segunda-feira, março 17, 2008

Carta a um amigo sobre o desacordo ortográfico

Caro amigo:
A língua portuguesa não pode estar sujeita a sufrágios, a imposições e a falsos tratados baseados em hipocrisias e a homens que pouco honram o Estado português e a Pátria.
Hoje, defender determinados valores não é politicamente correcto e a acção política, assim como a acção de alguns políticos, diria que a quase totalidade, pautam-se por interesses alheios aos interesses da Nação e da Pátria que deveriam jurar defender.
Hoje juram a Constituição, não juram pela Pátria e meu amigo a Constituição é o que é, e vale o que vale.
Os regimes e os governos contingentes e fracos passam o tempo a queixar-se das heranças recebidas, de tal forma que hoje será ridículo este tipo de queixa, pois um bloco governa este país há cerca de 33 anos, alternativamente no país e de forma constante nas câmaras municipais das cores que se quiser.
A língua portuguesa não pode ser ditada por acordos em que se discutem primeiro os negócios do estado ou de particulares, diria que primeiro os particulares e depois os de estado.
Repare-se que uso o termo estado com minúscula, porque não confundo estado com Pátria, pois essa deve ser escrita com maiúscula.
O estado pode ser manipulado por alguns, como o é nos dias de hoje e a Pátria é perene, a Pátria é Portugal.
Devê-lo-ia ser com maiúscula, mas o que se perde em sentido, perde-se em razão.
Se quiser uma resposta, não alinho com acordos por maiorias que não existem, e mesmo que o sejam, não podem fazer fé.
Vou continuar a escrever como é meu entendimento como Português e se quiser, não me revejo em qualquer comunidade de língua oficial portuguesa, nem me sinto parte.
Apenas reconheço que se fala uma língua com várias variantes, mas daí a ter de aceitar, regras e imposições à escrita e à língua falada, vai uma distância intransponível e uma negação de princípio.
Não vou queimar os velhos dicionários, nem substituir hábitos de anos por acordos assinados por gente sem escrúpulos e sem sentido de honra à Pátria e à Língua Mãe.

Adriano Moreira, dizia em “O Novíssimo Príncipe”:
« A Pátria não tem processo de inocência. Reflecte todos os actos dos seus filhos. Cada geração volta ao pé da mesma terra e é recebida maternalmente sem distinção, seja qual for o legado que acrescentar à herança ou a delapidação que produziu.
A Pátria recebe tudo sem benefício de inventário como o nosso corpo recebe um tumor maligno e as árvores morrem do raio. Não vale a pena procurar esquecê-la, embora seja evidente que a tentativa é reprovável. Vai durar mais do que todos os que a exaltam ou ferem, e escreverá no seu livro a biografia dos seus filhos sem nada omitir.
O balanço geral de cada época, o patriotismo espera ter mais razões de orgulho do que de mágoa, e encontrar um saldo positivo ao serviço do género humano. A gesta dos descobrimentos, a unificação do globo, o desbravamento da África, a construção do Brasil, a angiografia, os primórdios da antropologia, o método experimental são a Pátria. D. Afonso Henriques, D. Nuno Álvares Pereira, o Infante Dom Henrique, Mouzinho de Albuquerque, D. João de Castro, Egas Moniz, são a Pátria. Também o são as brutalidades cometidas no Oriente, as entradas contra os índios, o trabalho forçado, a escravidão, os traidores de 1580, os heróis de 1640, e os desertores e os mortos da década de 60. Tudo lhe pertence e nos cabe. Para além de aprovar ou reprovar cada um dos elementos do inventário secular, a única alternativa é amá-la ou renegá-la. Mas ninguém pode ser autorizado a tentar a sua destruição, e a colocar o partido, a ideologia, o serviço de imperialismos estranhos, a ambição pessoal, acima dela. A Pátria não é um estribo. A Pátria não é um acidente. A Pátria não é uma ocasião. A Pátria não é um estorvo. A Pátria não é um peso. A Pátria é um dever entre o berço e o caixão, as duas únicas formas que tem para nos receber.”

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