segunda-feira, março 24, 2008

Plenitude da vida

Cardeal Patriarca de Lisboa considerou hoje que a noção de pecado incutiu no homem «o medo de morrer», alterando «a própria compreensão» da existência, com a morte a aparecer «como a negação da vida».

«A morte é um processo biológico normal e inevitável, que atinge toda a criação.
As consequências do pecado fizeram-se sentir na dimensão psicológica e espiritual da morte, ou seja, na maneira de viver a morte», disse D. José Policarpo na homilia do Pontifical da Ressurreição do Senhor, na Sé Patriarcal de Lisboa.
Entre as consequências do pecado surge «antes de mais, o medo de morrer», quando, «num quadro de justiça não manchada, a morte seria desejada como passagem para a plenitude definitiva da vida».
É necessário, assim, que se recupere «o verdadeiro sentido da vida», dado que será dessa forma que «se resgata a morte e se lhe restitui o sentido de passagem para a vida definitiva», disse D. José Policarpo, acrescentando que «o aspecto mais grave» da alteração verificada no sentido da vida e da morte «é o deixar de se acreditar na vida depois da morte».

Embora não seja fácil arrancar completamente do coração humano a esperança na vida depois da morte, há em todos os tempos, e hoje são muitos, homens e mulheres que vivem como se a vida acabasse na morte, o que altera profundamente o sentido da vida, a maneira como se vive», afirmou.

Neste contexto, «a morte e ressurreição de Cristo, porque liberta o homem do pecado, redime a morte do seu sentido dramático de fim de vida, e volta a dar-lhe o sentido da passagem para uma vida plena e definitiva».
Perante os cristãos que participaram na eucaristia do Dia de Páscoa, na Sé Catedral, D. José Policarpo considerou ainda que a ressurreição de Jesus Cristo «é o triunfo da vida».
«É o anúncio da nossa própria vitória sobre a morte», afirmou.
Aludindo às teses opostas do evolucionismo e do criacionismo, a propósito dos 150 anos de Darwin, D. José Policarpo disse que «o campo da ciência é, a partir da realidade conhecida e dos elementos que ela fornece, avançar na compreensão da forma como se foi formando o universo».
Já «a fé, baseada na Palavra revelada, acredita que o dinamismo que originou e presidiu a essa maravilhosa harmonia do universo, é a sabedoria criadora de Deus».

«Como ser espiritual, o homem é imagem de Deus; como ser corpóreo, faz parte do universo cósmico, a relação do homem com o universo para o transformar na casa da família humana é uma longa vigília, que tanto é contemplação da beleza, como exaltação da epopeia e consciência do drama».

Depois, deixou o alerta: «os avanços positivos da ciência, os progressos da civilização que ensinaram o homem a fruir da beleza da criação, conviveram com egoísmos ferozes, que continuam a pôr em risco a própria harmonia do universo».
Acrescentou que, «alonga caminhada da História da Salvação» as atitudes devem ser «desejar, escutar, acreditar, esperar».
A grande exigência deste período da caminhada é a exigência da fé», que torna obrigatória «a humildade da razão, a renúncia à autonomia da liberdade, a coragem da confiança», frisou.

Meus caros amigos, estas palavras, esqueçamos a questão de quem as pronuncia e a quem parecem ser dirigidas, mostram uma verdade, que não vale a pena escamotear.
A vida dos que são não crentes, no sentido estrito do termo, será uma existência feliz, ou melhor, será uma passagem, no melhor dos casos, fazendo a conta do deve e do haver, mais feliz, que num caso semelhante, à de um crente, se é que se pode fazer esta apreciação acerca de um ser humano?
Claro que se não pode fazer este tipo de comparação, mas sem juízo de valor, um crente, terá sempre a possibilidade de se levantar e se redimir, ficando aliviado por esse facto e acreditando sempre que a vida é uma passagem e acreditando, na plenitude da vida, aceitará a morte como parte da vida. Já a esperança de uma vida melhor e o medo da morte, não serão um peso demasiado, para todos os que desesperam na crença de que podiam afinal ter feito isto ou aquilo melhor ou poderiam ter levado uma existência mais feliz, quando encararem a morte?
Sei que pode parecer demasiado simplista este pensamento, mas quantos de nós, já não tentámos esconder as respostas as estas perguntas, pelo simples medo de pensar a morte, pelo mistério, que afinal, a vida na sua plenitude encerra?

Dostoievski, um autor cada vez mais lido, analisa os factos que nos levam a crer; compreende, as eternas lutas entre a crença e a descrença.
«Na sua juventude, Dostoievski era ateu e revolucionário; antes do exílio na Sibéria, tinha prescrutado os abismos da alma humana.
Durante o exílio, converteu-se a uma espécie de fé popular mística que, em última análise, via no povo russo o depositário de deus e uma nação-igreja.
Os impulsos da crença e de descrença dos quais nunca se livrou inteiramente, andavam lado a lado, no seu pensamento.
Numa carta a um amigo afirmava:
“ Considero-me uma criança vinda de uma época de descrença e de dúvida; é provável que seja assim até que morra. O desejo de crer sempre me torturou até ao dia de hoje; quanto mais dificuldades intelectuais enfrento, mais forte é o desejo.
(…) Se Cristo fosse mentira, se a verdade estivesse além d’Ele, mesmo assim preferia ficar com Cristo do que ficar com a verdade”»
“Em a morte de Deus”T. Altizer e W. Hamilton

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