esquerda sugeriu logo o fim da coligação com o PS. Mais comedido, o lendário Carlos Marques, que também anda por ali, recordou somente que o despedimento de trabalhadores é "contra o nosso código genético". Nosso, do BE. Por azar, o homem que deu um vereador ao BE, Sá Fernandes em pessoa, despachou com relativo asco as ameaças de insurgência e, com medo de perder o pedacinho emprestado de influência, a concelhia local do Bloco emitiu um comunicado apaziguador e manso.

Nem o moralismo intransigente do BE resiste às comezinhas armadilhas do mando. Com uma única autarquia, os pupilos do dr. Louçã assistem com complacência às trapalhadas judiciais da autarca de Salvaterra, aliás típicas da classe. Com um pelouro na capital, vêem-se em risco de cisões e obrigados a embaraçosas cedências, aliás típicas dos partidos do "sistema".

A rigidez doutrinal do BE é inversamente proporcional ao poder de que dispõe. Nada de novo, portanto: à medida que aumenta o poder, é previsível que o BE se "normalize" e que o seu fanatismo fradesco sofra a contaminação "burguesa", o que justifica o dilema deles. Eis o dilema do eleitorado: deve--se, a título higiénico, votar em massa no BE? À cautela, é melhor não. Em teoria, um peso crescente do BE no regime tenderia a acabar com o "código genético" do BE. O problema é que, na prática, o BE acabaria antes com o "código genético" do regime
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Alberto Gonçalves

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