quinta-feira, fevereiro 07, 2008

O PRINCÍPIO DA HISTÓRIA

"Um destes dias, ouvi na rádio o eng. Sócrates classificar a transferência para a Câmara de Lisboa de uns terrenos até aqui geridos pela APL como um "momento histórico". De imediato, levantei-me e desatei a cantar o hino. Chegado ao "Entre as brumas da memória", calei-me. Primeiro, porque seguia de carro e é complicado conduzir em pé. Segundo, porque vários transeuntes me observavam com espanto. Terceiro, porque me ocorreu: mal sei o que é a APL, não percebo o dramatismo de um vulgar protocolo institucional e não tenho vida para interromper os meus afazeres e entoar A Portuguesa sempre que o eng. Sócrates decreta um "momento histórico".

Para ser sincero, não recordo uma semana em que o eng. Sócrates não tivesse feito História. Os pretextos não interessam. O Tratado Europeu, a Cimeira UE-África, a construção de um laboratório, o lançamento de três quilómetros de estrada, a entrega de computadores a criancinhas, a inauguração de uma biblioteca e o aniversário do sobrinho constituíram claríssimos momentos históricos. Definição de "momento histórico"? Qualquer evento em que o eng. Sócrates participe. Qualquer medida que o eng. Sócrates anuncie. Qualquer pensamento que atravesse o cerebelo do eng. Sócrates.

O eng. Sócrates convenceu-se de que a sua carreira enquanto governante é um prodígio que o povo devia observar com deleite. Desgraçadamente, e com outro género de deleite, o povo concentra-se na carreira anterior do homem, uma névoa que nem o próprio parece querer exibir. Mas essa é outra história, decerto sem maiúscula
."

Alberto Gonçalves

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