segunda-feira, março 17, 2008

VIVA ZAPATERO?

"Em 2004, as eleições espanholas foram precedidas pelos atentados de Madrid. O governo do PP, que alertara para o perigo islâmico, que o combatera no Iraque e que à última hora se atrapalhou a fingir que a culpa era da ETA, foi derrotado. Em 2008, as eleições foram precedidas do atentado em Mondragón. O governo do PSOE, que negociara com uma ETA em frangalhos, que permitira a reorganização dos criminosos bascos e que, em cima das urnas, se atrapalhou a fingir que o combate ao terrorismo era uma prioridade socialista, foi reeleito. A história deve ter uma moral que me escapa.

Os factos não escapam. E os factos são os seguintes: apesar dos esforços de uns optimistas para se convencerem do contrário, Rajoy perdeu; apesar dos esforços dele próprio para conseguir o contrário, Zapatero ganhou. Sempre que os foguetes rebentam antes, Zapatero faz a festa depois. Da primeira vez, talvez a merecesse. Da segunda, nem por isso.

Ao longo da legislatura, e além de ressuscitar a ETA, o homem que fundamentou parte da campanha no formato das suas sobrancelhas abriu as portas à autonomia da Catalunha (e do que calhar), desenterrou os fantasmas da guerra civil e, aparentemente pelo gozo de continuar a irritar meia Espanha, aprovou o casamento de homossexuais e um programa de educação "cívica" que raia o cómico. Na política internacional, aproximou-se dos rústicos tiranos da América Latina e, à margem da Europa actual, afastou-se dos EUA. E até a economia, radiosa durante anos, decidiu nos últimos meses afundar-se. Eis um legado, a renovar por quatro anos graças aos votos bascos e catalães.

Para os entusiastas, Zapatero é um paradigma da modernidade, uma bolsa de resistência ao "imperialismo" e um luz apontada às trevas da Igreja. Para os críticos, trata-se de um radical que, com relativa contrariedade, cede às regras do mercado e, com vasta irresponsabilidade, consola a irreverência juvenil no resto. Mesmo uma perspectiva moderada concederá que a Espanha que conhecemos já teve melhores dias e mais promissor futuro. É com eles? Não é.

A reeleição de Zapatero, que garante a permanência e, suspeita-se, o aprofundamento da implosão espanhola, parece uma péssima notícia para o cantinho dependente que é Portugal. Em compensação, parece uma óptima notícia para o eng. Sócrates, feliz pelo sucesso de um dos seus "melhores amigos pessoais". Quanto ao nosso dilacerado coração, balança entre o que é bom para a pátria e o que é bom para o eng. Sócrates. Isto partindo do cínico princípio de que há uma diferença
."

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Suspeita-se?
Suspeita-se que apoia a independência da Catalunha e do País Basco.
Nos anos 30 do passado sécula quando da queda de Afonso XIII a Catalunha proclamou a indendência. Mas na altura havia crise económica e fome, muito mais que em Portugal. Espanha na altura era um país de miseráveis e pobres com fome.
Depois da ditadura de Primo de Rivera e com a vinda de Azaña que foi eleito, as pressões foram de todo o tipo. Provocando grandes descontentamentos, entre os militares, daí à guerra civil foi um passo.
Zapatero, não foi eleito pela Espanha, foi eleito pelos independentistas e pelos que pensam que vão continuar a ter uma Espanha próspera.
A festa acabou e a Espanha voltará a ser o que era, um grupo de estados nação, se a crise subprime, como se espera, provocar quebra na economia e não crescimento.
Esperemos que não seja pela via da guerra porque a Europa não tem forças armadas e os militares espanhóis não dormem.

segunda-feira, março 17, 2008  

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