terça-feira, março 18, 2008

Direito ao fundo

"Não é novidade que o mundo está perigoso. Os próprios responsáveis políticos, sempre mais preocupados em travar ondas de pânico autofágicas do que em esvaziar bolhas especulativas – como a que provocou a crise actual – dão sinais crescentes de não fazer ideia de como reagir. É natural. As notícias que se lêem nos écrans das agências de notícias podem fazer temer o fim do mundo.

Uma amostra: crédito malparado e execuções de hipotecas nos Estados Unidos disparam 60% em Fevereiro; os juros em cerca de 880 mil milhões de dólares de hipotecas deverão subir até final de 2011 – dos quais metade este ano – aumentando os riscos de incumprimento; a Chrysler anunciava que vai encerrar totalmente durante duas semanas em Julho para cortar custos e travar prejuízos; o colosso Carlyle encerrou um fundo que foi obrigado a pagar 400 milhões de dólares em empréstimos feitos para investir em hipotecas; o dólar e o petróleo aceleravam as suas marchas de sentido oposto, quebrando novos recordes e mudando o mundo como o conhecíamos; já deste lado do Atlântico, o Banco Central Europeu indicava que o crescimento do continente será inferior à previsão anterior, e o próprio Vítor Constâncio arrefecia – gelava será um termo mais rigoroso – as expectativas, ao dizer à noite na televisão que, afinal, a economia portuguesa está condenada a mais 12 meses de crescimento anémico num ano que começou como o pior de sempre para quem investe na bolsa; boas notícias, apenas uma: a Standard & Poor’s dava um empurrão a Wall Street ao dizer que o fim da crise do ‘subprime’ estava já à vista. Na mesma notícia, alguém duvidava da capacidade de visão à distância da S&P, recordando a sua incapacidade para ver os buracos que se abriram debaixo do seu nariz. No mesmo fôlego, a S&P referia que, afinal, os prejuízos totais do ‘subprime’ para os maiores bancos mundiais deverão subir para 285 mil milhões de dólares.

Olhando para a sangria do dia e para a hemorragia acumulada – como os 700 mil milhões de dólares de perda no valor dos 40 maiores bancos mundiais desde o final do ano nos últimos meses.

Os planos, tratamentos e injecções das autoridades – FED, BCE, etc. – apenas servem de almofada para os ‘raiders’ mais ágeis irem fazendo mais-valias pontuais, subindo um ou outro degrau na escadaria da desgraça em que as economias ocidentais vão tropeçando em direcção a um subterrâneo cada vez mais escuro
. "

Pedro Marques Pereira

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