Mais decisões, menos ideias.
"A geração que se quis ínclita não passa, afinal, de um prosaico grupo de gente fina que se serve da “arte” do “corte e cola” para elaborar um qualquer “paper” sem originalidade nem paixão.”
Quando os partidos políticos, cada vez mais fragilizados, procuram, todavia, exaurir o espaço de intervenção democrática da sociedade civil, é, naturalmente, de saudar o surgimento de iniciativas que, fora ou para além dos partidos, procuram questionar os interesses prevalecentes na política do país e, mais, descortinar (ou afirmar) uma outra perspectiva da coisa pública. Ora o descontentamento, senão a angústia, que o viver em Portugal nos últimos anos tem gerado aos mais diversos níveis, leva a melhor compreender o surgimento de movimentos reivindicativos quer no plano sócio-profissional, quer no domínio económico e, até, cultural. O que tudo é sinal de vitalidade cívica e, logo, promissor de um outro possível modo de ser.
É inegável que há mais mundo a descobrir longe deste, amorfo, em que sobrevivemos. Para lá chegar, é preciso, porém, planos de batalha e espírito de conquista muito mais do que ocasional voluntarismo.
Serve este intróito para exprimir o interesse com que li e ouvi as afirmações iniciais do grupo cívico “NOVO PORTUGAL – Opções de uma geração sete desígnios para Portugal”. Depressa, porém, se esfumaram quaisquer esperanças porquanto se evidenciou a traços indeléveis que o protagonista desse movimento não é o país – e o seu futuro – mas os seus empreendedores – e os seus interesses.
E assim não vale.
A geração que se quis ínclita não passa, afinal, de um prosaico grupo de gente fina que se serve da “arte” do “corte e cola” para elaborar um qualquer “paper” sem originalidade nem paixão. E quando isto falta aos que têm até 45 anos… nem a imprensa toda, de cócoras, a apoiá-los (graciosamente?) faz mudar o mundo.
Não interessa, aqui, donde vêm estas mentes jovens, mas é fulcral saber para onde querem ir. E aos quesitos, até agora, nada disseram, ou, pelo menos, nada de novo saiu para a sociedade.
Enquanto isso, tive ocasião de ler um documento, publicado em livro sob a direcção de Jacques Attali, cujo conteúdo o seu título enunciava com vigor “300 décisions pour changer la France”. No prefácio refere-se que quarenta e dois cidadãos, de convicções politicas diferentes e de vários países se reuniram entre Agosto de 2007 e Janeiro 2008 para reflectiram em conjunto, com plena liberdade, sobre como libertador as energias dos franceses para um futuro melhor. Não é um breviário de diagnósticos já mastigados, nem um catecismo de boas maneiras – tal livro expõe e defende decisões – 300 decisões – que, segundo o grupo, deverão ser tomadas pelos governantes franceses. E a pluralidade ideológica e a credibilidade intelectual dos seus autores bem justificariam que as mentes jovens e, sem dúvida brilhantes, do lusitano rectângulo ai mergulhassem antes de anunciarem os seus propósitos redentores, mas inócuos.
Nós, portugueses, nos nossos brandos costumes, farpeamos cristamente os touros. Outros matam-nos. Questão moral? Talvez, mas, também, consequências de ideias atarracadas, de vontades efémeras e de convicções preguiçosas (e presunçosas) de que, lá no fim da tragedia, haverá sempre quem nos sustente sem termos de nos esforçar muito."
António Vilar
Quando os partidos políticos, cada vez mais fragilizados, procuram, todavia, exaurir o espaço de intervenção democrática da sociedade civil, é, naturalmente, de saudar o surgimento de iniciativas que, fora ou para além dos partidos, procuram questionar os interesses prevalecentes na política do país e, mais, descortinar (ou afirmar) uma outra perspectiva da coisa pública. Ora o descontentamento, senão a angústia, que o viver em Portugal nos últimos anos tem gerado aos mais diversos níveis, leva a melhor compreender o surgimento de movimentos reivindicativos quer no plano sócio-profissional, quer no domínio económico e, até, cultural. O que tudo é sinal de vitalidade cívica e, logo, promissor de um outro possível modo de ser.
É inegável que há mais mundo a descobrir longe deste, amorfo, em que sobrevivemos. Para lá chegar, é preciso, porém, planos de batalha e espírito de conquista muito mais do que ocasional voluntarismo.
Serve este intróito para exprimir o interesse com que li e ouvi as afirmações iniciais do grupo cívico “NOVO PORTUGAL – Opções de uma geração sete desígnios para Portugal”. Depressa, porém, se esfumaram quaisquer esperanças porquanto se evidenciou a traços indeléveis que o protagonista desse movimento não é o país – e o seu futuro – mas os seus empreendedores – e os seus interesses.
E assim não vale.
A geração que se quis ínclita não passa, afinal, de um prosaico grupo de gente fina que se serve da “arte” do “corte e cola” para elaborar um qualquer “paper” sem originalidade nem paixão. E quando isto falta aos que têm até 45 anos… nem a imprensa toda, de cócoras, a apoiá-los (graciosamente?) faz mudar o mundo.
Não interessa, aqui, donde vêm estas mentes jovens, mas é fulcral saber para onde querem ir. E aos quesitos, até agora, nada disseram, ou, pelo menos, nada de novo saiu para a sociedade.
Enquanto isso, tive ocasião de ler um documento, publicado em livro sob a direcção de Jacques Attali, cujo conteúdo o seu título enunciava com vigor “300 décisions pour changer la France”. No prefácio refere-se que quarenta e dois cidadãos, de convicções politicas diferentes e de vários países se reuniram entre Agosto de 2007 e Janeiro 2008 para reflectiram em conjunto, com plena liberdade, sobre como libertador as energias dos franceses para um futuro melhor. Não é um breviário de diagnósticos já mastigados, nem um catecismo de boas maneiras – tal livro expõe e defende decisões – 300 decisões – que, segundo o grupo, deverão ser tomadas pelos governantes franceses. E a pluralidade ideológica e a credibilidade intelectual dos seus autores bem justificariam que as mentes jovens e, sem dúvida brilhantes, do lusitano rectângulo ai mergulhassem antes de anunciarem os seus propósitos redentores, mas inócuos.
Nós, portugueses, nos nossos brandos costumes, farpeamos cristamente os touros. Outros matam-nos. Questão moral? Talvez, mas, também, consequências de ideias atarracadas, de vontades efémeras e de convicções preguiçosas (e presunçosas) de que, lá no fim da tragedia, haverá sempre quem nos sustente sem termos de nos esforçar muito."
António Vilar
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