O grande jogo
"As primárias republicanas tiveram a invulgar virtude de nos colocar perante os grandes desafios da democracia liberal neste século.
Há dois meses recomendei que apostassem em Obama e McCain nos mercados de futuros políticos. Nesta altura é demasiado tarde para a especulação financeira, mas temos ainda tempo de nos ocupar da especulação teórica. Esta espantosa campanha merece uma análise original.
As primárias republicanas tiveram a invulgar virtude de nos colocar perante os grandes desafios da democracia liberal neste século. McCain insiste em que o extremismo islâmico continua a ser a grande ameaça à democracia. Romney falou abertamente da singularidade tecnológica que se aproxima e da ameaça do capitalismo de estado, sobretudo na sua versão chinesa. Qual será o futuro das nossas sociedades se a filosofia política e económica do século passado tiver errado ao associar crescimento económico e liberdade? O antigo capitalista de risco é hoje um político de inteligência muito superior à média da classe e percebeu a importância desta pergunta. Sabemos o poder que o novo modo de vida chinês exerce sobre a juventude chinesa e ocidental, sem democracia ou liberalismo.
Seria uma excelente ideia se McCain, que merece a nomeação mais do que ninguém, ultrapassasse a enorme antipatia pessoal que o separa de Romney e lhe enviasse um convite para candidato vice-presidencial. Ficarei desiludido com qualquer outra escolha.
Obama, como escrevi antes, continua a introduzir ideias inteiramente novas na discussão política americana. Não há grande retórica sem uma maneira diferente de olhar para as coisas. Mas vejamos o que esta revolução significa. Obama, como se sabe, criticou a guerra iraquiana desde o início. Se a guerra foi uma boa ou má ideia é nesta altura um julgamento intelectual que o candidato se recusa a sacrificar à realidade da invasão, do desaparecimento de Saddam e da presença americana no Iraque. Mas o reino das ideias existe fora da história. Obama decide política como alguém que corrige uma equação ou um ensaio literário.
Em questões económicas encontramos a mesma falta de sentido histórico. Obama, para citar as suas palavras, quer mover os lucros da globalização dos balanços das multinacionais para o bolso dos trabalhadores. Esquece que a globalização e os seus lucros desapareceriam no dia em que esta transferência fosse tentada. A riqueza há muito que deixou de ser cunhada em dobrões de ouro, por muito que este novo pirata romântico, mistura de Johnny Depp e Robin Hood, se convença do contrário. Tudo o que Romney sabe sobre o carácter tecnológico do nosso mundo é um fantasma distante para Obama."
Bruno Maçães
Há dois meses recomendei que apostassem em Obama e McCain nos mercados de futuros políticos. Nesta altura é demasiado tarde para a especulação financeira, mas temos ainda tempo de nos ocupar da especulação teórica. Esta espantosa campanha merece uma análise original.
As primárias republicanas tiveram a invulgar virtude de nos colocar perante os grandes desafios da democracia liberal neste século. McCain insiste em que o extremismo islâmico continua a ser a grande ameaça à democracia. Romney falou abertamente da singularidade tecnológica que se aproxima e da ameaça do capitalismo de estado, sobretudo na sua versão chinesa. Qual será o futuro das nossas sociedades se a filosofia política e económica do século passado tiver errado ao associar crescimento económico e liberdade? O antigo capitalista de risco é hoje um político de inteligência muito superior à média da classe e percebeu a importância desta pergunta. Sabemos o poder que o novo modo de vida chinês exerce sobre a juventude chinesa e ocidental, sem democracia ou liberalismo.
Seria uma excelente ideia se McCain, que merece a nomeação mais do que ninguém, ultrapassasse a enorme antipatia pessoal que o separa de Romney e lhe enviasse um convite para candidato vice-presidencial. Ficarei desiludido com qualquer outra escolha.
Obama, como escrevi antes, continua a introduzir ideias inteiramente novas na discussão política americana. Não há grande retórica sem uma maneira diferente de olhar para as coisas. Mas vejamos o que esta revolução significa. Obama, como se sabe, criticou a guerra iraquiana desde o início. Se a guerra foi uma boa ou má ideia é nesta altura um julgamento intelectual que o candidato se recusa a sacrificar à realidade da invasão, do desaparecimento de Saddam e da presença americana no Iraque. Mas o reino das ideias existe fora da história. Obama decide política como alguém que corrige uma equação ou um ensaio literário.
Em questões económicas encontramos a mesma falta de sentido histórico. Obama, para citar as suas palavras, quer mover os lucros da globalização dos balanços das multinacionais para o bolso dos trabalhadores. Esquece que a globalização e os seus lucros desapareceriam no dia em que esta transferência fosse tentada. A riqueza há muito que deixou de ser cunhada em dobrões de ouro, por muito que este novo pirata romântico, mistura de Johnny Depp e Robin Hood, se convença do contrário. Tudo o que Romney sabe sobre o carácter tecnológico do nosso mundo é um fantasma distante para Obama."
Bruno Maçães
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