O bom petróleo
"Há menos de um mês, quando o petróleo atingiu os 100 dólares por barril, o país não falou de outra coisa.
Hoje a excitação é menor: os 101,32 dólares já não provocam tanto espanto, apenas o medo de que a escalada continue a marcha em frente. Na altura do primeiro recorde, o Diário Económico publicou uma foto de uma família que colocara no jardim todos os produtos fabricados com petróleo ou que precisavam de combustível. Não faltava nada, estava lá tudo: brinquedos, roupas, carros, telemóveis, sabão – um verdadeiro bazar que ia do pequeno agrafo ao potente jipe citadino 4x4. Não sobrava espaço na fotografia. Havia até comida: são precisos sete litros de petróleo para fazer um quilo de carne. A conclusão era impressionante. Com o crude a preços estrelares, das três uma: ou estoiram os orçamentos familiares; ou rebenta o mundo; ou então mudamos de hábitos e tornamo-nos ascetas.
Será mesmo assim?
Os catastrofistas dizem que sim e aproveitam para culpar a globalização, mãe de todos os males para estes adoradores da mãe natureza, como lhes chama o economista Martin Wolf. A tentação de impor uma sociedade de crescimento zero é o passo seguinte destes alarmistas, que interpretam tudo como um sinal de que o fim está próximo. Felizmente esta visão negra é manifestamente exagerada. É verdade que o petróleo nunca esteve tão caro. É verdade que, desde 2003, o preço já se multiplicou por três. É também indesmentível que o consumo mundial – associado à bulimia americana e ao crescimento chinês e indiano –, também deu um salto sem paralelo e que vai manter a velocidade torpedo: nos próximos 15 anos, o consumo crescerá 50%. Finalmente, confirma-se que os problemas geopolíticos (Irão, Iraque, Venezuela) e geológicos (poucos investimentos em novas explorações na década de 90) tornam a economia mais vulnerável aos movimentos especulativos. Com a produção e o consumo alinhados, a especulação aproveita o medo para ganhar uns dólares a mais e compensar as perdas noutros negócios atingidos pelo ‘subprime’.
Dito isto, sobram as boas notícias. Se é verdade que, no curto prazo, não há muito a fazer, a história recente aponta o caminho. Nos anos 80, quando o petróleo atingiu os 39,50 dólares, logo se vislumbrou a morte do nosso saboroso modo de vida. Petróleo e moralismo andam juntos como pão e manteiga. Não foi assim: as petrolíferas investiram na pesquisa de novos poços, as pessoas reduziram o consumo (carros mais pequenos) e os estados apostaram no nuclear e começaram a pensar noutras fontes de energia. Os grandes estados produtores de crude sabem-no bem: se o preço sobe demais, o estímulo à procura de alternativas recebe o incentivo adequado. O etanol, feito a partir de açúcar, milho ou batatas, está cada vez mais em voga. As boas notícias não ficam por aqui: com o petróleo a 100 dólares, a pesquisa de crude nas areias do Canadá, no Árctico ou nas profundezas do Golfo do México passa a ser economicamente justificável. Os custos de exploração deixam de ser de um ou dois dólares por barril, passam a 20 ou 30, mas a margem e a procura justificam o investimento. Ou seja, a concorrência estimulada pela globalização é a resposta certa aos obstáculos. O mundo está longe de acabar tal qual o conhecemos. Ainda bem. O mercado funciona. Viva o mercado. "
André Macedo
Hoje a excitação é menor: os 101,32 dólares já não provocam tanto espanto, apenas o medo de que a escalada continue a marcha em frente. Na altura do primeiro recorde, o Diário Económico publicou uma foto de uma família que colocara no jardim todos os produtos fabricados com petróleo ou que precisavam de combustível. Não faltava nada, estava lá tudo: brinquedos, roupas, carros, telemóveis, sabão – um verdadeiro bazar que ia do pequeno agrafo ao potente jipe citadino 4x4. Não sobrava espaço na fotografia. Havia até comida: são precisos sete litros de petróleo para fazer um quilo de carne. A conclusão era impressionante. Com o crude a preços estrelares, das três uma: ou estoiram os orçamentos familiares; ou rebenta o mundo; ou então mudamos de hábitos e tornamo-nos ascetas.
Será mesmo assim?
Os catastrofistas dizem que sim e aproveitam para culpar a globalização, mãe de todos os males para estes adoradores da mãe natureza, como lhes chama o economista Martin Wolf. A tentação de impor uma sociedade de crescimento zero é o passo seguinte destes alarmistas, que interpretam tudo como um sinal de que o fim está próximo. Felizmente esta visão negra é manifestamente exagerada. É verdade que o petróleo nunca esteve tão caro. É verdade que, desde 2003, o preço já se multiplicou por três. É também indesmentível que o consumo mundial – associado à bulimia americana e ao crescimento chinês e indiano –, também deu um salto sem paralelo e que vai manter a velocidade torpedo: nos próximos 15 anos, o consumo crescerá 50%. Finalmente, confirma-se que os problemas geopolíticos (Irão, Iraque, Venezuela) e geológicos (poucos investimentos em novas explorações na década de 90) tornam a economia mais vulnerável aos movimentos especulativos. Com a produção e o consumo alinhados, a especulação aproveita o medo para ganhar uns dólares a mais e compensar as perdas noutros negócios atingidos pelo ‘subprime’.
Dito isto, sobram as boas notícias. Se é verdade que, no curto prazo, não há muito a fazer, a história recente aponta o caminho. Nos anos 80, quando o petróleo atingiu os 39,50 dólares, logo se vislumbrou a morte do nosso saboroso modo de vida. Petróleo e moralismo andam juntos como pão e manteiga. Não foi assim: as petrolíferas investiram na pesquisa de novos poços, as pessoas reduziram o consumo (carros mais pequenos) e os estados apostaram no nuclear e começaram a pensar noutras fontes de energia. Os grandes estados produtores de crude sabem-no bem: se o preço sobe demais, o estímulo à procura de alternativas recebe o incentivo adequado. O etanol, feito a partir de açúcar, milho ou batatas, está cada vez mais em voga. As boas notícias não ficam por aqui: com o petróleo a 100 dólares, a pesquisa de crude nas areias do Canadá, no Árctico ou nas profundezas do Golfo do México passa a ser economicamente justificável. Os custos de exploração deixam de ser de um ou dois dólares por barril, passam a 20 ou 30, mas a margem e a procura justificam o investimento. Ou seja, a concorrência estimulada pela globalização é a resposta certa aos obstáculos. O mundo está longe de acabar tal qual o conhecemos. Ainda bem. O mercado funciona. Viva o mercado. "
André Macedo
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