Belém e o país das rosas.
"A julgar pela irritação dos portugueses, o Portugal diário está mais próximo do cepticismo de Cavaco Silva do que do entusiasmo de Sócrates.
Primeiro foi o discurso laudatório do primeiro-ministro sobre as virtudes da obra feita. Depois foi o discurso prudente do Presidente da República sobre a urgência da obra por fazer. Entre o lirismo de Sócrates e o realismo de Cavaco Silva, eis a curta distância que separa o sucesso da crise. Em S. Bento, Portugal é uma referência na Europa e um exemplo de sucesso. Em Belém, Portugal é um País em dificuldade que olha com desconforto e atraso para a Europa desenvolvida. A julgar pela irritação que vai crescendo entre os portugueses, o Portugal diário está mais próximo do cepticismo de Cavaco Silva do que do entusiasmo de Sócrates.
No entanto, existe uma estranha perversidade no modo de entender os discursos de Belém e de S. Bento. Na distribuição informal de papéis, o Presidente da República parece agir enquanto “vigilante político” das acções do Governo. Em Belém vive o pólo passivo da política nacional. No elenco da República, o primeiro-ministro representa a figura do “déspota iluminado”. Em S. Bento vive o génio activo da política nacional. A consequência deste particular arranjo implica, desde logo, a menorização da Presidência da República e a supremacia do primeiro-ministro. Uma menorização que o Presidente disfarça através de uma distância calculada. Uma supremacia que o primeiro-ministro vai gerindo entre a habilidade e a ambiguidade.
Em termos políticos, o Presidente da República deve colocar-se na posição do “espectador imparcial”. E em função da observação activa e da avaliação real, o Presidente da República tem por dever agir politicamente enquanto consciência viva do regime. Entre a cooperação com o Governo e a compreensão dos portugueses, o Presidente da República deve optar pela ligação ao País. Eis a moral última da mensagem de Cavaco Silva.
De Belém para S. Bento, que dizer então da “cooperação estratégica”? Que é cada vez menos cooperação e cada vez mais estratégia. A “cooperação institucional” será certamente da conveniência da República. No entanto, a acção política do primeiro-ministro está dependente da gestão do ciclo eleitoral e tenderá por isso a adoptar uma estratégia de curto prazo. A acção política do Presidente da República terá por base o sentimento político dos portugueses e os interesses do País, logo tenderá para uma estratégia de longo prazo. Sócrates é refém do curto prazo e Cavaco Silva não pretende ser refém de Sócrates. E subitamente a “cooperação estratégica” desapareceu do imaginário político."
Carlos Marques de Almeida
Primeiro foi o discurso laudatório do primeiro-ministro sobre as virtudes da obra feita. Depois foi o discurso prudente do Presidente da República sobre a urgência da obra por fazer. Entre o lirismo de Sócrates e o realismo de Cavaco Silva, eis a curta distância que separa o sucesso da crise. Em S. Bento, Portugal é uma referência na Europa e um exemplo de sucesso. Em Belém, Portugal é um País em dificuldade que olha com desconforto e atraso para a Europa desenvolvida. A julgar pela irritação que vai crescendo entre os portugueses, o Portugal diário está mais próximo do cepticismo de Cavaco Silva do que do entusiasmo de Sócrates.
No entanto, existe uma estranha perversidade no modo de entender os discursos de Belém e de S. Bento. Na distribuição informal de papéis, o Presidente da República parece agir enquanto “vigilante político” das acções do Governo. Em Belém vive o pólo passivo da política nacional. No elenco da República, o primeiro-ministro representa a figura do “déspota iluminado”. Em S. Bento vive o génio activo da política nacional. A consequência deste particular arranjo implica, desde logo, a menorização da Presidência da República e a supremacia do primeiro-ministro. Uma menorização que o Presidente disfarça através de uma distância calculada. Uma supremacia que o primeiro-ministro vai gerindo entre a habilidade e a ambiguidade.
Em termos políticos, o Presidente da República deve colocar-se na posição do “espectador imparcial”. E em função da observação activa e da avaliação real, o Presidente da República tem por dever agir politicamente enquanto consciência viva do regime. Entre a cooperação com o Governo e a compreensão dos portugueses, o Presidente da República deve optar pela ligação ao País. Eis a moral última da mensagem de Cavaco Silva.
De Belém para S. Bento, que dizer então da “cooperação estratégica”? Que é cada vez menos cooperação e cada vez mais estratégia. A “cooperação institucional” será certamente da conveniência da República. No entanto, a acção política do primeiro-ministro está dependente da gestão do ciclo eleitoral e tenderá por isso a adoptar uma estratégia de curto prazo. A acção política do Presidente da República terá por base o sentimento político dos portugueses e os interesses do País, logo tenderá para uma estratégia de longo prazo. Sócrates é refém do curto prazo e Cavaco Silva não pretende ser refém de Sócrates. E subitamente a “cooperação estratégica” desapareceu do imaginário político."
Carlos Marques de Almeida
5 Comments:
Realmente as "rosas" nunca foram tantas nem tão belas para alguns. Infelizmente, e, penso eu por culpa de políticas e leis cegas, os espinhos já são muitos mais, e qualquer dia (próximo) este povo que tem fama de ordeiro e sereno será obrigado a outras medidas, e alguém vai sofrer!
Talvez seja necessária CSilva abandonar os "punhos de renda" e começar a chamar os bois pelos nomes ... é que 2008 será o ano do "vamos contar mentiras"!
De facto há limites para tudo e nem semnpre o valor da remuneração mensal ou anual constitui o melhor incentivo ou o incentivo necessário. Como se pode entender que um Administrador do BCP vá auferir mais de 200.000 euros mensais ? Num País onde o salário mínimo é de 426,00 euros e milhares de pensões nem aos 300,00 euros chegam ? É uma questão de moral quanto mai não seja ! Que um Administrador possa ter uma remuneração de 10 ou 15 mil euros mensais, acrescida aos benefícios de carro, mais despesas de representação que não deviam exceder 30% da remuneração mensal ainda vá que não vá. Mas para além disto é um escândalo ! Sobretudo em empresas com comparticipação de capitais públicos. Como também é um escândalo que Vereadores e Administradores de empresas autárquicas possam ter mais de 3 assessores. Por vezes o número de assessores ultrapassa por vereador a dezena e muitos desses nem põem os pés no trabalho nem ninguém lhes vê a cara!
O País é sereno e, desde há muito, que ouço dizer que há uma "cooperação estratégica" entre Palácios. Não me venham agora dizer que Belém e SBento não se entendem... Agora que 2008 vai ser uma ano de "lamber feridas"...quem duvida ? Quer um quer outro dos inquilinos palacianos quer ser re-eleito... O resto...é para inglês ver !
Seria impossível não haver pontos de vista divergentes entre Belém e S. Bento. O PR tem dado o mote e a direcção a ser percorrida, de acordo como as opções prioritárias de um País em desespero. Tem colaborado e participado. O PM tem enveredado em V, cada vez mais distanciado dos interesses do País. Os percursos são dois destinos muito longe um do outro. É impreterível que vejamos não estarmos a caminhar para terrenos seguros e sólidos mas sobre outros em ruína, à beira do precipício. Portugal não tem um Presidente da República qualquer. Tem um Homem sério, experiente e acreditado que sabe analisar, organizar e concluir. Na verdade esta III República está muito longe de o merecer. Então não tem desculpa quando ou se nos despenharmos. É necessário dignificar o País e o seu Povo e internacionalmente, o Estado Português. Para isso temos de mudar. Já.
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